A imagem foi captada a 10 de agosto, quinta-feira, por um dos satélites do sistema europeu de monitorização da atmosfera, Copernicus, gerido pela Comissão Europeia, e mostra a Península Ibérica durante a “terceira vaga severa de calor do verão”. A Espanha é o país que está a ser mais afetado: a quase nove milhões de pessoas foi imposto algum tipo de restrição ao consumo de água devido à seca. Das torneiras de vários municípios não sai água durante a noite.

O comunicado da Copernicus, divulgado esta sexta-feira, confirma que o país vizinho é o que “mais sofre com os efeitos das altas temperaturas”. A Agência Meteorológica Espanhola (AEMET) já emitiu alertas vermelho — que refletem um “risco extremo” devido às temperaturas elevadas — em Castela-Mancha, Múrcia e Valência. Também foram emitidos alertas laranja para a Andaluzia, Aragão, Catalunha e Madrid.

No mesmo dia em que a imagem foi captada, o aeroporto de Valência atingiu um máximo histórico de temperatura — foram registados 46,8ºC, o valor mais alto desde que há registo (ou seja, 1966). Esta onda de calor segue-se às “temperaturas recorde” que já tinham sido registadas em julho pelo Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas da Copernicus.

As Ilhas Canárias também estão a sofrer com “as quantidades substanciais de poeira do Saara, levando a um declínio na qualidade do ar”, informa ainda a Copernicus. A AEMET alerta que a presença desta massa de ar sobre o arquipélago “dará origem não só a uma onda de calor” a partir desta sexta-feira, “mas também a um episódio de nebulosidade intensa”. Em algumas zonas, as temperaturas podem chegar aos 40ºC no fim de semana, prevendo-se uma descida, ainda que ligeira, no domingo.

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De facto, segundo o El País, esta sexta-feira será o último dia da onda de calor em Espanha. O diário indica que as temperaturas podem chegar aos 44ºC em zonas rurais de Sevilha e Córdoba e a uma grande parte da província de Huelva.

O calor dará tréguas durante o fim de semana, sendo a descida mais acentuada no domingo, apesar de as temperaturas se manterem elevadas: vão continuar entre 5ºC a 10ºC acima do normal para agosto em grande parte do sul e do leste do país

Torneiras sem água durante a noite, chuveiros de praia fechados. Milhões enfrentam restrições no consumo

Em Espanha, serão quase nove milhões de pessoas a sofrer algum tipo de restrição ao consumo de água devido à seca. Isso mesmo escreveu o El País, na segunda-feira. A Catalunha e a Andaluzia são as comunidades autónomas mais afetadas: pelo menos em 600 municípios foram impostos limites ao consumo de água e há localidades com cortes de abastecimento durante a madrugada.

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É o caso dos cerca de mil habitantes da localidade de El Borge, em Málaga, de cujas torneiras não sai água de manhã há um mês, entre a meia-noite e as sete da manhã, para que o reservatório municipal consiga “recuperar e possa abastecer os moradores durante todo o dia”. “Não é um aviso, o lobo já cá está”, disse o presidente da Câmara, Raúl Vallejo. O reservatório está a 8,6% da sua capacidade, um mínimo histórico.

Dados da Greenpeace, citados pelo El País, revelam que há mais de uma centena de localidades na Andaluzia com algum tipo de restrição. Ao todo, mais de 8,7 milhões de pessoas no país estão a ser afetadas por alguma restrição ao consumo de água devido à seca. A maioria estão na Catalunha (cerca de 6,6 milhões) e na Andaluzia (cerca de dois milhões). Mas também em municípios da Extremadura, da Galiza, das Ilhas Baleares e Aragão há restrições.

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Na Andaluzia, cerca de 40 municípios cortaram o abastecimento de água durante a manhã e também para a preservação da vida selvagem estão a ser tomadas medidas, com a instalação de bebedouros. Na Extremadura, há municípios com cortes no fornecimento de água durante a noite, assim como a proibição de regar jardins e zonas verdes, de limpar ruas, lavar carros e de encher piscinas públicas ou privadas. Na Catalunha, 495 municípios enfrentam algum tipo de condicionante ao acesso à água.

A cidade de Málaga já fechou os chuveiros junto às praias, medida que mais do que poupar — estas instalações representam apenas 0,24% do consumo de água da cidade — serve para sensibilizar a população para a poupança da água.

Portugal não está a sofrer tanto com a onda de calor, mas também há constrangimentos. Ao Observador, o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, já tinha dito que o setor agrícola tem sido, desde o início do ano, “fortemente afetado pelos efeitos da seca grave e persistente que assola praticamente todo o território nacional, o que naturalmente tem grande impacto ao nível da produtividade agrícola”.

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O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) divulgou esta sexta-feira dados sobre a seca em Portugal: a 31 de julho 97% do território estava em seca meteorológica, 34% nas classes de seca severa e extrema, especialmente no Alentejo e Algarve.

Seca atinge 97% de Portugal. 34% do país está no nível severo e extremo, especialmente no Alentejo e Algarve