A Meta anunciou que vai colocar um ponto final ao programa de verificação de factos, em vigor desde 2016, implementado para combater a propagação de desinformação nas suas redes sociais. A empresa, que até agora dependia de órgãos de comunicação social e plataformas de fact-checking independentes para verificar as publicações, vai adotar um sistema de “notas da comunidade” como o que existe no X, detido por Elon Musk. Desta forma, passam a ser os utilizadores a adicionar correções aos posts que considerem que são enganadores ou que não estão totalmente corretos.

“Está na altura de voltarmos às nossas raízes no que diz respeito à liberdade de expressão”, disse Mark Zuckerberg num vídeo partilhado nas redes sociais em que confirmou as alterações. Para o CEO da Meta, o atual sistema de verificação de factos “atingiu um ponto em que tem demasiados erros e demasiada censura” e as recentes eleições norte-americanas, que Trump venceu, “parecem marcar um ponto de viragem cultural” para que a Meta volte a “priorizar a liberdade de expressão”.

Por outro lado, Zuckerberg admitiu que haverá mais “coisas más” nas plataformas da Meta como resultado da decisão, mas afirmou que se trata de “um compromisso”: “Significa que vamos apanhar menos coisas más, mas também vamos reduzir o número de publicações e contas de pessoas inocentes que derrubamos acidentalmente.”

Zuckerberg disse ainda que “os verificadores de factos têm sido muito tendenciosos politicamente e destruíram mais confiança do que criaram, especialmente nos EUA”.

O programa de verificação de factos será abandonado de forma faseada, começando pelo território norte-americano onde as “notas da comunidade” começarão a ser introduzidas “nos próximos meses”. A alteração anunciada pela Meta está a ser vista pela imprensa norte-americana, como o jornal The New York Times, como uma forma de a empresa-mãe do Facebook e do Instagram se posicionar perante a administração Trump, que toma posse no próximo dia 20.

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A política de fact-checking independente tinha chegado à Meta em 2016, após a primeira vitória eleitoral de Trump. Ao longo dos anos, o Presidente eleito norte-americano chegou a criticar a tecnológica por considerar que a verificação dos factos tratava as publicações de utilizadores conservadores de forma injusta. Com o segundo mandato de Trump prestes a começar, tem havido uma aparente aproximação a Zuckerberg. E os dois jantaram juntos em Mar-a-Lago, na Florida, no final de dezembro.

De acordo com o The New York Times, que cita uma fonte familiarizada com o tema, executivos da Meta avisaram funcionários da administração Trump sobre a mudança antes de esta ser esta terça-feira tornada pública. Numa publicação no blog da Meta não é feita qualquer menção ao mercado europeu, onde a empresa também conta com a ajuda de uma rede de fact-checkers independentes, da qual o Observador faz parte. O Observador questionou a tecnológica acerca do futuro da política em solo europeu, mas ainda não obteve uma resposta.

Na nota, disponível online e intitulada Mais discurso e menos erros, Joel Kaplan, diretor de assuntos globais da Meta, seguiu as declarações feitas pelo CEO e disse que a empresa quer “desfazer a missão exagerada” que tornou as suas regras “demasiado restritivas”. Por outro lado, a tecnológica anunciou que passará a permitir “mais discurso, levantando as restrições sobre alguns tópicos que fazem parte do discurso dominante” e adotará “uma abordagem mais personalizada para que as pessoas que queiram ver mais conteúdos políticos nos seus feeds o possam fazer”.