Siga aqui o nosso liveblog sobre os protestos na Grande Lisboa
O cardeal patriarca de Lisboa manifestou esta quinta-feira consternação pela “situação de violência e conflito” na região de Lisboa, considerando que “os fenómenos de violência são estranhos e esdrúxulos em relação ao que Portugal foi, é e quer ser”.
Num comunicado divulgado pelo Patriarcado de Lisboa, o patriarca Rui Valério lamentou “profundamente a perda de uma vida” e os vários feridos resultantes destes acontecimentos e sublinhou que “a violência nunca é o caminho para uma sociedade justa e feliz“, defendendo que o projeto de sociedade que a igreja preconiza “funda-se no reconhecimento da dignidade do outro, o que implica necessariamente o acolhimento”.
O patriarca de Lisboa “assinala que Portugal é profundamente marcado pela experiência da emigração e que isso fez com que seja um país perito na arte de acolher com humanismo todas as pessoas”.
“Por isso, os fenómenos de violência são estranhos e esdrúxulos em relação ao que Portugal foi, é e quer ser”, defendeu Rui Valério, que apela a que se “encetem caminhos de serenidade e de paz, fundados no diálogo e no respeito mútuo”.
O patriarca “apela também a todos para que se busque sempre o bem comum, que visa também a segurança — um bem muito precioso —, para o bom desenvolvimento da sociedade”.
Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e “entrou em despiste” na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria a isenta” para apurar “todas as responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
Desde a noite de segunda-feira registaram-se desacatos no Zambujal e, desde terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados autocarros, automóveis e caixotes do lixo. Mais de uma dezena de pessoas foram detidas, o motorista de um autocarro sofreu queimaduras graves e dois polícias receberam tratamento hospitalar, havendo ainda alguns cidadãos feridos sem gravidade.