Marco Paulo morreu esta quinta-feira aos 79 anos “em paz e rodeado de todos os cuidados e o amor da família, amigos e fãs”. A família do cantor despede-se do “homem lutador, sorridente e generoso, que ao longo de 58 anos marcou gerações e milhares de pessoas, tornando-se um nome incontornável da música portuguesa”.

“A sua voz inconfundível e o seu talento permanecerão para sempre na memória daqueles que o acompanharam ao longo dos anos. Teremos saudades!”, afirmaram os familiares num comunicado partilhado nas redes sociais em que pedem privacidade e indicam que “em breve serão anunciadas as cerimónias fúnebres para que todos possam prestar uma última homenagem” ao intérprete de Eu Tenho Dois Amores.

A notícia da morte de Marco Paulo foi recebida pelo Presidente da República com “pesar”, com Marcelo Rebelo de Sousa a lembrar que o cantor esteve “presente na vida musical portuguesa longas décadas” e a apresentar “os seus sentimentos à família, amigos e admiradores”.

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“Foi vencendo, vencendo, vencendo no final do século passado e no começo deste século até que a doença pôde mais do que ele. Mas está na memória de muitos portugueses e portuguesas e, nesse sentido, como um desses portugueses e como amigo, é com pesar que recebo a notícia, embora já quase esperada, do seu falecimento”, lamentou Marcelo Rebelo de Sousa em declarações aos jornalistas.

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Por sua vez, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, recorreu às redes sociais para apresentar as “condolências pessoais e do Governo à família e amigos” de Marco Paulo, que descreveu como uma “grande referência da cultura portuguesa” que deixa um “legado musical marcante, que atravessa gerações e une Portugal”.

Nuno Melo, ministro da Defesa Nacional, recordou Marco Paulo como “um dos mais populares cantores portugueses, que acumulou sucessos ao longo da vida” e que foi “aplaudido por muitas gerações”.

Em comunicado, também Dalila Rodrigues, ministra da Cultura, lembrou um cantor e compositor que “deixa uma obra vasta e eclética na música portuguesa, bem como um vínculo afetivo profundo na memória do público português”. “Imensamente popular, foi um dos artistas portugueses mais acarinhados da últimas décadas e cujas canções são conhecidas e entoadas por diferentes gerações. Com uma capacidade única de emocionar através da voz e da sua música, o seu contributo no cancioneiro da música portuguesa é ímpar.”

Em nome do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos enviou “as mais sentidas condolências à família, aos muitos amigos e aos milhões de admiradores” do artista, “uma das personalidades mais acarinhadas” pelos portugueses e que ao longo dos anos foi “uma figura essencial da música popular portuguesa.”

André Ventura, presidente do Chega, descreveu Marco Paulo como “uma das maiores referências da música portuguesa” e como um cantor que “levou o nome de Portugal por todo o mundo”. Numa publicação na rede social X, Ventura presta a sua “mais sentida homenagem” e envia “um forte abraço a todos os familiares e amigos”.

Também Carlos Moedas elogiou Marco Paulo, que tinha um “maravilhoso coração que marcou a música portuguesa e gerações inteiras, dos mais velhos aos mais novos”. Ao mesmo tempo, “foi símbolo de toda a luta contra as maiores adversidades: nunca desistiu, nunca parou de cantar, nunca deixou a sua paixão”.

As homenagens por parte dos amigos de Marco Paulo também já começaram a surgir, quer em programas de televisão ou rádio, quer nas redes sociais, ao longo das últimas horas. Susana Pinto, jornalista da TVI/CNN Portugal lembrou o artista como uma “pessoa muito divertida”, um “bom amigo”, “bem-disposto”, com “boa energia” e “muita fé” para lutar contra os cancros que enfrentou ao longo dos anos. “Tinha uma devoção a Nossa Senhora [de Fátima] e eu acho que era isso que o mantinha”, disse, acrescentando que o cantor “tinha a noção que era desta vez” que não conseguiria superar a doença.

Estive em casa dele há uns dias e tive a sensação de que me despedi dele. [Estava] bem-disposto, mas também dizia que já estava com muitas dores […] Estava em sofrimento. E nós temos de deixar os nossos amigos partirem porque isso também é ser amigo”, afirmou Susana Pinto, que se emocionou a falar sobre o cantor com a CNN Portugal.

Morreu Marco Paulo, um dos mais populares cantores portugueses

Também emocionado, o cantor Emanuel lembrou um colega e uma pessoa “exemplar”: “Tive o privilégio de lhe produzir dois discos, um em 1988 e outro em 1997/1998. Como profissional, não podia existir melhor. Era empenhadíssimo, com qualidades muito acima da média. Mais recentemente, em termos pessoais, começámos a tornar-nos muito mais chegados. Conheci um Marco a lutar pela vida muito sorridente, com um sorriso sempre largo.”

Emanuel lembrou Marco Paulo como uma “grande estrela”, que lutou todos os dias para continuar a viver e que “quis cantar, quis ser apresentador de televisão e quis estar junto do público até ao fim”. “Só mesmo quando não teve forças para o fazer é que deixou de o fazer”, afirmou, acrescentando que a carreira do cantor fazia “parte do seu dia a dia”. “O cantar, o pisar o palco, o gravar discos… para ele era como respirar. Amava verdadeiramente a sua carreira.”

De João Simão a Marco Paulo, o romântico que só queria ser cantor (1945-2024)

“Partiu a voz mais bonita que conheci em toda a minha vida”. Foi assim que Quim Barreiros reagiu à morte de um “amigo” que mantinha desde 1969. “É mais uma estrela que está no céu. E fica à minha espera”, disse, em declarações à CNN Portugal, lembrando o cantor como um “bom rapaz”, “educado” e uma “joia” que “gostava de brincar”.

À mesma estação televisiva, Toy lembrou um “homem de uma sensibilidade muito forte” que conseguiu “ao longo do tempo calar algumas voz que queriam muito desdenhar, dizer que era piroso”. Mais tarde, à Rádio Observador, o cantor sublinhou também a “humildade” de Marco Paulo, um artista que vê como uma “referência da música romântica”.

Toy: “As pessoas gostavam da humildade do Marco Paulo”

Simone de Oliveira destacou uma “voz inesquecível”, um “homem simples” e “de fé, que lutou até ao fim”; e disse que Portugal é esta quinta-feira um país “um pouco mais cinzento do que é costume”. Em declarações à agência Lusa, a cantora admitiu que o músico possa estar agora “num sítio onde ele gostaria de estar — talvez não tão cedo — mas um sítio ao pé daquela Virgem de quem ele tanto gostava, a que ele tanto rezava”.

O que ele gostava era de cantar […], de guardar os seus discos, as suas recordações”, disse Simone de Oliveira.

Rostos da SIC, onde nos últimos anos tinha o programa “Alô, Marco Paulo”, também já começaram a homenagear o cantor. Ana Marques, que também apresentava o programa, disse ter conhecido um “Marco com quem era muito fácil rir e brincar”. “Para mim, o Marco era a pessoa muito antes de ser o cantor, o artista. Era uma pessoa em estado puro, no bem e no mal. As canções ficam todas, mas a pessoa já não está cá. Essa é a parte que hoje custa mais”, afirmou, emocionada, no “Casa Feliz” junto a Diana Chaves e João Baião.

O programa deu-lhe saúde. Às vezes estava mal, passava as semana um bocadinho mais em baixo, receávamos se ele estava capaz [para gravar] — só que chegávamos aos dias do programa e ele renascia”, garantiu Ana Marques, que disse ainda “não acreditar” na morte do amigo.

Junto a Ana Marques, no “Casa Feliz”, Daniel Oliveira recordou Marco Paulo como alguém “muito divertido”, que gostava de “contar anedotas”, e que quis fazer o programa que tinha na SIC “até ao fim”. “Estive com ele há poucos dias e ele estava dividido entre dizer ‘eu acho que isto é uma despedida’, ter essa frieza, e ao mesmo tempo dizer ‘e quando é que gravamos o próximo programa?’. Dentro dele também havia essa luta entre aquilo que o corpo já não conseguia corresponder e por outro lado o espírito que se manteve sempre ativo de querer fazer mais, de ter esse entusiasmo de estar sempre em contacto com o público”, lembrou.

Uma entrevista inédita com Marco Paulo: “Vão sempre lembrar-se que há uns quantos anos havia um cantor que emocionava as pessoas”

No Instagram, alguns minutos depois, Daniel Oliveira voltou a recordar Marco Paulo: “Desafiou todos os terríveis diagnósticos que teve ao longos de três décadas e manteve-se fiel à pessoa que sempre foi. Nunca consensual, até porque raramente não dizia o que lhe vinha à cabeça, o que poderia ser bastante desconcertante. Tinha uma autoestima aprumada pelo tremendo sucesso que o tornou o mais popular dos cantores em Portugal, mas no fundo e até ao fim só queria ser gostado, ter atenção”. “Tinha uma voz portentosa e inimitável, que ficará viva, num legado ímpar que deixa ao cancioneiro popular português”, escreveu.

Também no programa “Casa Feliz”, Herman José partilhou a “nostalgia triste” que sente por perder uma pessoa com quem conviveu durante muitos anos. “Numa primeira fase”, os dois mantinham apenas uma relação cordial, mas ao longo dos anos aproximaram-se. “A idade amainou-nos, começámos a ficar mais humanos, mais queridos e acabámos numa amizade”, recordou, salientando que o amigo “via o mundo com olhos coloridos”. O programa que tinha na SIC era, no entender do humorista, “o grande responsável das horas de felicidade que o Marco Paulo teve nos últimos tempos”.

Nas redes sociais, as homenagens partilhadas por várias figuras públicas portuguesas, de todas as áreas, multiplicam-se. Com um “beijo carregado de saudades”, Teresa Guilherme lamentou a morte de Marco Paulo: “Que descanses em paz e obrigada por tanto amor ao público, com as tuas canções, que como tu, serão eternas.”

À Rádio Observador, Teresa Guilherme sublinhou que Marco Paulo era uma “inspiração para muitas pessoas” e recordou ainda a estreia do single Taras e Manias, que se viria a tornar num dos maiores êxitos do cantor, no seu programa “Eterno Feminino”.

Marco Paulo. “Era uma pessoa de fé”

A apresentadora Fátima Lopes recordou Marco Paulo como uma “pessoa que soube honrar a vida”, que nunca desistiu e que lutou “sempre até ao fim”. “Ensinaste-nos todos os dias o efeito e a força que o amor tem em nós. E ensinaste-nos que, rodeados desse amor, conseguimos superar-nos e conseguimos ir até onde achávamos que não seria possível. Foste sempre uma força da natureza, um verdadeiro vencedor. Devemos-te um enorme obrigado.”

Já Cristina Ferreira descreveu Marco Paulo como um “dos maiores artistas deste país”, que deixa “as canções mais emblemáticas”. “Nossa senhora lhe dê a mão”, escreveu numa publicação na rede social Instagram, em referência à conhecida música Nossa Senhora.

“Todos os aplausos de pé para quem viveu uma vida inteira para o seu público. Nunca o iremos esquecer. Obrigada, querido Marco Paulo“. Foram as palavras deixadas por Tânia Ribas de Oliveira, que esta quinta-feira dedica o seu programa diário, A Nossa Tarde, ao músico.

Ágata mostrou-se sem palavras e lamentou não ter tido “um momento” para se despedir de Marco Paulo: “Ficamos com a tua voz para sempre gravada em nós. Que Deus te receba na sua luz eterna de amor, tudo acaba.”

Mónica Sintra despede-se com as seguintes palavras: “Querido Marco. Hoje queria falar contigo. Receber o teu abraço e olhar para o teu sorriso. Serás eterno. Obrigada por tudo. E por casa coisa. Até sempre.”

“Sempre a sorrir como sempre nos recebeste e habituaste, é assim que vais ficar nas nossas memórias eternamente”, disse a cantora Romana.

No Facebook, Pedro Abrunhosa recordou a “voz da música popular e romântica que percorreu a vida de todos nós, intelectuais ou calceteiros, com a leveza de quem não quer incomodar mas apenas cumprir-se”. “Um país é o somatório de todos. Heróis ou anónimos, o fim chegará. Que, entretanto, a viagem tenha tido um pouco de todas as cores”, escreveu.

Já Tony Carreira lembrou um “grande artista que sempre amou a vida e tanto lutou por ela”, salientando a sua “eterna admiração, não só pelo artista, mas também pela pessoa incrível que foi e pela obra que deixa”. “Um abraço sentido à família, aos amigos e a todos os fãs que o acompanharam que ao longo da sua carreira. Que possamos continuar a recordá-lo através das suas canções que nos tocaram e marcaram tantas gerações.”

Por sua vez, Nuno Galopim, divulgador de música e diretor da Antena 1, lembrou a voz “rara e extremamente dotada” de Marco Paulo, um “fenómeno de uma altura em que quem o compra não é alguém que está numa outra geração a redescobrir memórias do passado”. “O Marco Paulo cria uma multidão de seguidores entre aqueles que, na sua geração e à volta dela, estão a vê-lo a crescer enquanto artista. Não cresce como fenómeno de nostalgia”, disse, à agência Lusa.

Apesar de não ser autor, ele vestia as canções, ele interpretava as canções, tornava-as suas e esse sentido de propriedade, aliado à tal grande voz fez com que ele somasse êxitos atrás de êxitos”, acrescentou.

Também à Rádio Observador, Nuno Galopim recordou alguns momentos vividos com o cantor e sublinhou o “amor” nítido dos portugueses pelo seu trabalho. O divulgador de música salientou que a voz de Marco Paulo “esteve representada em muitas casas”.

Marco Paulo. “A voz que esteve representada em muitas casas”

O jornalista Nuno Azinheira destacou um artista “único” na música portuguesa, que tinha um “ligação muito clara aos seus fãs” desde o tempo em que não existiam redes sociais. E realçou que, provavelmente, a voz de Marco Paulo teria um maior reconhecimento se “não tivesse nascido em Portugal”.

“Tinha este lado de ser muito gostado e de gostar se gostado. Esse temperamento é que fazia dele também uma pessoa tão especial para lá dos seus dotes vocais”, disse Nuno Azinheira à Rádio Observador.

“Goste-se ou não, Marco Paulo foi único”

A Câmara de Mourão, localidade do distrito de Évora de onde Marco Paulo era natural, vai decretar um dia de luto nacional para esta sexta-feira, com a colocação das bandeiras a meia-haste. O autarca João Fortes manifestou “estupefação” pela perda do cantor e, em conversa com a Lusa, revelou que “há sensivelmente um ano” tinham estado reunidos. “O objetivo era que ele cedesse parte do espólio artístico para que ficasse em plena exposição no concelho” que “adorava” e ao qual “se dedicou, particularmente quando superou a doença, pela primeira vez”. O projeto, “infelizmente”, não avançou.

Ainda assim, João Fortes espera que o “espólio e acervo” de Marco Paulo “possa ainda vir ter até Mourão, para que, sem interrupções, durante 365 dias por ano, quem quer que visite a vila” tenha a possibilidade de conhecer “a dedicação” do cantor “à música e à arte”. “Esperemos que, agora, com alguma ajuda e interlocução possamos concretizar de certeza este que era o sonho de Marco Paulo”, salientou.

De “Morena, Morenita” a “Taras e Manias”: o que aprendemos com as canções de Marco Paulo

A Câmara de Sintra, concelho onde Marco Paulo viva, também lamentou uma “grande perda” e anunciou que vai homenagear o artista. “Nós acompanhámos a doença dele e a evolução da doença dele e vamos preparar-lhe a homenagem que ele merece, porque realmente tem uma expressão nacional”, disse Basílio Horta, que é citado pela agência Lusa.