A economia portuguesa vai crescer, em 2024, muito mais do que o previsto há poucos meses. O Produto Interno Bruto (PIB) irá, segundo as novas projeções do Banco de Portugal, divulgadas esta sexta-feira, expandir-se em 2% – bem acima dos 1,2% que o supervisor financeiro estimou em dezembro. É, também, bastante mais do que os 1,5% previstos pelo Governo no Orçamento do Estado apresentado em outubro.

Na edição de março do Boletim Económico, um relatório que o Departamento de Estudos Económicos atualiza trimestralmente, o Banco de Portugal afirma que, depois dos 2% de 2024, a economia portuguesa vai continuar a acelerar no ano seguinte, com um crescimento de 2,3% em 2025. O ano de 2026, o último ano deste horizonte de projeção, a economia cresce praticamente o mesmo: 2,2%.

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, confirmou em conferência de imprensa que esta é uma “previsão [que] traz boas notícias” porque é um “crescimento estrutural” (e não apenas conjuntural). Mas, na iminência de mudança de Governo, Centeno avisa que “a condução das políticas económicas deve preservar uma margem para a próxima crise, que é das poucas certezas que temos, que vai existir”.

“O País não pode perder a oportunidade, num período de crescimento económico, continuar a preparar a próxima crise. A margem financeira que existe deve ser colocada ao serviço do futuro e não no presente”, afirmou Mário Centeno, na apresentação do boletim económico.

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Mais investimento, mais exportações e o dobro do consumo privado

Estas são taxas de crescimento económico que beneficiam, diz o Banco de Portugal, do “aumento do investimento e das exportações“. É um cenário, acrescenta o supervisor, que “supera o projetado para a área do euro“, onde algumas das maiores economias têm apresentado ritmos de crescimento muito reduzidos. Em contraste, o Banco de Portugal salienta que no final de 2023 a economia portuguesa cresceu 0,8% em cadeia, uma aceleração trimestral muito rápida depois de “dois trimestres de estagnação” (o segundo e o terceiro trimestres). O mesmo valor, para o quarto trimestre de 2024, já tinha sido calculado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no final de janeiro.

Consumo das famílias não treme e dá presente à economia no final do ano

Apesar de o Banco de Portugal destacar, para 2024, o investimento (que subirá 3,6% e não 2,4% como previsto em março) e as exportações (que vão crescer 3,5% e não 2,4%), a análise do departamento de estudos económicos também mostra um contributo muito importante do consumo privado, que será mais do que o dobro do que o previsto em dezembro: 2,1% versus 1%.

O consumo privado cresce, em média, 1,9% em 2024-26, num contexto de ganhos de rendimento disponível real e de aumento da poupança. O rendimento disponível real das famílias sobe 4% em 2024 e 1,9% em 2025-26, beneficiando da descida da inflação e das expetativas de redução da taxa de juro, da dinâmica dos salários e das prestações sociais, e da redução dos impostos diretos”, afirma o Banco de Portugal.

As exportações, diz o Banco de Portugal, vão “manter-se como um dos principais motores do crescimento da economia. Sobem, em média, 3,6% em 2024-26 e dão um contributo (líquido de conteúdo importado) de 0,9 pontos percentuais para a variação média do PIB neste período”. O investimento, por seu turno, irá melhorar “em reação à recuperação da procura global, ao alívio gradual das condições de financiamento e à maior execução financeira do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e de outros fundos europeus”.

Neste cenário mais otimista, a expectativa do Banco de Portugal é que a taxa de desemprego nunca excede os 6,5% em todo o horizonte de projeção (até 2026), ao passo que em dezembro se admitia subidas para valores superiores a 7% nos próximos anos.

O boletim traz, também, boas notícias na inflação. A expectativa do Banco de Portugal é que a “inflação diminui para 2,4% em 2024, apesar de efeitos temporários sobre os preços dos bens alimentares e energéticos ao longo do ano”. Mas já em 2025, a inflação deverá situar-se em 2%, e no ano seguinte, em 1,9%.

A convergência da inflação para valores consistentes com a estabilidade de preços reflete menores pressões externas e os efeitos das decisões passadas de política monetária”, afirma o Banco de Portugal.

Apesar deste cenário global muito otimista, que o Banco de Portugal apresenta, admite-se que existem “riscos em baixa para a atividade” económica. “O crescimento da economia pode ser restringido, externamente, pela escalada das tensões geopolíticas, pelo abrandamento da procura externa e por um maior impacto do aperto verificado nas condições financeiras. Internamente, a incerteza na condução da política económica e os atrasos na execução dos fundos europeus são os principais riscos”, avisa o Banco de Portugal.

Na inflação, os riscos são “equilibrados”, admitindo, que existem “riscos associados a perturbações nos mercados energéticos” que “são mitigados por um possível maior impacto das decisões passadas de política monetária nos preços”.