Hoje Emma Stone e Margot Robbie, ontem Sharon Stone e Geena Davis. A lista de cabeças de cartaz nas grandes festa da temporada foi sendo reciclada ano após ano. Não só pelas entradas e saídas da berlinda mas pelo próprio efeito do tempo. De George Michael a Prince, ou ainda Ana Nicole Smith e Whitney Houston, uma rápida (e implacável) passagem pelo baú de há 30 anos mostra como tantos já não andam por cá. Em sentido contrário, os looks de outrora são um ótimo combustível para revivalismos na moda, e podiam ter saído de uma passadeira recente.

Para a história passaram as soirés anuais organizadas por Irving “Swifty”Lazar, poderoso agente literário e de talentos, que desde 1964 reunia as maiores figuras da velha Hollywood em tempo de entrega de galardões do cinema. Quando morreu, em 1993, aos 86 anos, Graydon Carter, o editor que sucedeu a Tina Brown para liderar o rumo da Vanity Fair durante 25 anos, entre 1992 e 2017, e o produtor Steve Tisch, chegaram-se à frente para que o evento não morresse com o seu mentor.

Foi assim que em 21 de março de 1994 lançaram a primeira festa dos Óscares da Vanity Fair, um encontro à época relativamente modesto, no ano em que os prémios chegavam à sua 66.ª edição.

Concentrou cerca de uma centena de convidados no restaurante Morton’s, em Beverly Hills, e entre a lista de estrelas constavam Lee Radziwill, Nancy Reagan, Oliver Stone, Gore Vidal, Gene Hackman, Donald Sutherland, ou Diane von Furstenberg. Aos nomes que ocuparam os lugares sentados durante a cerimónia da entrega das estatuetas, juntar-se-iam muitos em modo after party, casos de Tom Robert De Niro, Prince, Anthony Hopkins, Tom Cruise, ou Nicole Kidman.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

GettyImages-71463653

Michael Cain e Irving “Swifty”Lazar em 1989, na sua festa anual dos Óscares. A alcunha deve-se à agilidade com que conseguiu três papéis num só dia para Humphrey Bogart © Getty Images

A expansão deste rendez vous levou a que em 1999 tivesse sido requisitado um arquiteto para aumentar temporariamente a capacidade do restaurante, que Peter Morton abriu na qualidade de destino alternativo, e mais adulto, aos seus Hard Rock Cafés. A casa afirmava-se de vez como o reduto perfeito para os atores darem largas aos festejos no rescaldo do grande serão do cinema. Por aqui era possível navegar pela reluzente era Harvey Weinstein, ainda a larga distância de polémicas e escândalos, envolvendo a publicação e o já lendário Carter.

A elite de Hollywood ficaria sem o seu pouso por excelência em 2007, quando chegou a notícia de que o Morton’s, em funcionamento desde 1979, na esquina da Robertson com a Melrose, iria fechar portas, e que no seu lugar o hoteleiro inglês Nick Jones criaria um clube privado, o The Soho House West Hollywood.

Em 2012, The Hollywood Reporter compilou uma história oral da casa e daquelas 19 mesas onde o poder se sentou ao longo de vários anos, com o seu big big money nos bolsos. Lembrou também como foi aqui que Eddie Murphy selou o seu milionário acordo com a Paramount em 1987, ou como Jennifer Lopez celebrou o seu noivado com Chris Judd em 2001.

GettyImages-156080105

Steven Tisch, Nancy Reagan, e Graydon Carter na sétima edição da festa da VF © Getty Images

À entrada para o novo milénio, alguns aspetos mudaram, ao sabor das transformações na própria indústria. Fortaleceram-se os contactos e contratos com as casas de moda, conglomerados de luxo, e o dress code consolidou o seu protagonismo. A festa da VF tornava-se uma apetecível montra a par e passo com a cultura das celebridades. Basta ver como os 20 fotógrafos que se alinharam junto à red carpet na festa inaugural passaram a ser 50 nos primeiros anos de 2000. Em 2009, a festa transitou para o Sunset Tower Hotel, beneficiando do ambiente Art Deco e de uma vista panorâmica da cidade. Por aqui permaneceu por cinco anos.

Ao longo dos anos 2010, a festa conheceu ainda outro cenário, o centro para as Artes Performativas Wallis Annenberg, em Beverly Hills, onde se mantém até à data. Apesar de os níveis de exclusividade continuarem nos píncaros, o evento cresceu de forma substancial e inclui hoje um jardim exterior, um lounge, e o estúdio do fotógrafo Mark Selinger, responsável por outra instituição: as fotos intimistas dos vencedores da noite com o seu prémio.Acrescente-se que o evento é hoje responsável por fechar uma rua inteira na noite dos Óscares.

Em 2023, a Vanity Fair regressou às suas próprias origens, para contar a história do evento anual onde “Não há zona VIP”, notava em 2013 Frank DiGiacomo. Afinal, entre titãs da indústria, atletas, manequins, empresários e outros magnatas, a fauna pertence de forma genérica à mesma classe. Entretanto, convém não desprezar o facto de que a concorrência apertou, de Elton John a Jay-Z.

Desde 2018, cabe à diretora Radhika Jones ser a anfitriã de serviço no jantar/festa da Vanity Fair. Quando a passadeira vermelha dos prémios chega ao fim, logo é desenrolada uma blue carpet não menos ocupada pelas estrelas. Este domingo, espera-se semelhante cardápio, e poderá acompanhar boa parte do que se passa via streaming. Para recuperar as imagens de 1994, basta correr a fotogaleria em cima.