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Delineada ao longo de seis meses e cumprida com sucesso no mês de agosto, foram agora revelados novos detalhes sobre a operação levada a cabo pelos serviços secretos militares (GUR) para desertar um piloto russo e capturar um helicóptero de carga Mi-8.

Numa entrevista publicada pelos serviços de informação militares do Ministério da Defesa da Ucrânia, Maxim Kuzminov — nome dado ao piloto russo — explica como é que planeou a sua deserção e o motivo que o levou a fazê-lo.

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“Entrei em contacto com representantes dos serviços secretos ucranianos, expliquei a minha situação e eles ofereceram-me a seguinte opção: ‘Venha, nós garantimos a sua segurança, garantimos novos documentos, garantimos uma compensação monetária, uma recompensa’“, disse o piloto durante a entrevista, citado pela CNN International.

Desta forma, os serviços secretos militares criaram condições para que toda a sua família fosse retirada da Rússia sem ser detetada — através de passaportes falsos fornecidos pelos GUR — e para que, eventualmente, o piloto pudesse assumir o controlo do helicóptero Mi-8 com uma tripulação que não conhecesse o plano.

A meio de agosto, embora a data exata não seja conhecida, o Mi-8 saiu da área ocupada pela Rússia no norte da Ucrânia e depressa se dirigiu para território controlado por Kiev, onde terá pousado na região de Poltava (a oeste de Kharkiv).

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Na entrevista, o piloto conta que durante o voo pensou: “Apercebi-me de que estava perto da fronteira. Transmiti a minha localização. Disse: ‘Vamos tentar, não estou assim tão longe’. E, tendo tomado uma decisão final, voei a uma altitude extremamente baixa em modo de silêncio de rádio. Ninguém percebeu o que se estava a passar comigo“.

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Ao longo do percurso, nenhum dos sistemas de defesa anti-aérea ucranianos (com capacidade para detetar e abater um helicóptero com a dimensão do Mi-8) foi ativado, pelo que o aparelho acabou por aterrar tranquilamente. À espera estavam membros dos GUR, aos quais o piloto se entregou.

“Mais duas pessoas estavam com ele — no total, uma tripulação completa de três pessoas. Quando se aperceberam do local onde tinham aterrado, tentaram fugir. Infelizmente, foram eliminados. Preferíamos [apanhá-los] vivos, mas as coisas são como são“, afirmou Kyrylo Budanov, chefe das secretas ucranianas.

Durante a entrevista, o piloto abordou ainda a desinformação russa sobre a guerra na Ucrânia: “A verdade é que não há nazis ou fascistas aqui. É uma verdadeira desgraça o que está a acontecer aqui. Assassinatos, lágrimas, sangue. As pessoas estão simplesmente a matar-se umas às outras. É tudo o que posso dizer sobre isto e não quero fazer parte disto”, afirmou.

“O que está a acontecer agora é simplesmente o genocídio do povo ucraniano. Tanto ucraniano como russo. O motivo da minha ação foi não contribuir para estes crimes. A Ucrânia vai ganhar esta guerra de forma inequívoca, simplesmente porque o povo está muito unido. Antes não era assim, mas agora está muito unido. O mundo inteiro está a ajudá-los, porque, acima de tudo, a vida humana deve ser valorizada”, acrescentou.

O piloto deixou ainda uma mensagem aos restantes militares das forças armadas russas, apelando a que sigam o seu plano e desertem para a Ucrânia: “Terão tudo o que precisam para o resto das vossas vidas. Ser-vos-á oferecido um emprego em todo o lado, independentemente do que façam. Irão simplesmente descobrir um mundo de cores”, disse.