A relação de Vladimir Putin e Donald Trump não terá acabado no momento em que o até então Presidente dos Estados Unidos deixou o cargo. Desde que saiu da Casa Branca, em 2021, o magnata terá falado com o líder russo sete vezes, incluindo no início deste ano. Ainda em 2020, o norte-americano terá dado a Putin testes para detetar a Covid-19 — que na época eram raros. As informações constam do livro War, (Guerra), do famoso jornalista Bob Woodward, que será publicado na próxima semana, cujo excerto foi publicado pelo New York Times, o WashingtonPost e a CNN.
No início de 2024 em Mar-A-Lago, no estado americano da Florida, o antigo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terá pedido a um dos seus funcionários que saísse do escritório onde se encontravam para que pudesse falar ao telefone com Vladimir Putin. O episódio está relatado no livro, onde se lê ainda que, de acordo com este funcionário (cuja identidade permanece desconhecida), desde que Trump deixou a presidência americana, ambos falaram cerca de meia dúzia de vezes.
No livro, não consta qualquer informação sobre daquilo que Trump e Putin discutiram ao telefone e também não é apresentado nenhum detalhe sobre as outras chamadas que o funcionário do antigo Presidente garante terem acontecido.
Na obra é também divulgado que, enquanto Trump ainda assumia a liderança dos Estados Unidos no início da pandemia por Covid-19, terá enviado testes a Vladimir Putin. O objetivo era possibilitar ao Presidente russo ficar a saber se estava ou não infetado com o vírus que entretanto se espalhou por todo o mundo.
Foi o próprio Presidente da Rússia que terá pedido depois a Donald Trump que não partilhasse com ninguém o que tinha acontecido, argumentando que podia prejudicar a sua imagem política. Segundo o livro, Putin disse: “Não quero que conte a ninguém porque as pessoas irão ficar zangadas consigo, não comigo.”
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Não foi apenas sobre Donald Trump que o jornalista — um dos que revelaram o escândalo Watergate (que levou à queda do Presidente Nixon) — escreveu. Também falou de Joe Biden e da sua relação com o Presidente russo. De acordo com a CNN, o Chefe de Estado norte-americano tinha uma visão bastante mais negativa do seu homólogo russo. Quando as tropas russas entraram em território ucraniano, o líder dos Estados Unidos terá desabafado: “Esse cabrão do Putin. Putin é malvado. Nós estamos a lidar com o epítome do mal”.
Adicionalmente, os conselheiros de Joe Biden terão ficado alarmados, em setembro de 2022, com a possibilidade de a Rússia usar uma arma nuclear na Ucrânia. Terá havido mesmo 50% de chance de Vladimir Putin detonar armamento nuclear em território ucraniano, por causa das derrotas que as tropas russas sofreram naquele mês, com a perda da província de Kharkiv para a Ucrânia.
Ainda sobre a Ucrânia, Joe Biden terá deixado críticas aos seus conselheiros da forma como o seu antecessor, Barack Obama, lidou com Vladimir Putin. “O Barack nunca levou o Putin a sério”, terá desabafado o Presidente norte-americano, numa alusão à forma como Washington reagiu na sequência da anexação da Crimeia pelas tropas russas em 2014.
Trump e o Kremlin desmentem Woodward
Em reação, num comunicado citado pelo The Guardian, o diretor da campanha de Donald Trump desmentiu estes relatos. “Nenhuma destas histórias de Bob Woodward é verdadeira e resultam do trabalho de um homem demente e transtornado que sofre de um caso de síndrome de perturbação de Trump”, acusou Steven Cheung, acrescentando que o jornalista é um “homem pequeno e furioso que está claramente irritado porque o Presidente Trump o processou”.
Mantendo o tom de insulto, Cheung continuou: “O Presidente Trump não lhe deu qualquer acesso [para escrever] este lixo que pertence às estantes de pechinchas de uma secção de ficção numa livraria de descontos ou então que pode ser usado como papel higiénico”. Acusou ainda Woodword de “estar mentalmente debilitado. É lento, letárgico, incompetente e uma pessoa aborrecida sem personalidade”.
De Moscovo chegou outro desmentido. Nem Trump manteve o contacto, nem Putin recebeu testes Covid-19 enviados pelo então Presidente dos Estados Unidos, garante o porta-voz do Kremlin. “Isto não é verdade”, respondeu Dmitry Peskov numa mensagem citada pelo The New York Times. “É uma história falsa típica no contexto de uma campanha política pré-eleitoral”.
As revelações surgem no livro deste veterano da investigação jornalística — que trabalha há 50 anos no Washington Post e venceu dois prémios Pullitzer — a semanas antes da eleição presidencial que coloca Kamala Harris e o antigo Presidente Donald Trump frente a frente.