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As tropas russas estão a retirar-se da região de Nagorno-Karabakh, no Azerbaijão, onde têm estado estacionadas como forças de manutenção da paz desde o fim de uma guerra em 2020, disseram funcionários dos dois países esta terça-feira.
Numa videoconferência com jornalistas, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou relatos da retirada, mas não avançou mais pormenores.
Hikmet Hajiyev, chefe da política externa da administração presidencial do Azerbaijão, confirmou a retirada, dizendo que foi acordada por ambos os países, mas não explicitou por que razão as forças russas estavam a sair do enclave, apesar de ser reconhecido que a presença russa se tornou supérflua depois de o Azerbaijão ter recuperado o controlo total da região no ano passado.
A região de Nagorno-Karabakh esteve sob o controlo da etnia arménia até à guerra de 2020, que resultou na recuperação do controlo de partes do enclave por Baku.
A guerra terminou com um cessar-fogo mediado pela Rússia que previa a colocação de cerca de 2.000 soldados de manutenção da paz nas partes de Karabakh que ainda eram detidas pelos arménios.
Entre os deveres destas forças estava o de assegurar a livre passagem na única estrada que liga Nagorno-Karabakh à Arménia.
No entanto, o Azerbaijão começou a bloquear a estrada no final de 2022, alegando que os arménios a estavam a utilizar para o transporte de armas e contrabando de minerais. Na altura, as forças russas não intervieram.
Devido ao bloqueio, e após meses de uma escassez cada vez maior de alimentos e de medicamentos em Nagorno-Karabakh, o Azerbaijão lançou um ataque fulminante em setembro de 2023 que obrigou as autoridades arménias de Nagorno-Karabakh a capitularem após um dia de negociações mediadas pelas forças russas.
Depois de o Azerbaijão ter recuperado o controlo total do enclave, que tinha uma população de cerca de 120.000 habitantes, mais de 100.000 arménios fugiram da região, embora Baku tenha dito que eram bem-vindos a ficar e prometido que os seus direitos humanos seriam garantidos.
Mas, além da retirada das tropas russas, a Arménia e o Azerbaijão anunciaram esta terça-feira terem começado a demarcar a fronteira comum, um passo importante para os dois países do Cáucaso, que travaram várias guerras por questões territoriais, apesar de, no terreno, a situação estar a complicar-se.
Num comunicado, o Ministério do Interior do Azerbaijão declarou que grupos de peritos estão “a clarificar as coordenadas com base num levantamento geodésico do terreno”.
O Ministério do Interior arménio, que confirmou que estavam a ser realizados “trabalhos de demarcação” na fronteira, excluiu “a transferência de qualquer parte do território soberano da Arménia” para Baku na sequência deste processo.
No mês passado, o primeiro-ministro arménio, Nikol Pachinian, aceitou um pedido de Baku para a devolução de quatro aldeias fronteiriças confiscadas pelas forças de Erevan durante uma guerra na década de 1990.
A decisão desencadeou manifestações de centenas de arménios da região fronteiriça, que receiam ficar isolados e sob controlo de Baku.
Segunda-feira, bloquearam brevemente a estrada que liga a Arménia à Geórgia, que passa nas proximidades e representa para a população local a principal ligação ao mundo exterior. Tentaram também impedir os trabalhos de desminagem.
Esta terça-feira, entretanto, eclodiram novos protestos em vários locais da Arménia, nomeadamente perto do lago Sevan e da cidade de Noyemberyan.
Na semana passada, os dois países rivais anunciaram a sua intenção de demarcar a sua fronteira com base em mapas que datam da era soviética.
Pachinian sublinhou a necessidade de resolver os diferendos fronteiriços para “evitar uma nova guerra” com o Azerbaijão.
As duas ex-repúblicas soviéticas travaram duas guerras, a primeira na década de 1990, vencida pela Arménia e que provocou mais de 30.000 mortos, e a segunda em 2020, vencida pelo Azerbaijão e que deixou mais de 6.000 mortos.
Após a derrota arménia em 2020, Erevan foi forçada a ceder ao seu adversário um território significativo em Nagorno-Karabakh e arredores, um enclave que controlava há cerca de 30 anos.