“Um dia saberão toda a verdade”. A garantia que Daniel Sancho Bronchalo dá à família deixa adivinhar detalhes por descobrir no caso que chocou a Tailândia e Espanha. Acusado de matar e desmembrar o companheiro durante uma viagem a dois para um conhecido destino turístico, o chef de 29 anos está detido no país estrangeiro, onde tem mantido contacto com a família, numa série de mensagens a que os meios de comunicação espanhóis tiveram acesso.

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O jovem — que, acreditam as autoridades, terá preparado o crime ao longo de vários dias — tem vindo a manter uma versão diferente dos factos. “Lamento que estejam a ter que ser daquelas pessoas que têm de passar por isto”, terá dito Daniel à família, numa das mensagens a que o site cor-de-rosa Lecturas teve acesso. Todavia, o jovem sublinha também que nem tudo é como parece, garantindo que apenas cometeu o crime macabro para “defender” a vida, acrescentando que Edwin Arteaga, o cirurgião de 44 anos com quem manteria uma relação sexual há cerca de um ano, o ameaçou e à sua família.

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Já esta quinta-feira, veio a público uma mensagem que confirmou que Edwin Arteaga terá ameaçado Bronchalo de morte antes do crime.

Daniel Bronchalo, que acabou por confessar o crime 24 horas depois de o ter cometido, tentou a princípio ocultá-lo — da polícia e não só. Mensagens divulgadas pelo programa Código 10, do canal de televisão Cuatro, revelam que o jovem esteve em contacto com a irmã de Arteaga na noite do crime, com esta a contactá-lo por estar preocupada com o irmão:

Daniel: Olá Darlin [irmã da vítima]. Também não sei nada dele. Estou a tentar entrar em contacto com ele.

Darlin: O quê?

Daniel: Estivemos na praia de Haad Rin.

Darlin: Meu Deus.

Daniel: Ele acabou por ir embora sozinho à noite. E não o encontro.

Darlin: Para onde?

Daniel: Já lhe liguei mil vezes. Não consigo dar com ele. Não sabia a quem ligar.

Darlin: Meu deus. Meu deus. Alguma coisa lhe aconteceu.

A imprensa espanhola tem tentado descobrir mais detalhes acerca do crime e da relação entre Daniel Bronchalo e Edwin Arteaga. A família do jovem não se tem pronunciado (exceção a um breve comunicado em que pediram privacidade) mas, à Antena 3 espanhola, um amigo próximo de Daniel partilhou sob anonimato alguns detalhes. “Era uma relação com muitos sentimentos à mistura, porque um dia estavam bem, no outro estavam mal. Mas nunca ninguém pensou que algo deste género se passasse”.

Caso venha a ser condenado, o alegado homicida arrisca uma pena de prisão perpétua numa prisão tailandesa (o código penal do país prevê a pena de morte para este crimes, sendo que esta é geralmente amnistiada pelo rei da Tailândia, o que, inclusive, aconteceu em 2017 a outro cidadão espanhol num caso semelhante).

A defesa do jovem espanhol prepara, entretanto, a estratégia de defesa, que deve passar por um pedido de extradição para Espanha. Um dos advogados defende que esta é a “melhor opção”, uma vez que, sustenta, é “muito difícil” sobreviver vários anos numa prisão tailandesa.

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Outra das chaves da defesa de Daniel Bronchalo será a argumentação de que o espanhol foi vítima de chantagem por parte do cirurgião, que o terá ameaçado com a divulgação de fotos intimas caso terminasse o relacionamento entre os dois. “O colombiano tem familiares mafiosos e também tem dinheiro. Era capaz de contratar qualquer um para o magoar a ele à sua família”.

Face a estas notícias, os familiares de Arteaga pronunciaram-se através de um representante legal e da irmã, Darlin. “Alguma imprensa internacional (…) quer pintar o Edwin como alguém que se pôs a jeito para morrer devido a uma série de situações, quando a realidade é que não, estamos perante um homicídio cruel e violento”, afirmaram.

Ao mesmo tempo, dizem não querer que o jovem seja condenado à morte. “A família é muito religiosa, muito crente em Deus”, sustentou o representante. No entanto, tal não significa que não queiram ver Daniel Bronchalo a ter “uma pena exemplar” — razão pela qual defendem que o jovem não deve ser extraditado e deve ser julgado na Tailândia. “Dar-nos-ia mais garantias. Seria um estado imparcial e não haveria interferência alguma por parte de terceiros”, consideraram.