Darlin Arteaga tem mantido os pais longe das manchetes da imprensa. “Se chegam a ouvir tudo o que estão a dizer sobre o meu irmão, morrem. Não aguentam outro golpe tão forte”. A irmã de Edwin Arteaga, assassinado e desmembrado pelo companheiro, Daniel Sancho Bronchalo, na Tailândia, tem dado a cara pela família na sequência da notícia que chocou Espanha e captou a atenção de vários meios de comunicação mundiais. As razões, diz, passam por proteger os pais num momento difícil. “Envelheceram 15 anos num dia. (…) Estão tão acabados que tenho medo que isto os mate”.

Nos últimos dias, novos detalhes sobre a investigação têm vindo a público, sobretudo através dos advogados do chef espanhol, de 29 anos. A estratégia da defesa, já se sabe, deverá passar por tentar a extradição de Daniel Sancho para Espanha, bem como por alegar que o cirurgião colombiano, de 44 anos, era um homem perigoso e com ligações ao crime organizado na Colômbia. Recentemente, mensagens no telemóvel do alegado homicida pareceram confirmar que este terá sido ameaçado de morte pelo companheiro antes de decidir matá-lo.

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Acusações que, garantiu Darlin Arteaga ao jornal espanhol El Mundo, não podiam estar mais longe da verdade. “Querem torná-lo culpado pelo seu próprio homicídio, fazer dele um delinquente. Esse senhor não desmembrou só o corpo do meu irmão, desmembrou também a minha família. E, não satisfeito, está agora a destruir o nome do meu irmão e a dizer que a minha família é perigosa e que somos mafiosos. (…) Não entendo”, lamentou.

Quem entretanto já terá entrado em contacto com a família de Edwin Arteaga foi Rodolfo Sancho, conhecido ator em Espanha. De acordo com o jornal catalão El Periódico, o pai do alegado homicida terá lamentado o sucedido e oferecido pessoalmente condolências à irmã da vítima. “[O Daniel] tem que ter tido algum transtorno. (…) Desculpa, estamos muito confusos com tudo o que se está a passar. Somos duas famílias destruídas”, terá dito o ator de “Ministério do Tempo”, numa série de mensagens nas redes sociais.

Devoto de Fátima e “um homem de sonhos e metas”

Um empreendedor nato e que gostava de abraçar novos projetos, os amigos descrevem-no como um homem devoto, generoso e respeitado na sua comunidade, quem o conhecia lembra-o ainda como alguém muito ligado à família. Ao El Mundo, Darlin Arteaga descreveu-o mesmo como “o motor” da família, a quem todos recorriam e consultavam para tudo. “Foi até ele quem escolheu o nome da minha filha e sua afilhada: Maria de Fátima, em honra de Nossa Senhora de Fátima, porque era muito devoto dessa virgem”.

Apesar do sucesso profissional e dinheiro que foi acumulando ao longo dos anos, os seu círculo íntimo garante que Edwin nunca esqueceu as origens. Oriundo de uma família trabalhadora de classe média, estudou num colégio de freiras misto e, desde cedo, revelou vontade de ajudar os outros, de acordo com os seus colegas de escola da época. 

Desde pequeno que quis seguir medicina — um encargo significativo para a sua família (a mãe era professora e o pai arranjava eletrodomésticos). Ainda assim, os pais de Edwin tornaram possível ao jovem ir para Barranquilla, uma das maiores cidades da Colômbia e, depois, para Buenos Aires, na Argentina, onde se especializou em cirurgia plástica.

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No regresso à terra-natal, estabeleceu-se em Montería, capital da região de Córdoba, e começou a destacar-se profissionalmente. O sucesso enquanto cirurgião plástico permitiu-lhe comprar casa num dos bairros mais luxuosos da cidade, bem como sustentar a família (comprou uma casa para a irmã), com quem, contam os amigos, falava todos os dias.

Ao longo dos anos, foi investindo em vários projetos. Apaixonado por gastronomia e vinhos, chegou a ter negócios em nome próprio na Colômbia e no Chile, onde também trabalhava como cirurgião. Mas o seu grande sonho era o de se estabelecer profissionalmente em Espanha. “Era um processo complicado porque tinha de fazer a equivalência da licenciatura”, explicou Darlin Arteaga. “Mas ele era um homem de sonhos e de metas. Era tão crente que punha todos os projetos nas mãos de Deus”.

Adepto de viajar, Edwin Arteaga gostava de conhecer destinos exóticos e paradisíacos — facto que preocupava a mãe, que temia que algo lhe pudesse conhecer. “O grande erro do meu irmão foi nunca desconfiar de ninguém, não ter malícia e achar que todos eram como ele”, lamentou a irmã.

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