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A Reserva Federal dos EUA admite que a nova administração liderada por Donald Trump, tal como qualquer administração nos EUA, poderá tomar medidas que têm impacto na evolução dos preços e, por essa via, levar o banco central a ajustar a política monetária em consequência dessas medidas. Mas Jay Powell, que foi muito criticado por Trump durante a campanha eleitoral, recusa fazer comentários sobre potenciais medidas – como o prometido aumento das taxas alfandegárias: “Não tentamos adivinhar, não especulamos e não fazemos suposições“, atirou Jay Powell.

A resposta foi dada por Jay Powell na habitual conferência de imprensa para explicar as decisões de política monetárias tomadas nesta quinta-feira (mais uma descida das taxas de juro, de apenas 25 pontos-base, como era amplamente esperado pelos analistas). O banqueiro central, que já saberia que a primeira questão dos jornalistas seria relacionada com o resultado das eleições de terça-feira, que ditaram o regresso de Donald Trump à Casa Branca, trazia uma resposta preparada e foi possível perceber que, ao contrário do que é habitual, recorreu a uma cábula para garantir que a resposta era dada com eficácia.

“No curto prazo as eleições não terão qualquer impacto nas nossas decisões”, começou por dizer Jay Powell. Porém, “não sabemos quais serão os timings e a substância das políticas que podem ser tomadas, pelo que também não sabemos qual poderá ser o impacto dessas políticas na economia, no emprego e na estabilidade financeira”. “Não tentamos adivinhar, não especulamos e não fazemos suposições”, afirmou Jay Powell, num soundbyte preparado.

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Ainda assim, Powell quis manifestar uma posição de força – sem se referir a Trump e evitando fazer “comentários diretos ou indiretos sobre as eleições”. “Em princípio, é possível que as políticas de qualquer administração ou do Congresso podem produzir efeitos que irão ter um impacto nas nossas decisões, à luz do nosso compromisso com a estabilidade dos preços e o crescimento económico”, frisou Jay Powell.

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Na campanha, Trump prometeu aumentar significativamente as taxas alfandegárias nas importações que chegam aos EUA. Vários economistas avisaram que isso irá criar inflação, algo que, em princípio, teria de ser combatido pela Reserva Federal através de uma política monetária mais apertada, isto é, taxas de juro mais elevadas. Sem confirmar essa possibilidade, Powell deixou o alerta implícito de que o banco central, no contexto da independência de que goza, não deixará de reagir a eventuais medidas lançadas pela próxima administração.

Algumas horas antes do anúncio dessa decisão, a imprensa financeira norte-americana noticiou que Trump irá “provavelmente” deixar Jay Powell terminar o seu mandato (2026), e não está previsto que o substitua imediatamente – o tempo dirá se a relação tensa entre ambos permite, ou não, que o mandato seja mesmo levado até ao fim.

Perto do final da conferência de imprensa, uma repórter perguntou diretamente a Jay Powell se aceitaria demitir-se se Trump lhe pedisse para o fazer, o presidente da Reserva Federal respondeu de forma sucinta: “Não”.

Foi Donald Trump que nomeou Jay Powell para a Reserva Federal, durante a sua administração (2016-2020) mas, enquanto candidato às eleições desta terça-feira, o magnata foi muito crítico das decisões de Powell, acusando-o de baixar as taxas de juro para beneficiar os Democratas, Joe Biden e a candidata à sua sucessão, Kamala Harris.