Numa hora de conferência de imprensa, realizada na sua propriedade em Mar-a-Lago, Donald Trump falou longamente sobre vários temas e fez declarações polémicas, designadamente ao admitir intervenções militares no Panamá e na Gronelândia. O Presidente eleito dos EUA reconhece que a guerra na Ucrânia pode vir a “escalar” e recuou na promessa de terminar o conflito em 24 horas.
A primeira camada desta história foi aplicada no dia Natal, quando uma montagem partilhada nas redes sociais pelo filho do Presidente eleito dos EUA, Eric Trump, mostrou um carrinho de compras na Amazon onde estava o Canadá, a Gronelândia e o canal do Panamá. Mas teve um novo episódio esta terça-feira, quando Trump, questionado sobre se excluía a possibilidade de usar a “coerção militar ou económica” para alcançar os objetivos, respondeu com um redondo “não”.
“Não, não posso assegurar nenhuma das duas, mas posso dizer isto: ambos são essenciais para os interesses de segurança económica e nacional”, reiterou. No que toca ao Panamá, Donald Trump voltou a referir que “o que aconteceu no canal do Panamá foi que Jimmy Carter lhes deu aquilo por um dólar e era suposto que eles nos tratassem bem”. E tendo em conta que o considera um erro, e que diz que “o canal do Panamá é uma desgraça”, o Presidente eleito acredita que é o momento certo para corrigir essa questão, dizendo que as cobranças são demasiadas para os navios norte-americanos.
Por outro lado, a Gronelândia já é vista como um sonho antigo, desde logo porque Trump demonstrou interesse logo no primeiro mandato, em 2019, quando gerou polémica ao dizer que os EUA poderiam comprar a ilha. Agora, no dia em que o filho de Donald Trump visitou o local, a primeira-ministra da Dinamarca avisou que a Gronelândia não está à venda e que pertence aos gronelandeses.
Rei da Dinamarca destaca Gronelândia no brasão de armas, num gesto de desafio a Trump
No dia anterior, Donald Trump continuou a alimentar a teoria ao dizer, na rede social “Truth Social”, que “a Gronelândia é um lugar incrível e o seu povo, se e quando se tornar parte da nossa nação, irá beneficiar enormemente”. “Tornar a Gronelândia grande outra vez”, resumiu.
Ainda durante a conferência de imprensa, Trump mostrou a intenção de “mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América” — “Tem um belo toque. É apropriado. E o México tem de deixar de permitir que milhões de pessoas entrem no nosso país.”
“Deviam ser um estado”. Trump ameaça utilizar a “força económica” para unir Canadá e EUA
Um dia depois de ter dito que “muitas pessoas no Canadá gostariam que o país se tornasse no 51º estado” dos EUA, Donald Trump voltou a transmitir este desejo de união que tem vindo a espalhar, ameaçando utilizar a “força económica” para fundir os dois países. Já plantadas as sementes para implementar fortes tarifas nos produtos vindos do Canadá, o republicano admite reduzir a importação de bens canadianos.
“Porque é que estamos a financiar um país com mais de 200 milhões de dólares anualmente? As nossas forças militares estão ao seu serviço, entre outras coisas”, refere o Presidente eleito. A esta ideia, Trump reforça que o Canadá “devia ser um estado”, e que já terá apresentado esta sugestão a Justin Trudeau, quando o primeiro-ministro canadiano visitou a sua residência em Mar-a-Lago no mês passado.
Trudeau responde a Trump: “Não há a mínima hipótese de o Canadá se tornar parte dos EUA”
Trump consegue perceber Rússia, alarga prazo para fim da guerra e ameaça Hamas
Trump respondeu também sobre a Rússia, deixando claro que “consegue perceber” o lado do país liderado por Vladimir Putin. “A Rússia disse que a Ucrânia não devia entrar na NATO — estava escrito em pedra. Biden disse que eles deviam entrar. Dessa forma, a Rússia teria a NATO à sua porta. Eu consigo percebê-los”, afirmou o Presidente eleito que vai tomar posse no dia 20 de janeiro.
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Também recuou com a promessa de acabar com a guerra em 24 horas e propôs seis meses como o novo prazo para terminar o conflito, reconhecendo que a guerra pode “vir a escalar, tornando-se muito pior do que é agora”. No entanto, disse saber que Putin se gostaria de encontrar com o Presidente eleito dos EUA e remeteu um encontro para depois da tomada de posse.
Dentro dos conflitos, Trump voltou a ameaçar que “o inferno vai descer à Terra” no Médio Oriente se o grupo islamita palestiniano Hamas não libertar os reféns antes de 20 de janeiro. “Se não libertarem os reféns até à data da tomada de posse, o Médio Oriente será um inferno e isso não será bom para o Hamas, nem para ninguém. O caos vai instalar-se”, reiterou.