João Oliveira apontou esta quarta-feira aos candidatos do PS e da AD, dizendo que não podem demarcar-se do trabalho desenvolvido pelos deputados dos respetivos partidos no Parlamento Europeu ao longo dos últimos 5 anos. “Não estranhamos que façam agora de conta que não têm nada a ver com quem lá esteve”, ironizou, no primeiro comício oficial da campanha da CDU, no Parque de Feiras e Exposições de Aveiro.

Perante um auditório cheio, o candidato continuou o ataque, referindo uma longa lista de opções políticas tomadas por PS, PSD e CDS que considera serem “contra os interesses do povo”. “Parece que não aprovaram sucessivas reformas da Política Agrícola Comum e da Política Comum de Pescas, que não estiveram de acordo com as alterações ao pacto de estabilidade e governação económica, que não acompanharam as políticas de resgate aos bancos com dinheiros públicos”.

Nesse sentido, pediu que não sejam esquecidas as ações que foram “contra tudo o que era decisivo para o povo” nestes últimos 5 anos. “Não podemos deixar que isto seja tratado com a política do ‘OMO, lava mais branco’. Era só o que faltava que agora se apagasse o registo e a memória”, referiu.

Como habitual, também as instituições europeias mereceram críticas. Desta vez, foi o Banco Central Europeu. O candidato sublinhou que o BCE “não prescinde” de políticas como o aumento das taxas de juro porque tem como objetivo “a redução e a contenção dos salários e ironizou com a ideia de que o BCE é independente, posição amplamente defendida por João Cotrim Figueiredo nos debates televisivos. “O que está na orientação do Banco Central Europeu, que é por aí vangloriado pela sua independência, é isto: decisões independentes dos interesses dos povos, políticas independentes do bem estar de quem trabalha”.

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João Oliveira terminou, depois, acusando a instituição liderada por Christine Lagarde de estar de costas voltadas para o povo. “Quando nos vêm falar de independência, nós perguntamos: independência de quem? Estão submetidos aos interesses da banca, dos grupos económicos e financeiros”.

Um calcanhar de aquiles chamado Ucrânia

O momento mais difícil deste 3º dia de João Oliveira até foi curto, mas pode obrigar a redefinir estratégias. A meio da tarde, no início de uma arruada na Marinha Grande, o candidato foi abordado por uma mulher que tocou num dos pontos mais sensíveis desta campanha às europeias: a guerra na Ucrânia. “Acho que as pessoas ainda não perceberam bem o tema da Ucrânia“, disse a um eleitor. Apanhado de surpresa, João Oliveira garantiu que se tem esforçado por explicar “às claras” a posição que defende.

A resposta, no entanto, não foi suficiente: “Quando não há paz, nós temos de nos defender”, sublinhou a mulher. Os dois acabaram por se despedir, com o candidato comunista a dizer apenas que a guerra “é um dos problemas” que a CDU quer resolver nos próximos.

A situação não é surpreendente e pode voltar a acontecer, dada a popularidade da causa ucraniana. O candidato da CDU, relembre-se, tem repetido uma posição neutral em relação ao conflito, garantindo sempre que quer apenas a paz. Para isso, como tem explicado, não pode haver lugar a qualquer tipo de apoio militar, mesmo que seja destinado ao lado que foi invadido na guerra. No último debate nas televisões com os partidos com assento parlamentar, João Oliveira defendeu que a paz pode ser alcançada através de um acordo entre ambas as partes. À senhora que o interpelou, disse apenas que “continuar com guerra é que não pode ser“.

A iniciativa, de resto, correu bem. Historicamente, o eleitorado da Marinha Grande está muito ligado à CDU, o que foi visível nas ruas. Juntando à já considerável mancha humana que acompanhou o candidato nas ruas com bandeiras, tambores e cânticos, foram várias as pessoas a parar para falar ao candidato. Desta vez, João Oliveira veio com nova estratégia para “obrigar” o diálogo: pedir que lhe digam um aspeto que está mal no país. As respostas foram variadas mas a mais ouvida foi a questão dos salários.

Mais tarde, ainda em discurso na Marinha Grande, o comunista posicionou-se a favor dos direitos laborais. Usando o testemunho de uma senhora que o interpelou na rua, prometeu ser uma “voz firme” pelos direitos das mulheres no trabalho, lembrando que o trabalho com direitos é “condição essencial para a igualdade entre mulheres e homens.

“Milhares de mulheres veem diariamente os seus direitos laborais postos em causa”, afirmou João Oliveira, sublinhando que o género feminino é prejudicado na “organização do trabalho, no pagamento do salário e na desregulação dos horários”. Por estas razões, e por considerar que a luta pela igualdade entre homens e mulheres não pode ser travada a nível nacional, prometeu lutar pelos direitos de maternidade.

Também a “lei da selva” que reina no trabalho por turnos foi alvo das críticas do comunista, que pediu mais respeito pela “conciliação da vida familiar com a vida profissional”. Nesse sentido, criticou as várias empresas que recorrem sem necessidade a este tipo de organização do trabalho. “Até empresas de batatas fritas organizam o trabalho em 3 turnos de 8 horas”, referiu, antes de perguntar: “Qual é a necessidade social das batatas fritas que possa justificar a desarticulação da vida familiar e da vida profissional dos trabalhadores?”