“Talvez nunca a Juventude Socialista tenha sido tão importante como neste momento, que começa a ser de recuo e de gente que lida mal com a diferença”. A frase é de Pedro Nuno Santos que, num longo discurso focado na crítica às políticas que o Governo tem adotado na habitação, economia, imigração e saúde, aproveitou para atirar à extrema-direita. No encerramento do congresso da Juventude Socialista, o secretário-geral do PS incumbiu os jovens socialistas de combaterem a progressão da extrema-direita nas escolas, movimentos e redes sociais.
“Precisamos da JS nas escolas, nos movimentos sociais. Não há nada mais nobre do que intervir na democracia. É importante que a JS esteja no combate à progressão da extrema-direita na juventude, nas escolas e nas redes sociais. Fizemos um longo caminho em Portugal para conquistarmos uma forma diferente de ver o outro. A JS esteve sempre na fila da frente das conquistas pelos direitos humanos, a sermos quem quisermos”, disse este domingo o líder socialista.
A ouvi-lo, na plateia, estavam vários jovens que marcavam presença no 24.º Congresso da JS, na Nazaré, onde foi eleita a nova líder dos jovens socialistas, Sofia Pereira. E foi para eles que o líder do PS deixou ainda a mensagem de que “combater a extrema-direita é também combater o sexismo, machismo e homofobia, que tem avançado entre os jovens. Vemos a extrema-direita nas escolas a querer voltar atrás. Estamos em 2024, ninguém tem de se esconder e cada jovem pode ter orgulho naquilo que é”, afirmou no congresso.
Sofia Pereira eleita líder da Juventude Socialista por uma diferença de 60 votos
É necessário agir “contra a extrema-direita, contra o Chega nas escolas”, afirmou o socialista, no único momento em que referiu o nome do partido de André Ventura durante todo o discurso. “A luta pela igualdade de género não é nenhuma ideologia. Temos problemas e a JS tem de estar na frente do combate”, desafiou mesmo.
Acusando a extrema-direita de “mudar o jogo”, ao querer “impôr aos outros e à maioria uma forma de vida”, Pedro Nuno Santos focou-se depois em todos os partidos de direita, acusando-os de não terem solução “nenhuma para resolver o problema da emigração”, levando a que jovens qualificados deixem o país.
“Temos um desencontro entre as qualificações dos jovens e o tipo de economia que temos em Portugal. A direita não tem soluções nem estratégia. A economia não pode ser deixada para a direita”, disse, acusando-os de não saber “como funciona uma empresa nem a economia”.
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País precisa de “programa agressivo de construção”
Chegando ao tema da habitação — que está “no topo das preocupações dos jovens” e que constou das propostas de cada um dos candidatos à liderança da JS — Pedro Nuno criticou o Governo pelas medidas que têm vindo a ser tomadas nesta área, concretamente a “promoção do Alojamento Local” e a “isenção do IMI e do imposto de selo, que não resolveu problema nenhum”.
Defendendo que o país precisa de um “programa agressivo de construção” de habitação, o líder dos socialistas alertou: “Falham, falharão e não resolverão problema nenhum. Do PS espera-se ambição, capacidade de sonhar e exigir. Temos de ter a ambição de intervir a sério na habitação.”
E também é preciso agir na imigração, já que é necessário mão de obra para assegurar construção de habitação. Com isto em mente, Pedro Nuno lançou a questão: “O que vai o país fazer com 118 mil estrangeiros que viram os seus processos rejeitados [para ficarem no país]? O Governo vai deportar 118 mil trabalhadores? Vai prendê-los?”
“Uma coisa é combater redes informais de turismo de saúde, outra é nem ser humano”
Face a uma proposta apresentada pelo Chega de limitar o acesso ao SNS a estrangeiros que não residam em Portugal, Pedro Nuno Santos mostrou-se particularmente incomodado: “Não temos um SNS capaz de oferecer cuidados de saúde ao mundo. Mas temos meios para combater abusos, a obrigação de fazer acordos com países e estabelecer protocolos. E temos de ser capazes de fazer a cobrança de quem procura o SNS”.
No último debate quinzenal o presidente da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) falou na existência de “redes informais organizadas que facilitam a vinda para o país de estrangeiros que só pretendem uma utilização sem custo para os próprios”, o chamado turismo da Saúde.
Argumentando que não se devem fechar portas a uma mulher em trabalho de parto ou a uma pessoa com uma doença infetocontagiosa como tuberculose, o secretário-geral do PS defendeu este domingo que “uma coisa é combater as redes, outra é enviar a cobrança e outra coisa é nem ser humano“. “Hoje a nossa luta faz ainda mais sentido, pela liberdade, igualdade, solidariedade e justiça social”, defendeu o socialista no palco do congresso da JS.