A última segunda-feira perdurará na memória de Olga Kharlan e do povo ucraniano. A queda de joelhos da esgrimista não passou do sinal do feito que tinha acabado de alcançar. O beijo da pista foi o consagrar de um trabalho de três anos que culminou com a medalha de bronze na prova do sabre nos Jogos Olímpicos. Foi, assim, a primeira medalha conquistada pela Ucrânia em Paris.

Ainda que o cenário geopolítico do país do leste europeu pouco permita acompanhar as olimpíadas que decorrem na capital francesa, a medalha foi recebida com grande satisfação. Kharlan sentiu-o, mesmo que já tivesse conquistado quatro medalhas olímpicas no passado. “É realmente especial para mim. É especial porque é para o meu país. É para as pessoas na Ucrânia, é para os militares, é para os atletas que não puderam vir aqui porque foram mortos pela Rússia”, partilhou a esgrimista depois de conquistar o bronze.

“É também para todos os atletas que estão aqui a representar a Ucrânia. Vocês não têm ideia de como é difícil a preparação, estar confiante e estar focado na competição quando a casa [deles] está sob ataque todos os dias. É realmente difícil. Estamos a mostrar a todos que podemos lutar. Nós não desistimos e eu mostrei isso, de alguma forma”, acrescentou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O apoio do público presente no Grand Palais a Kharlan ficou na retina de quem assistiu à luta pela medalha de bronze. Mais ainda depois de a ucraniana ter perdido na meia-final frente à atleta da casa, Sara Balzer, e que viria a ficar com a prata. “Isso ajudou-me de alguma forma. Queres quer fazer isso [vencer] pela tua família, por ti mesmo. Estive em casa cinco vezes, provavelmente apenas uma semana. São todos os sacrifícios. Todas as notícias, todos os momentos trágicos que temos, por exemplo quando a Rússia bombardeia [a Ucrânia] e mata pessoas. Todos nós aceitamos isso. É por isso que é difícil”, relembrou.

Um ídolo para os atletas ucranianos

As conquistas e o seu “ativismo” fizeram de Olga Kharlan uma figura do desporto ucraniano. Em julho de 2023, nos Mundiais de esgrima, a ucraniana foi desqualificada por se ter recusado a apertar a mão da russa Anna Smirnova, depois de a ter derrotado, perdendo ainda pontos importantes na luta pela qualificação olímpica. Na esgrima, por regra, as adversárias são obrigadas a cumprimentar-se.

Atleta russa ficou 50 minutos sentada em protesto por adversária ucraniana a ter deixado de mão estendida. Foram ambas desqualificadas

Um mês antes, em entrevista à Deutsche Welle, Kharlan criticou a presença de alguns atletas russos nas competições da esgrima, como participantes neutros. “Queremos mostrar ao mundo que um país que é um Estado terrorista não pode participar em competições enquanto a guerra ainda está em curso”, disse, na altura.

Perante isso, Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), garantiu que Kharlan tinha a presença assegurada em Paris. A esgrimista não aceitou o convite e apurou-se por mérito próprio, à semelhança dos companheiros. “É incrível. Em primeiro lugar, fiz isto sozinha com a equipa. Não com o wildcard. Estou aqui com a equipa que está em terceiro lugar no ranking. A minha equipa começou a temporada em 19.º lugar no ranking. É por isso que somos incríveis”, sublinhou.