O preço da eletricidade no mercado grossista ibérico, o Mibel, fechou nos 0,59 cêntimos por MW/hora. Este é o preço da energia que será consumida no sábado e é o sexto mais baixo desde que existe este mercado. Ao longo do dia de negociação, as cotações oscilaram entre os zero euros e os 3,5 euros por MWh (megawatt hora), com os valores mais altos a serem atingidos a partir das 18h00.
Esta pressão sobre os preços é uma consequência da combinação de muita oferta, em particular hidroelétrica e vento, e de um consumo reduzido. Mas não se trata de um fenómeno pontual. O mês de março tem sido marcado por preços muito inferiores aos normais, ainda que o Inverno seja tradicionalmente caracterizado por cotações mais baixas por causa da maior disponibilidade da oferta renovável.
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O facto de muitas barragens a norte da Península Ibérica estarem perto de transbordar por causa da abundância de chuva leva também à necessidade de descargas, o que potencia a produção de eletricidade. De acordo com o diagrama de tecnologias do operador do mercado ibérico, a eólica foi a tecnologia que mais energia produziu.
Segundo El Periodico, jornal especializado em energia espanhol, em sete dos nove dias deste mês — o preço que foi fechado esta sexta-feira é para a energia consumida no dia 9 — registaram-se valores médios diários abaixo dos 10 euros por MW/hora. A mesma publicação indica que esta tendência levou as elétricas a pararem as centrais nucleares que operam em Espanha e que são as únicas centrais térmicas que conseguem entrar no mercado quando as cotações estão mais reduzidas.
A energia de fontes renováveis é muito mais barata porque não tem custos de combustível, nem de ligar/desligar, mas ainda assim precisa de receitas para amortizar o investimento e remunerar os investidores. Estes preços muito baixos também representam um desafio para os promotores de centrais renováveis cujos cenários de investimento nunca terão contemplado valores tão baixos, como admite o consultor e especialista em energia, António Vidigal, numa publicação no linkedin.
O impacto desta série de preços baixos para o consumidor final vai depender de vários fatores, a começar pelo tempo de duração do fenómeno. Mas se a eletricidade barata permite, por um lado, às elétricas comercializarem a energia a preços mais baixos, há outras componentes da fatura que podem subir por causa dos preços muito baixos, em particular a tarifa de uso global do sistema. É nesta tarifa que entram os chamados custos de interesse económico geral onde está o sobrecusto a suportar pelo sistema pelos ganhos garantidos a alguns produtores de energia. E quando os preços do mercado baixam muito, esse sobrecusto sobe, acabando a prazo por penalizar os preços finais.