Depois de ter feito apenas uma publicação em mais de três anos, Donald Trump regressou à rede social X com uma publicação e uma entrevista a Elon Musk, o dono da rede social.

A conversa de mais de duas horas, que estava prevista para as 20 horas, uma da manhã em Lisboa, começou com um atraso de mais de 40 minutos. Musk justificou o atraso com um “ataque cibernético maciço” à rede social. De acordo com o empresário, o intuito do alegado ataque passaria pela sobrecarga dos servidores da empresa para provocar uma interrupção na conversa.

Até agora, o dono da rede social não avançou mais detalhes sobre o alegado ataque.

Pelos dados disponíveis, cerca de 18,8 milhões de pessoas entraram no “Espaço” de Trump na rede social, o nome dado à funcionalidade que permite acompanhar conversas em áudio. Segundo a Reuters, o pico de ouvintes terá rondado os 1,3 milhões. Pelas contas de Musk, os números são ainda mais expressivos, na ordem de “cerca de mil milhões de visualizações, tendo em conta “visualizações combinadas e a consequente discussão noutra contas”.

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A conversa ficou marcada pela troca de elogios entre os dois. Trump agradeceu a Musk, que anunciou oficialmente o apoio ao candidato republicano em julho; em troca, o homem mais rico do mundo gabou a reação do antigo Presidente dos EUA durante o atentado de 13 de julho, num comício na Pensilvânia. Além do atirador, morreu uma pessoa que assistia ao comício.

Num dos pontos da conversa, Trump ironiza com um “agradecimento”. “A imigração ilegal salvou-me a vida, tem razão”, disse a Musk. O candidato republicano referiu-se ao momento em que virou a cabeça para olhar para o slide, desviando-se da bala no momento exato do atentado.

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Trump destacou ainda a disponibilidade de Musk para fazer despedimentos em resposta a movimentos de trabalhadores que pedem melhores condições nas várias empresas do sul-africano. “É o maior a fazer cortes”, cita a Reuters. “Quer dizer, eu vejo o que faz. Chega lá e diz só: ‘ok, quer despedir-se?’ Eles entram em greve — não vou mencionar o nome da empresa — mas entram em greve. E diz: ‘está tudo bem, estão todos fora.’”

No fim da conversa, Musk transmitiu que “estamos numa encruzilhada na estrada do destino da civilização”, refere que é preciso “escolher o caminho certo” e que Trump “é o caminho correto”.

Antes da conversa, a primeira publicação de regresso ao X, foi de ataque aos democratas.  “Eles querem tirar-me a minha liberdade, porque nunca vou deixar que eles tirem a vossa liberdade. Eles querem silenciar-me, porque nunca vou deixar que eles vos silenciem. Eles não estão atrás de mim, eles estão atrás de vocês e eu estou no caminho deles e nunca me vou mexer“. Foi esta a mensagem transmitida no vídeo de campanha publicado por Trump, no seu regresso ao X (antigo Twitter), horas antes da entrevista.

O ex-Presidente foi banido do Twitter em janeiro de 2021, depois de os seus apoiantes terem invadido o Capitólio, incidente no qual morreram quatro pessoas. A plataforma considerou que as publicações de Trump incitaram à violência, o que constituiu uma violação dos regulamentos da rede social, e desativaram a sua conta.

Contudo, em 2022, o Twitter acabou por ser comprado por Elon Musk, que o renomeou X e alterou os regulamentos das publicações. Desde aí, o magnata da tecnologia e apoiante de Donald Trump tentava convencê-lo a regressar à plataforma.

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O republicano recusou o convite, preferindo continuar a publicar na rede social que fundou, a Truth Social, que é constituída principalmente pelos seus apoiantes. Desde a reativação da conta de Trump no X, este fez apenas uma publicação: da sua mugshot, quando foi detido em agosto de 2023.

Esta segunda-feira, o ex-Presidente, que concorre novamente à Casa Branca, quebrou quase um ano de silêncio com seis publicações na sua conta do X, em menos de uma hora. Para além de dois vídeos de campanha, Trump deixou uma publicação em que questiona: “Estão melhor do que quando eu era Presidente? A nossa economia está destruída. A nossa fronteira foi apagada. Somos uma nação em declínio”, um eco das publicações que costuma fazer no Truth Social. Publicou ainda um vídeo crítico de Kamala Harris, uma compilação de momentos da vice-Presidente, destinado a ilustrá-la como uma “radical”.

As restantes publicações ajudam a explicar o regresso de Trump ao X: foi anunciada a conversa com Elon Musk. O encontro é uma vitória para ambos, nota o The New York Times. Para Musk, que conseguiu convencer Trump a regressar ao X. Para o republicano, que reuniu o apoio de um dos homens mais ricos do mundo para a sua campanha.

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Em resposta ao anúncio desta conversa, Thierry Breton, Comissário Europeu para o Mercado Interno, publicou uma carta, em que lembra a Elon Musk que esta deve obedecer ao Regulamento dos Serviços Digitais da UE, uma vez que vai estar disponível para cidadãos da comunidade europeia. Isto implica não participar na partilha de desinformação ou “amplificação de conteúdo terrorista ou que incite à violência, ódio e racismo”.

“Com um grande público, vem uma grande responsabilidade”, escreveu Breton no X, assinalando que Musk não tem cumprido com esta lei nas suas publicações sobre os motins anti-imigração no Reino Unido.

Em resposta ao Comissário Europeu, Musk publicou uma fotografia com uma “recomendação” insultuosa. Já um porta-voz da campanha de Donald Trump considerou que a UE “devia meter-se na sua vida, em vez de tentar interferir nas eleições presidenciais dos EUA”.

(Atualizada às 11h03 com mais informação)