É, atualmente, a hipótese com mais força e a convicção da Guarda Costeira norte-americana, a partir da análise feita por especialistas aos destroços encontrados na área de busca do submersível, perto do Titanic: a embarcação da OceanGate terá sido destruída numa “implosão catastrófica”, o que significa que os tripulantes terão tido uma morte imediata.

No briefing desta quinta-feira, o contra-almirante John Mauger, do Primeiro Distrito da Guarda Costeira, adiantou que os destroços encontrados eram “consistentes” com a tese de uma implosão. Esta hipótese já tinha sido avançada antes por vários especialistas, incluindo pelo co-fundador da empresa que detém o Titan, a OceanGate. Em declarações à BBC, Guillermo Söhnlein admitiu que o Titan podia ter implodido “instantaneamente”.

“Quando se está a operar em profundidade, a pressão é tão elevada em qualquer submarino que se houver uma falha será uma implosão instantânea. Se foi isso que aconteceu, terá acontecido há quatro dias”, disse.

Essa possibilidade de a implosão ter ocorrido pouco depois do início expedição é apoiada por outros especialistas. Na conferência de imprensa desta quinta-feira, John Mauger explicou que os sensores usados para tentar encontrar o submersível não detetaram nenhum “acontecimento catastrófico” nas 72 horas em que estiveram na água, o que, diz, deveria ter acontecido se a implosão se tivesse dado nesse período. É, portanto, provável que tenha acontecido nas primeiras horas da expedição depois de a embarcação perder a comunicação com a superfície (o que aconteceu 1 hora e 45 minutos após o início).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Informação revelada pelo Wall Street Journal pode ajudar a confirmar esta teoria: horas após o início da missão do Titan, a Marinha dos EUA conseguiu ouvir uma implosão. A deteção foi efetuada através de um sistema militar ultrassecreto, concebido para localizar submarinos inimigos. “A Marinha efetuou uma análise dos dados acústicos e detetou uma anomalia consistente com uma implosão ou explosão nas imediações do local onde o submersível estava a operar quando as comunicações foram perdidas”, sublinhou um alto funcionário ao jornal norte-americano.

Aliás, segundo Guillermo Söhnlein, co-fundador da OceanGate, quando a comunicação entre o submersível e o navio à superfície é perdida, o protocolo dita que o piloto regresse à superfície. “Desde o início que sempre pensei que isso era provavelmente o que Stockton teria feito”, indicou. Stockton Rush era o piloto do Titan e CEO da OceanGate.

[Já saiu: pode ouvir aqui o penúltimo episódio da série em podcast “Piratinha do Ar”. É a história do adolescente de 16 anos que em 1980 desviou um avião da TAP. E aqui tem o primeiro, o segundo, o terceiro e o quarto episódios. ]

Uma pressão de 400 quilogramas por centímetro quadrado

Como o nome indica, uma implosão é o efeito contrário a uma explosão. Numa explosão, os objetos expandem-se de dentro para fora do seu centro. Basta pensar num balão: se soprar demasiado chega a um ponto em que o material não aguenta mais e rebenta. Na implosão, o objeto contrai-se em direção ao seu centro, porque a pressão no exterior é maior do que no interior.

Uma das hipóteses é que o Titan — que não estava certificado por uma entidade externa — tenha cedido à enorme pressão da água a que é sujeito a grandes profundidade e desintegrado durante a implosão.  Para se ter uma ideia da brutalidade do que pode ter acontecido, aos 3.800 metros de profundidade — onde está o Titanic e onde foram encontrados os destroços do Titan —, a pressão é superior a 400 quilogramas por centímetro quadrado.

Numa situação de implosão a grande profundidade, os corpos implodem também. “A morte é imediata e a destruição é violentíssima”, descreve o comandante da Esquadrilha de Subsuperfície da Marinha, Baptista Pereira, em declarações à CNN Portugal. Ao mesmo canal, Mário Gouveia Silva, ex-comandante da esquadrilha de submarinos, diz acreditar que o que aconteceu foi uma “falha estrutural no metal do casco resistente”, que deveria aguentar a pressão exterior do navio, mas cedeu.

Segundo explica, numa situação de imersão profunda, o metal contrai e quando regressa à profundidade inicial distende. “Chama-se uma deformação elástica. O submarino vai a mais e a menos profundidades e tem uma deformação do casco que volta sempre à situação original. E isso é bom, não há problema”, refere.

Mas se o casco deixa de contrair desta forma, “comprime à profundidade máxima e quando vem à superfície mantém a mesma deformação”. Se isso acontecer, quer dizer que o casco “já não está a fazer a sua função e poderá ser um perigo”. É por isso que António Calado, coordenador do Rov Luso da Plataforma Continental, coloca a hipótese de ter estado na origem do incidente “algum desgaste do material que perca capacidade elástica”.

À Rádio Observador, Diogo Cavalheiro, capitão-tenente, já tinha referido que a pressão era um dos riscos com que o Titan se deparava. Num cenário em que o casco perde resistência, uma das hipóteses é a implosão, uma situação em que “não há sobreviventes”.

Baptista Pereira, comandante da Esquadrilha de Subsuperfície da Marinha, defende que mesmo que se recuperem os destroços vai ser difícil perceber ao certo onde a falha ocorreu. O especialista admite a possibilidade de, nos cerca de 100 mergulhos que o Titan fez a grandes profundidades, ter vindo a crescer uma “pequena fissura” — “milimétrica, que não se vê a olho nu”. “Conclusão: há um momento a partir do qual aquela fissura se expande de tal maneira que toda aquela estrutura colapsa”, observa.

Ainda assim, para Baptista Pereira a hipótese de implosão não deixa de ser estranha porque o Titan tinha no casco resistente “um conjunto de sensores” — incluindo sonoros — “que permitiam ao piloto medir as tensões e o stress a que aquela estrutura estava a ser sujeita ao instante”.

A implosão seria, por isso, precedida por avisos que permitiriam alertar o piloto para que subisse ou diminuísse a pressão. “O aço dá sinais de que vai implodir, de que está na tensão máxima (…). Aparentemente, ou o piloto não soube interpretar esses sinais ou o sistema não deu esses sinais”, admite.