Os juros dos depósitos estão a subir, devagar, mas já estão em máximos de 15 anos e o governador do Banco de Portugal diz que não se deve “empurrar” os bancos para pagarem muito mais pelos depósitos dos clientes. Mário Centeno disse esta sexta-feira que “espera” que as taxas dos depósitos “continuem a aumentar” mas avisa que não devem existir “quimeras” nesta matéria – e o Banco de Portugal não parece estar disponível para pressionar os bancos a comercializarem certificados de aforro aos seus balcões, como admite a legislação recentemente aprovada pelo Governo.

Questionado pelo Observador, na conferência de imprensa de apresentação do Boletim Económico de Junho, Mário Centeno desvalorizou a questão em torno dos bancos negociarem com o Estado a distribuição de certificados de aforro. Essa distribuição passou a estar prevista na lei, e poderia contribuir para aumentar a concorrência e estimular os juros dos depósitos, mas os bancos têm-se mostrado pouco interessados em comercializá-los (a troco de uma comissão paga pelo Estado).

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O Banco de Portugal veria com bons olhos que os bancos fizessem essa comercialização? “Em quatro meses foram vendidos em euros 8,5 mil milhões de certificados de aforro, pelo que creio que nenhum português teve dificuldades em comprar“, respondeu Centeno, defendendo que “só nos devemos preocupar com estas coisas quando há algum entrave”.

Não vejo que haja nenhum problema na colocação de certificados de aforro e acho que nos devíamos centrar noutros debates, não é um debate relevante para a economia portuguesa.

De todo o modo, Mário Centeno pede que não se “empurre” os bancos para remunerações de depósitos que sejam insustentáveis. “Nos dois ou três anos anteriores à crise da dívida soberana, os bancos ofereciam remunerações muito apetecíveis [usando a palavra de uma jornalista], mas isso era apenas um reflexo dos problemas que a banca enfrentava“.

Nos primeiros quatro meses deste ano, registou-se uma diminuição de depósitos bancários de 8 mil milhões, subscrição de 8,5 mil milhões de certificados de aforro, crescimento de 700 milhões em outras aplicações de poupança e investimento, e amortizaram-se empréstimos à habitação num valor que excede o valor de 2022 em 1,3 mil milhões de euros. Tudo somado que no seu agregado as famílias mantiveram uma capacidade de geração de poupança positiva nos primeiros quatro meses deste ano”, diz Mário Centeno.

“Nós hoje temos bancos bem capitalizados, com níveis de risco e exposição ao risco. Queremos, sobretudo, ter uma banca sustentável que possa estar ao serviço do país, coisa que há muito pouco tempo não estava“, afirmou Mário Centeno, notando que “em 2016 o rácio de crédito malparado na banca em Portugal era de 17%, o espelho dos anos não muito virtuosos da banca e economia em Portugal. Hoje esse número está próximo de 3%, próximo da área do euro sobretudo se descontarmos aquilo que está aprovisionado”.

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