O ex-deputado do PSD António Maló de Abreu recusa que tenha mentido quando negou publicamente a notícia do Observador de que havia negociações em curso para que fosse candidato a deputado pelo Chega — uma notícia confirmada este sábado por André Ventura. Maló de Abreu, que chegou a garantir que havia da sua parte um “não rotundo à integração nas listas do Chega”, diz agora que só recebeu um convite formal na sexta-feira e que houve uma gota de água que o levou a mudar de ideias, acusando a direção do PSD de “saneamento hipócrita”.
Em entrevista à CNN Portugal, este sábado, explicou que na altura em que recusou publicamente que estivessem em curso conversações com o partido de André Ventura o que queria era afastar-se “completamente” da vida política. “Já tenho idade para ter juízo”, atirou. Na altura, segundo garante agora Maló de Abreu, não tinha nenhum convite formal para ser deputado pelo Chega, nem pensava “em ir para o Chega”. De acordo com esta versão dos factos, o convite do partido de André Ventura terá surgido depois da notícia do Observador, quando “puseram lama na ventoinha” e o colaram ao Chega.
Depois de o Observador ter noticiado que havia conversações em curso para que António Maló de Abreu — que horas antes tinha anunciado a rutura com o PSD, 40 anos depois de se ter feito militante do partido — fosse candidato a deputado pelo partido de Ventura, antigo deputado ex-social-democrata rejeitou a notícia e desdobrou-se em declarações a vários órgãos de comunicação social. Em entrevista à CNN, chegou mesmo a dizer o seguinte: “Não espero integrar as listas do Chega e da minha parte há um não rotundo à integração nas listas do Chega”.
Agora, na entrevista que deu este sábado à mesma estação televisiva, e já depois de André Ventura o ter anunciado formalmente como cabeça de lista pelo círculo Fora da Europa, veio recusar a ideia de que mentiu nas primeiras declarações. Segundo Maló de Abreu, o convite formal só surgiu na sexta-feira passada e, quem mudou, afinal, foi o PSD. Motivo: as listas de candidatos a deputados.
“Houve um saneamento propositado e hipócrita das pessoas mais competentes”, alegou Maló de Abreu, dando como exemplo os casos de André Coelho Lima (que não foi sequer indicado pelas estruturas locais do partido) ou José Silvano, que em declarações ao Observador, ainda a 12 de janeiro, dizia “não ter particular interesse em ser deputado” e apontava o dedo precisamente a Maló. “A aproximação ao Chega é uma coisa inadmissível”, criticava o antigo secretário-geral do PSD.
A outra “gota de água”, alegou também Maló de Abreu, foram as declarações de Nuno Melo a 17 de janeiro, em que defendeu que “se o PS vencer as eleições, quem vence deve governar”. O presidente do CDS viria, este sábado, a corrigir essas declarações, garantindo que a Aliança Democrática não vai viabilizar um governo de esquerda.
“Estou absolutamente tranquilo com o que disse e com a decisão que tomo hoje. Quando me deito pergunto sempre a mim próprio se honrei a memória dos meus pais”, disse Maló de Abreu à CNN. O ex-deputado social-democrata esclareceu que não será militante do Chega e reconheceu que não concorda com algumas das medidas que o partido de André Ventura tem defendido nos últimos anos, como a castração química ou a prisão perpétua. “Eu nem em casa concordo com tudo o que acontece”, relativizou.
Nos últimos dias, têm sido levantadas dúvidas sobre a viabilidade das propostas do Chega e da forma como serão financiadas, como o aumento das pensões até ao nível do salário mínimo até 2028. Neste aspeto, Maló de Abreu defende que o líder do Chega “tem de suportar o que disse em princípios que tem de apresentar”. “Falta fazer, mas fará com certeza”, rematou Maló.
Da “mentira” ao anúncio oficial: Maló de Abreu, ex-deputado do PSD, é mesmo candidato pelo Chega