O combate eleitoral interno do PS traz um micro-confronto dentro com especial ironia neste tempo político. No dia em que os militantes escolherem entre os três candidatos, terão também de escolher qual das listas de delegados ao congresso e na secção de Campo de Ourique há dois nomes que saltam à vista em listas concorrentes: Pedro Costa, apoiante de Pedro Nuno Santos e filho de António Costa, e António Rebelo de Sousa, que apoia José Luís Carneiro e é irmão de Marcelo Rebelo de Sousa. A escolha de Carneiro deixa “perplexo” o apoiante de Pedro Nuno que, em declarações ao Observador, atira ao adversário, num Costa contra Rebelo de Sousa que decorre à margem do outro, entre Presidente e primeiro-ministro, que já vai quente.

Pedro Costa, presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, encabeça a lista de delegados ao congresso de Pedro Nuno Santos naquela secção. Já António Rebelo de Sousa vai num lugar mais abaixo na lista de delegados afetos a Carneiro: é o último suplente. O irmão de Marcelo Rebelo de Sousa entrou nesta campanha interna do PS como apoiante de Carneiro e no dia em que António Costa atacou a decisão presidencial de dissolver a Assembleia da República.

Durante a reunião da Comissão Nacional do PS, o primeiro-ministro disse que “devia ter havido bom senso de não desencadear esta crise política”. Em resposta, em declarações à TSF, António Rebelo de Sousa atirou a Costa: “O que eu acho falta de bom senso é às vezes manterem-se certas pessoas no Governo quando elas já estão, de alguma forma, descredibilizadas junto da opinião pública e há um sentimento geral de que elas não devem continuar”. Não disse nomes, mas insistiu que “isso é que é falta de bom senso, sobretudo quando isto depois acaba por estar na origem de tudo aquilo que pode haver de pior em termos de evolução dos cenários políticos na vida política portuguesa”.

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Pedro Costa diz agora, em declarações ao Observador que, “bom senso seria evitar pronunciar-se em público sobre decisões da própria família”. E atira a José Luís Carneiro ao dizer estar “perplexo” com esta escolha para a lista de delegados na sua secção e por uma candidatura “que se diz confiável e apostada em defender o legado da governação” ter escolhido “como candidato quem responsabilizou o PS pela crise política”.

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“Só há um candidato para defender os últimos anos do PS e em Campo de Ourique tornou-se fácil perceber qual é“, ironiza ainda em relação à lista adversária: “Admito que noutras secções não seja tão fácil”. As listas de delegados ao congresso vão a votos nos mesmo dias das diretas do partido, nos próximos dias 15 e 16 de dezembro, com os militantes a receberem dois boletins. Os delegados eleitos terão lugar no Congresso do PS, entre 5 e 7 de janeiro, e vão ser eles que vão votar moções e também a Comissão Nacional do partido.

A defesa do legado de António Costa tem sido um ativo que os dois principais candidatos nesta campanha interna do PS têm disputado de forma intensa. Tanto José Luís Carneiro como Pedro Nuno Santos têm reclamado para si as melhores condições para prosseguir esse mesmo legado e também a proximidade com o ainda líder do PS.

Além desta frente, a batalha de Campo de Ourique acaba por tocar noutra, a guerra que António Costa abriu com Belém na última reunião da Comissão Nacional do PS. Desde então que não voltou a falar do assunto — nem tem estado disponível para responder a perguntas dos jornalistas –, mas é palpável a tensão com o Presidente da República, depois de o PS ter defendido que Marcelo nomeasse Mário Centeno primeiro-ministro em vez de antecipar eleições legislativas. De uma assentada, no dia dessa reunião socialista, Costa atacou Marcelo sugerindo que fala por “heterónimos” nos jornais, acusando-o de falta de com senso e ainda tentando condicioná-lo sobre o futuro Governo. A guerra está longe de terminar.