“Sempre dissemos e a nossa posição nunca mudou desde 2022. O Livre é parte da solução numa maioria de esquerda e parte da oposição numa maioria de direita”, afirmou Rui Tavares à margem de uma ação de campanha em Lisboa. O porta-voz do Livre visitou esta sexta-feira a creche Centro Infantil Maria de Monserrate onde a semana de quatro dias já foi testada e lamentou a interpretação feita das suas palavras.

Depois de na quinta-feira ter dito que estaria disponível para “diálogos à direita”, Rui Tavares reforçou que se referia a um diálogo construtivo em questões como a revisão da lei eleitoral ou da localização do novo aeroporto. O deputado único do Livre defende que a sua posição nunca se alterou e considera que a única diferença “é o contexto político, da campanha e das sondagens, que leva outros a poder embarcar em interpretações que não são as corretas”.

Nega uma esquerda dividida e garante que “do lado do Livre não há nenhum início de falsa questão que possa criar mal entendidos à esquerda”. Mas atira: “Também nunca cavalgámos descontextualizações que foram feitas para atacar outros partidos de esquerda”, a afirmação surge depois de Mariana Mortágua pedir que o Livre evite “confusões” nesta altura da campanha.

Livre esclarece que não admite coligação ou apoio a maioria de direita. “Seremos parte de uma oposição responsável e dialogante”

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“O Livre é um partido de convergência à esquerda, toda a gente quer ter votos, mas é um partido muito mais cooperativo do que competitivo”, aponta Rui Tavares, que quer evitar “alimentar polémicas estéreis”.

Rui Tavares assegura que está “com os pés bem assentes na terra” e que um voto no Livre serve para três coisas: “Para dotar o partido de um grupo parlamentar, para ajudar a esquerda a ganhar e termos uma maioria de progresso e ecologia e para um objetivo ético-moral de afastar extremistas do poder”. Apela a que a democracia portuguesa “não vá pelo caminho da dos EUA e do Brasil” e recorda que nesses contextos “houve responsabilidade no sectarismo que dividiu progressistas entre si”.

A improvável semana de quatro dias implementada numa creche em Lisboa

A visita de Rui Tavares, acompanhado da número dois por Lisboa, Isabel Mendes Lopes, ao Centro Infantil Maria de Monserrate não foi escolhida ao acaso. “Decidimos fazer a visita a um dos setores em que se dizia que seria mais difícil implementar a semana de quatro dias“, disse o porta-voz do Livre, notando que mesmo “numa forma de trabalho muito diferente é possível, com as técnicas de gestão adequada, as equipas organizarem-se de forma a que as pessoas tenham mais tempo livre e que estejam mais descansadas”.

“No setor da infância esta eficácia também se mede no bem-estar, segurança e desenvolvimento pleno das crianças, que tem tido uma excelente avaliação neste exemplo”, assegura. O projeto piloto implementado no centro infantil começou em junho de 2023 e durou seis meses, com um pausa em agosto e setembro, o primeiro por ser mês de férias de verão e o segundo por ser preciso assegurar a integração das crianças no novo ano escolar.

Carla Monteiro, uma das educadoras de infância da creche diz que ganhou “tudo” com esta experiência. “É um bem estar enorme, consigo dar mais atenção aos meus filhos e fazer coisas com eles no ‘dia de folga’ que antes não teria possibilidade de fazer, como ir buscá-los e levá-los à escola e ainda participar nas atividades escolares deles”, partilha. A trabalhadora da creche escolheu a quarta-feira como o dia de “folga” e diz que a semana se torna menos pesada, com quatro dias de trabalho separados por uma folga a meio da semana. “Sou apologista de continuar”, afirma.

O projeto-piloto já terminou, mas desde o início do ano que, graças à contratação de uma nova funcionária, foi possível manter a semana de quatro dias quinzenalmente. Rui Tavares destaca este caso de sucesso e diz que é preciso “continuar a experimentar para depois legislar”, garantindo que esta será uma transição no ambiente laboral que trará “ganhos para toda a gente”.