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Há quem diga que só tem um olho, e outros que lhe falta uma mão. Também há quem diga que ficou preso a uma cadeira de rodas desde que um ataque israelita lhe tirou a perna. Sempre envolto em mistério e discreto, deu voz ao anúncio da operação do grupo islâmico do Hamas em Israel. “À luz dos crimes contínuos contra o nosso povo, à luz da orgia da ocupação e da sua negação das leis e resoluções internacionais e à luz do apoio americano e ocidental, decidimos colocar um fim a tudo isto”, avisou, mais do que ameaçou.

Porque, na madrugada de sábado, enquanto esta mensagem tomava conta das rádios nacionais, já centenas de militares do Hamas se moviam para a fronteira da Faixa de Gaza e se preparavam para lançar mísseis para o território de Israel: as explosões que se seguiram serviam para comprovar ao “inimigo” que precisa de “compreender que não pode continuar a divertir-se sem ser responsabilizado”.

Considerado já o maior ataque terrorista da história em Israel, o número de mortes já passou as 1.300, contabilizando mais de 800 israelitas e 500 palestinianos. Mas quem é o homem que esteve na sua origem?

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Mohammed Deif, cujo nome de guerra significa “Convidado”, nasceu em 1965, no campo de refugiados Khan Yunis, em Gaza. Ainda que a família tivesse várias dificuldades, conseguiu ir para a faculdade, na Universidade Islâmica de Gaza, tendo-se alegadamente formado em Biologia.

Ainda antes de ajudar a fundar o grupo Hamas, em 1987, juntou-se à Irmandade Muçulmana, particularmente ao seu braço armado. Tal fez com que fosse detido e sentenciado a 16 meses de prisão, segundo noticia o jornal El Mundo.

No início da sua vida no Hamas, ele estava focado nos rastos militares. Era muito gentil e estava sempre a fazer desenhos para nos fazer rir”, lembrou Ghazi Hamad, membro do grupo islâmico, citado pelo Financial Times.

Em 1996, os serviços secretos israelitas assassinaram o seu mentor: Yahya Ayyash, mais conhecido como “O Engenheiro”, visto ser perito em fabricar explosivos usados em atentados suicidas, atendeu a chamada de um telemóvel que tinha sido armado com uma bomba.

O desejo de vingança apoderou-se de Deif e este acabou por dar origem a vários “ataques sangrentos” que provocaram “dezenas de mortos nas ruas das israelitas”. Tal fez com que ficasse bem visto nas Brigadas Azzadin Al Quassam, tendo, em 2002, após o assassinato do antigo líder, Saleh Shehada, sido nomeado chefe do braço armado do Hamas.

Desde então, e apesar de já ter sido alvo de vários ataques israelitas — tendo um resultado na morte da mulher e de um filho —, tem ajudado 0 Hamas a organizar diversos conflitos violentos pela independência da Palestina. Sendo que quatro deles levaram mesmo a guerras: em 2009, em 2011, em 2014 e em 2021.

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Várias pessoas de luto pela morte do filho e da mulher de Deif, em 2014

O seu legado, explica o El Mundo, inclui ainda “o fabrico de rockets Qassam, a criação de uma infraestrutura de túneis” e à aproximação com o Irão, que permitiu um forte aumento do fornecimento de armas.

A aposta nos sequestros é também um traço do braço armado do Hamas liderado por Deif – e foi uma das táticas usadas este sábado.  O Hamas tem raptado milhares de israelitas na tentativa que estes sejam usados como moeda de troca para reaver os palestinianos presos por Israel. Aliás, tal já aconteceu. Em 2011, o grupo terrorista trocou o soldado israelita Gilad Shalit por mais de mil palestinianos, presos há mais de cinco anos.

“O Hamas percebe muito bem que, no que diz respeito aos prisioneiros israelitas, a paciência é a chave. Com o tempo, o público criará uma pressão sob o governo. Tudo o que o Hamas precisa de fazer é esperar”, disse um diplomata, que ajudou a negociar a libertação do soldado, citado pelo jornal norte-americano.

Já Deif segue outro lema: “Tudo o que Alá decidir, acontecerá”.