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A culpa é da Ucrânia, o Ocidente tem medo e a Rússia quer negociar a paz. Foram estas as ideias principais que Vladimir Putin quis transmitir durante a conferência de imprensa de encerramento da cimeira dos BRICS — bloco originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e entretanto alargado a mais países. O Presidente russo falou com os jornalistas em Kazan, na Rússia, antes de se ir reunir com seis chefes de Estado presentes e com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

“Não foram as ações da Rússia que escalaram o conflito, foi o golpe de estado de 2014”, indicou o Presidente da Rússia, citado pela agência estatal russa TASS. Putin acusa Washington apoiar a revolta Euromaidan na Ucrânia há dez anos que expulsou o então Presidente ucraniano Viktor Yanukovych, afastando Kiev da esfera de influência de Moscovo, e levou ao levantamento pró-Moscovo no Donbass, no leste do território ucraniano, instigado pelo Kremlin, e deu início à guerra que acabou com a ocupação e anexação da Crimeia.

Nas mesmas declarações, Putin adianta que, neste momento, o exército russo “age com firmeza em todas as direções” e está a avançar “em todos os setores da linha de contacto”.

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Sobre Kursk, as perdas ucranianas atingem as 26 mil pessoas, segundo Putin, e cerca de 2.000 soldados estão atualmente cercados na região. Adicionalmente, o chefe de Estado russo considera que esta primeira e única ofensiva da Ucrânia foi a sua tentativa de influenciar as eleições norte-americanas, evidenciando que os investimentos multimilionários dos Estados Unidos da América em apoios militares não estavam a ser feitos em vão. Ainda sobre os EUA, Putin mostrou-se disponível para cooperar com os líderes do país, depois das eleições de 5 de novembro, apenas se for um sentimento recíproco. “Se eles não quiserem, então não o façam”.

Vladimir Putin fez ainda uma menção às declarações de Donald Trump no início desta semana em entrevista ao Wall Street Journal, onde o ex-Presidente norte-americano e atual candidato à Casa Branca revelou ter “ameaçado” Putin, numa tentativa de evitar a ofensiva russa na Ucrânia. “Vou atacar com tanta força, mesmo no meio de Moscovo”, disse Trump a Putin, prevendo um cenário de ataque russo. O Presidente da Rússia, no entanto, questionado sobre estas afirmações, diz que “não se lembra” de tal conversa.

E os soldados norte-coreanos? “Fotografias são uma coisa séria; se existem, então quer dizer que refletem algo”. Foram estas as afirmações crípticas e pouco claras de Vladimir Putin sobre as imagens captadas pela Coreia do Sul, que revelavam a presença de militares da Coreia do Norte em solo russo. Adicionalmente, Putin afirmou que nunca duvidou das intenções de Pyongyang em implementar o acordo de cooperação militar em termos de defesa conjunta, acabando por não confirmar as alegações levantadas por Kiev, Washington e Seul.

[Já saiu o quarto episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio, aqui o segundo e aqui o terceiro.]

O Presidente da Rússia acusou também as forças ocidentais de expandirem a NATO “injustamente” para as proximidades da Rússia e reforçou que iria conseguir alterar a situação, cita a agência TASS. “Nós dissemos: não o façam, isso viola a nossa segurança”, referiu Putin, acrescentando que perante a “injustiça”, querem “mudar o cenário, e vão conseguir”. O chefe de Estado russo indica “estar pronto para esta escalada”, afirmando que, na verdade, o Ocidente “tem medo” da forma como o conflito pode afetar a situação internacional.

“Comportamento dos líderes da Ucrânia é muito irracional”

Vladimir Putin voltou a frisar que um acordo de paz com a Ucrânia deve basear-se na realidade do campo de batalha, onde o exército de Moscovo controla quase 20% do território ucraniano.

“Estamos prontos para considerar quaisquer conversações de paz com base nas realidades locais. Não estamos prontos para fazer mais nada”, declarou, para logo a seguir lançar o desafio:

“A bola está do lado deles”, disse Putin, depois de ouvir, durante a cimeira, os apelos dos representantes da China, Índia e Brasil para um imediato alívio da violência na Ucrânia e para o rápido início das conversações de paz. O líder do Kremlin diz-se aberto a negociações, mas insistiu que Kiev se recusa a dialogar com Moscovo.

“Todos estão concentrados em pôr fim ao conflito o mais rapidamente possível e de preferência de forma pacífica”, frisou Putin.

No entanto, disse também que “o comportamento dos líderes da Ucrânia é muito irracional”, depois de ter revelado que os mediadores turcos, diante as negociações de paz em Istambul ainda em 2022, propuseram vários acordos, mas que no dia seguinte a serem avançados, Zelensky recusou. Putin sublinha que está pronto para considerar qualquer opção para os acordos de paz com a Ucrânia, uma vez que é “melhor sentar-se nas mesas de negociação do que proclamar as perdas da Ucrânia no campo de batalha”, mas que o regime de Kiev não está interessado, porque teriam de “levantar a lei marcial e convocar eleições”.

Na quarta-feira, Kiev congratulou-se pela falta de referências na declaração final da cimeira dos BRICS à “visão neoimperialista russa de mudar a ordem mundial e a arquitetura de segurança global através da sua agressão contra a Ucrânia”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano frisou, em comunicado, que o parágrafo dedicado à Ucrânia da declaração da cimeira só refere as posições nacionais dos países participantes e “o seu compromisso com os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, bem como com um acordo pacífico e com a diplomacia” para terminar a guerra iniciada pela Rússia em fevereiro de 2022.

Esta quinta-feira o Presidente russo agradeceu a atenção prestada por todos os parceiros ao conflito ucraniano e “procurarem uma forma de o resolver”.

O anfitrião da 16ª cimeira dos BRICS concluiu o evento com uma nota positiva sobre a influência do bloco na segurança global, com um reforço de António Guterres, que proferiu essas mesmas palavras umas horas antes. Ainda assim, no 79º aniversário da implementação da Carta das Nações Unidas, depois de ter ouvido valentes críticas sobre a organização em Kazan, Guterres deixou um apelo à paz na Ucrânia e no Médio Oriente, de acordo com os parâmetros definidos pela ONU.

Texto editado por Dulce Neto