Brittany Kaiser, a denunciante da Cambridge Analytica, já assistiu na primeira pessoa às consequências do que a rédea solta na indústria tecnológica consegue fazer. Há cinco anos, tornou-se num rosto visto com frequência em reuniões com legisladores e em audições públicas, depois de denunciar o escândalo de privacidade da Cambridge Analytica, que envolveu a gigante de redes sociais Facebook.

No palco da Web Summit, num painel sobre se a humanidade tem valores morais suficientes para usar ferramentas tecnológicas poderosas, como é o caso da inteligência artificial (IA), não vacilou na resposta. “Os humanos são falíveis e não, não temos moralidade suficiente para usar algumas destas ferramentas sem legislação e regulação própria”, assegurou.

“Não temos direitos digitais no mundo digital”, garantiu Kaiser, que depois de se tornar denunciante divide o tempo entre palestras e conferências e a organização que criou, a Own Your Data. “A fundação da tecnologia e a falta de regulação e aplicação de quaisquer direitos no espaço digital levou a que a indústria tecnológica seguisse uma direção que é incompatível com os direitos humanos e direitos civis”, assegurou.

Kaiser não isentou de responsabilidade quem está a usar as ferramentas. “Isto são só ferramentas e dependem das pessoas que estão a usá-las”, reconheceu. Mas lembrou a sua própria experiência de vida. “Na Cambridge Analytica também tínhamos clientes que faziam coisas incríveis com os dados, mas quando passou para as mãos erradas os dados foram usados como arma — para  incentivar à violência, para influenciar eleições. Para criar crises em vez de preveni-las.”

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A denunciante da Cambridge Analytica diz que, enquanto não houver transparência e regras claras sobre dados e sobre recolha de dados, que são “depois incluídos em algoritmos com a complexidade dos da IA, estamos num ponto muito mau porque ainda não decidimos legislar nos blocos de construção que nos vão levar a uma IA moral, um dia”.

Deixou um desafio à plateia, para que as pessoas não deixem a responsabilidade de regulação apenas para os legisladores e que se envolvam no contacto directo com as instituições, expressando o que consideram ser preocupante. “Não podemos confiar em legisladores e reguladores que sabem exponencialmente menos do que os tecnólogos para escrever as leis que vão funcionar e ser implementáveis”, frisou.

“Em vez de deixarmos isto para os reguladores, temos de aparecer, de nos chegar à frente se queremos que as tecnologias que estamos a construir tenham um impacto positivo no mundo. Se queremos que sejam éticas e fazer a coisa certa”, pediu.