O cineasta e artista visual norte-americano Kenneth Anger, cuja obra experimental “lançou as bases para a arte de vanguarda do final do século XX”, morreu aos 96 anos, revelou esta quarta-feira a galeria de arte Spruth Magers.
Em comunicado, sem adiantar data e local da morte, aquela galeria de arte referiu-se ao desaparecimento de “um realizador visionário”, cuja “genialidade cinematográfica e influência irão marcar todos os que se cruzarem com os seus filmes, palavras e imaginação”.
Kenneth Anger, que nasceu em 1927 em Santa Mónica, na Califórnia, é descrito pelo jornal The Guardian como “uma lenda de Hollywood”, por ter criado “alguns dos mais perturbadores, deslumbrantes, doidos e influentes filmes de sempre”.
Anger deixa cerca de trinta filmes, todos eles curtas-metragens, produzidas entre os anos 1940 e 2013, destacando-se “Fireworks” (1947) e “Scorpio Rising” (1963).
“Fireworks” é considerado “o primeiro filme de narrativa homossexual produzido nos Estados Unidos”, escreve a revista Variety, e valeu a Kenneth Anger um processo em tribunal, acusado de obscenidade.
“Scorpio Rising”, que convoca os temas da homossexualidade, oculto, cristianismo e nazismo, ficou marcado sobretudo pela utilização da música como elemento principal, já que não tinha diálogos, à semelhança da maioria dos seus filmes.
The Guardian escreve que este filme “é capaz de ter uma das melhores bandas sonoras pop da história do cinema”, com músicos como Elvis Presley, Ray Charles e Ricky Nelson, e que “mais tarde encorajou Martin Scorsese e David Lynch a usarem canções pop para contar uma história”.
A par do cinema, Kenneth Anger também ficou célebre pelo polémico livro “Hollywood Babylon” (1959), que reunia informações sobre escândalos de celebridades da indústria do entretenimento na primeira metade do século XX, envolvendo, por exemplo, Charles Chaplin, Judy Garland e Marilyn Monroe.
Para a galeria Spruth Magers, o trabalho de Kenneth Anger “moldou a estética das subculturas dos anos 1960 e 1970, o léxico visual da pop, dos videoclips e da iconografia queer”.
Em 2009, a Galeria Zé dos Bois, com a Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, e a Fundação de Serralves, no Porto, homenagearam Kenneth Anger, num programa que conjugou a retrospetiva da obra do cineasta, uma exposição de artes visuais, uma conferência dedicada à sua obra e um programa de concertos.
Na abertura do ciclo de cinema, em maio desse ano, Kenneth Anger esteve na Cinemateca Portuguesa, para apresentar as curtas-metragens “Lucifer Rising”, “Inauguration Of The Pleasure Dome”, “Fireworks” e “Ich Will!”.