Mesmo com 111 anos de distância, há histórias que se cruzam. Em 1912, Ida e Isidor Straus quiseram morrer de mãos dadas, dentro do Titanic, na sua cabine de primeira classe, enquanto o navio afundava nas águas geladas do Atlântico. Recusaram entrar nos botes que lhes davam a garantia de continuar a viver, Ida deu o seu lugar à empregada que estava consigo e voltou para junto do marido. Aliás, no filme sobre o naufrágio, e que dispensa apresentações, este casal de origem alemã é retratado: aparecem os dois deitados numa cama, enquanto as mulheres e crianças entravam nos botes. E, em 2023, a propósito do desaparecimento do Titan, sabe-se que Stockton Rush, um dos cinco ocupantes do submersível que fazia viagens turísticas ao que resta do Titanic, é marido de Wendy Rush, tetraneta deste casal.
Autoridades canadianas anunciam investigação às circunstâncias da destruição do Titan
Ida e Isidor Straus nasceram em território alemão, mas conheceram-se do outro lado do Atlântico, em Nova York, onde casaram. E foi lá, em terra norte-americana, que se tornaram conhecidos pelos negócios de Isidor como comerciante de retalho — criou a marca Macy’s, que ainda hoje existe, com um dos seus irmãos. E, além dos negócios, Isidor chegou a ocupar o cargo de deputado na Câmara dos Representantes norte-americana. Tão conhecidos que, na noite de 10 de abril, quando as mulheres e crianças entravam nos botes salva-vidas, quem estava a comandar as operações terá chegado a dizer, recordam os sobreviventes, que Isidor teria prioridade, já que todos sabiam quem eles eram.
[Já saiu: pode ouvir aqui o penúltimo episódio da série em podcast “Piratinha do Ar”. É a história do adolescente de 16 anos que em 1980 desviou um avião da TAP. E aqui tem o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto episódios. ]
A história foi também contada por Paul Kurzman, um bisneto deste casal, ao jornal Today, em 2017, a propósito dos 20 anos do filme “Titanic”. “A minha bisavó Ida entrou no bote salva-vidas e esperou que o marido a seguisse. Como não seguiu, ela ficou muito preocupada e o oficial do navio que estava responsável por aquele bote salva-vidas disse: ‘Bem, Sr. Straus, o senhor é mais velho e todos nós sabemos quem é, claro que pode entrar no barco com a sua mulher”, explicou Paul Kurzman.
“Não, até eu ver que todas as mulheres e crianças estão num bote salva-vidas, eu não vou entrar”, terá respondido o homem de 67 anos. E Ida voltou para trás, saiu do bote e deu o lugar à sua empregada, até porque naquela altura entravam primeiro as pessoas que estavam instaladas em primeira classe.
Os dois acabaram por morrer dentro do enorme navio que colidiu com um iceberg e o corpo de Ida nunca foi encontrado. No meio dos 306 corpos encontrados pelas buscas feitas dias depois da tragédia, só foram identificados cerca de 190 e um deles era o de Isidor.