António Maló de Abreu é o cabeça de lista do Chega pelo círculo Fora da Europa, o que confirma a notícia do Observador de que o ex-PSD estava em conversações com o partido liderado por André Ventura para integrar as listas à Assembleia da República. O presidente do Chega fez o anúncio em conferência de imprensa, dias depois de Maló de Abreu ter negado que seria candidato, e justificou as migrações para o Chega com o “enorme sentimento de revolta nas hostes do PSD, CDS e IL” pelo facto de a direita, aos olhos do líder do Chega, ser incapaz de ser construir uma alternativa ao PS.

André Ventura confirmou que endereçou o convite formal a Maló de Abreu e que o deputado aceitou, tornando-se o cabeça de lista do Chega pelo círculo Fora da Europa, exatamente o mesmo por onde foi eleito deputado do PSD em 2022. Além disso, na lista do Chega segue ainda Manuel Magno Alves, também vindo do PSD, e que foi o número dois de Maló de Abreu nessa candidatura às últimas legislativas.

Além da confirmação de Maló de Abreu, André Ventura confirmou ainda três repetentes como cabeças de lista, sendo que dois já são deputados do Chega: Filipe Melo por Braga, Rui Afonso pelo Porto e José Dias Fernandes pelo círculo da Europa.

André Ventura considera que há “mensagens preocupantes da direita portuguesa”, destaca o facto de a Aliança Democrática acreditar que “governo do PS deve ser viabilizado mesmo com maioria de direita” — caso vença as eleições — e acha “natural” que as pessoas de outros partidos, “desiludidas”, procurem o Chega como “a última casa” por encontrarem “a única alternativa possível ao PS”. Pelo caminho, ainda a ideia de que o “não convite a Passos Coelho” para estar no congresso da AD é a “prova de que direita está mais preocupada com ajustes de contas internos e egos que mais não são medos de sombras permanentemente existentes do que em criar alternativa ao socialismo”.

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Da “mentira” ao “não” que acabou em “sim”

Maló de Abreu anunciou no passado dia 10 de janeiro que se desfiliou do PSD, após mais de 40 anos de militância, e que ficaria até ao final do mandato como não-inscrito. Em rutura com a direção de Luís Montenegro e contra a “inação” da liderança da bancada parlamentar, encabeçada por Miranda Sarmento, o deputado explicou que não se revia “de todo, na estratégia e na forma de se organizar o partido e de agir da sua direção”. “E não me revejo nas suas propostas em áreas sensíveis da governação”, acrescentou na argumentação.

Passado poucas horas, o Observador noticiou que Maló de Abreu estava a fechar com o Chega para integrar as listas de candidatos a deputados nas próximas eleições legislativas. Mas no dia seguinte, o ex-militante do PSD desdobrou-se em declarações e entrevistas que se foram tornando mais taxativas ao longo do dia — e que, à distância, revelam que nem tudo era verdade. Começou por rejeitar, em declarações à agência Lusa, que a sua saída do PSD tenha qualquer relação “com hipotéticos ou eventuais convites” e negou “qualquer ida para qualquer partido”. Sobre a possibilidade de integrar listas como independente disse apenas que “é um assunto que não se coloca”. Até aqui, nada comprometia Maló de Abreu.

Mas o tom das declarações foi endurecendo ao longo do dia — sendo que Maló de Abreu, que prestou esclarecimentos praticamente a todos os órgãos de comunicação social, nunca atendeu ou respondeu às tentativas do Observador. Em declarações ao Expresso e à TSF , já disse claramente que era “mentira” qualquer notícia sobre a negociação de um lugar de deputado pelo Chega ou contactos com o partido e ao Público que “não é verdade” que vá integrar integrar a lista do Chega. De seguida, aos jornalistas no Parlamento, justificou que o partido não o convidou para integrar as listas de candidatos às eleições legislativas.

“O Chega não me fez nenhum convite, ninguém me fez nenhum convite, se não há nenhum convite obviamente não vou integrar lista nenhuma”, afirmou, enquanto esclareceu que “se fizer é outra coisa, em princípio não farão” e, de forma contrária, que não está disponível para “absolutamente nada”. As contradições foram-se multiplicando e o Observador sabe que as negociações, nessa altura, já existiam, pelo que o argumento da falta de convite acabaria por cair por terra. Ainda assim, em defesa de Maló, Ventura confirmou que o ex-deputado não tinha recebido esse convite, pelo menos de forma oficial, mas também não se alongou em confirmar os trâmites da negociação.

Nas televisões e em entrevistas mais longas, Maló de Abreu foi sendo mais perentório no não ao Chega, em particular na CNN: “Não espero integrar as listas do Chega e da minha parte há um não rotundo à integração nas listas do Chega.” Ainda repetiu que “para já” não havia convite nenhum — “A minha posição neste momento é de absoluto não em relação a convites.” E, no mesmo sentido, na RTP reiterou que “à partida e à chegada” diria que “não” a um convite do Chega, até porque se recusa a “mudar de camisola todos os dias”.

E, apesar de a notícia do Observador citar uma fonte do Chega, Maló de Abreu fez questão de referir em várias ocasiões que havia uma “tentativa de enlamear” a decisão da sua desfiliação que só podia “sair” do PSD. “Parece-me óbvio que é uma forma de enlamear o meu nome só pode partir de dentro do próprio partido”, acusou Maló de Abreu, referindo que “é a forma de atuarem” e que “em política o que parece é”.

Dez dias depois da notícia original que dava conta de que o Chega estava prestes a anunciar o ex-PSD como candidato pelas suas listas, horas depois da desfiliação nos sociais-democratas, Maló de Abreu vai mesmo como candidato independente nas listas do partido liderado por André Ventura.