Ainda o encontro noturno entre Nuno Melo e Gouveia e Melo. Miguel Relvas considera que o almirante mostrou que, afinal, “não é um jogador fora do sistema”, como parece querer provar, mas antes mais um exemplo daquilo que não deve acontecer na política e em democracia.
“[Gouveia e Melo] mostrou que, afinal, não é um jogador fora do sistema. Ele é do sistema. Um chefe do ramo das Forças Armadas que aceita encontrar-se com o ministro da Defesa num bar, à noite, num encontro secreto… Enfim, é do sistema, é mais do mesmo. Não é bom para a nossa democracia”, lamentou o antigo ministro e braço direito de Pedro Passos Coelho.
Recorde-se que Nuno Melo e Gouveia e Melo foram vistos a confraternizar informalmente num conhecido bar de Lisboa. Nenhum dos dois quis revelar o que esteve na origem daquela reunião ou que assuntos foram tratados. O ministro da Defesa limitou-se a dizer que considerava a situação “normal” e que marcava reuniões onde bem entendesse.
No entanto, este encontro — revelado pelo jornal online Página Um — surge num momento particularmente delicado: o Governo tem de decidir se reconduz ou não Gouveia e Melo como Chefe do Estado-Maior da Armada. Se não o fizer, ou se o almirante não o quiser, Gouveia e Melo ficará de mãos livres para agarrar uma eventual candidatura presidencial — hipótese que nunca afastou verdadeiramente e que, segundo alguns dos que vão tratando de perto com ele, pode mesmo já ter assimilado.
Como explicava aqui o Observador, Marcelo Rebelo de Sousa entende que a recondução de Gouveia e Melo é a “solução mais lógica”, mas, em boa verdade, está dependente da decisão de Luís Montenegro, que ainda não tinha partilhado qualquer sinal com o Palácio de Belém. O Presidente da República está preocupado com a hipótese ter um militar como sucessor e suspeita que Gouveia e Melo já tenha mesmo tomado uma decisão.
“Se estiver mesmo vidrado na candidatura, já ninguém lhe tira isso. É um homem de direita. O trumpismo está a subir, a direita conservadora também, o 25 de Novembro está na moda… Ele sente o cheiro no ar”, comenta-se a partir do Palácio de Belém.
Ora, também Miguel Relvas, muito crítico de Marcelo Rebelo de Sousa, viu nas mais recentes movimentações de Gouveia e Melo a vontade de avançar. Mas suspeita que o almirante não esteja preparado para o lugar a que se candidata e duvida que o país precise de facto de alguém com o perfil do atual Chefe de Estado-Maior da Armada.
“Não têm uma visão de país, nem essa visão está assente num pressuposto político. Não sabemos o que é que pensa. Temos um Presidente da República a terminar o mandato e a sair pela porta pequena. É fundamental ter candidatos que tenham uma imagem forte, mas, acima de tudo, que deem a garantia de que são capazes de gerar entendimentos para reformas e não para discursos de circunstâncias”, defendeu Relvas no Observador.
De resto, o antigo ministro não poupou críticas a Marcelo Rebelo de Sousa. “O próximo Presidente da República será um anti-Marcelo. O Presidente é um referencial de estabilidade. Não se pode transformar num referencial de instabilidade. [Marcelo] teve a atitude da selfie e o discurso do afeto. Foi o Presidente que mais instabilidade gerou no país. Temos de voltar a ter um Presidente que nos seja capaz de garantir segurança, tranquilidade na sua atitude e reserva.”
Belém vê recondução de Gouveia e Melo como “solução mais lógica”