A caminho de Chisinau (Moldávia), para a II Cimeira da Comunidade Política Europeia, o primeiro-ministro fez uma paragem em Budapeste para assistir à final da Liga Europa que colocou frente a frente Sevilha e Roma, a 31 de maio. Na Puskás Aréna, onde decorreu a partida, António Costa esteve sentado ao lado do primeiro-ministro da direita conservadora e nacionalista, Viktor Orbán, na tribuna de honra. Esta deslocação não foi colocada na sua agenda pública.
O Observador questionou o gabinete do primeiro-ministro sobre o motivo desta deslocação e também sobre as razões para a participação no encontro não ter sido pública, como acontece noutras situações do género, mas não obteve resposta. O primeiro-ministro viajou diretamente de Lisboa para Budapeste, tendo chegado uns minutos atrasado ao jogo onde o esperava Viktor Orbán. A imagem a que o Observador teve acesso mostra o primeiro-ministro português sentado à direita do homólogo húngaro durante o jogo que foi ganho pelo Sevilha — o português José Mourinho, treinador do Roma, saiu derrotado.
De acordo com as informações recolhidas pelo Observador, o primeiro-ministro terá viajado num voo da Força Área, mais concretamente num Falcon 50, e seguiu, no final do jogo, para a Moldávia onde tinha agenda logo na manhã seguinte. Orbán também esteve nessa cimeira que terminou no mesmo dia.
A visita foi vista, por alguns dos presentes no evento em que esteve o primeiro-ministro português, como um ato de uma campanha de promoção europeia de António Costa. Recorde-se que o próprio tem negado sempre a possibilidade de interromper o mandato no Governo em 2024 para seguir uma carreira europeia — no passado já recusou uma candidatura a presidente do Conselho Europeu. O gosto por essa frente é, aliás, frequentemente associado a Costa, que é um dos nomes fortes do lado dos socialistas europeus para ocupar altos cargos nas instituições europeias. Uma outra tese que circulava entre os presentes no evento é que António Costa teria pedido para ir ao jogo por o treinador de uma das equipas da final ser o português José Mourinho.
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Um ‘amigo’ húngaro que é um embaraço
António Costa tem mantido uma relação próxima com Orbán e, em 2020, quando estava a ser negociada a disponibilização de fundos europeus para apoiar os estados-membros no pós pandemia, foi um dos líderes europeus com quem teve uma reunião preparatória do Conselho Europeu onde tudo se decidiria. Na altura a Hungria era uma peça de bloqueio, com alguns estados membros (sobretudo do norte de Europa) a fazerem do respeito pelo Estado de Direito uma condição para o acesso aos fundos — o que implicava com o líder húngaro. A visita suscitou polémica, com Costa a sair de Budapeste a defender que as águas não fossem misturadas: o primeiro-ministro português tinha pressa no sucesso do acordo no Conselho Europeu que se seguiria naquela mesma semana.
Productive working lunch with PM Viktor Órban with a frank exchange of views that facilitates an agreement at the #EUCO on 17-18 July. pic.twitter.com/L6uLQj3c3A
— António Costa (@antoniocostapm) July 14, 2020
Na final da Liga Europa, o primeiro-ministro português escapou às fotografias das agências que fotografaram a tribuna antes e depois do jogo começar. António Costa chegou já depois dos hinos e foi-se embora logo a seguir ao apito final, sem ficar para ver a parte em que José Mourinho atirou a medalha de vencido para a bancada nem a entrega do troféu ao Sevilha. Isso ajudou a que não haja registos fotográficos profissionais do primeiro-ministro no encontro. Como não revelou o encontro na agenda oficial, nem publicou qualquer fotografia da partida, o facto de ir ver ao jogo ficou fora do conhecimento público e não foi noticiado. Até agora.
Ser visto ao lado de Viktor Orbán podia provocar um particular embaraço, ainda para mais depois de o secretário-geral-adjunto do PS, João Torres, ter dito esta semana que o PS tem existido “não apenas em Portugal, mas em todo o mundo” um “ataque muito focado, muito orientado, muito manietado ao PS, à sua imagem, ao seu legado, à sua governação em termos que, do meu ponto de vista, não são próprios nem aceitáveis em democracia”.
Esse ataque ao PS, denunciava Torres, será operado por “uma coligação mais ou menos assumida entre forças da direita internacional e democrática e forças de uma extrema-direita que, na verdade, estão a concorrer para um objetivo que é o de, (…) fora daquele que é o plano normal da crítica política, da divergência política, do conflito político, dar verdadeira e efetivamente má fama ao PS”. Um dos rostos da direita conservadora europeia é, precisamente, o homem que aparece ao lado de António Costa: Viktor Órban.