Ficou claro na mente de todos, há cerca de um ano, que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), liderada pela Arábia Saudita, entrara numa “guerra de preços” que tinha como principal objetivo dificultar a vida dos produtores norte-americanos que precisam de um preço mais elevado para que os seus investimentos sejam viáveis. Agora, um gráfico que ilustra a evolução da produção norte-americana de crude parece indicar que a estratégia está a resultar. O que pode significar que os preços podem voltar a subir nos próximos tempos.

DOETCRUD Index (DOE Crude Oil To 2015-10-21 17-47-49

Os stocks norte-americanos de crude continuam em alta, mas este gráfico indica que a produção diária está a cair, o que indica que pode estar a começar a haver desistências (leia-se, falências) de alguns novos produtores norte-americanos. A razão por que o preço baixo penaliza estes novos produtores é que os seus custos de exploração são muito mais elevados e a maioria destas empresas endividou-se de forma significativa para construir a infraestrutura necessária para a extração através do método da fraturação hidráulica (fracking).

Mais quota de mercado em vez de mais rendimentos

“Não há dúvida quanto a isso, que a queda dos preços dos últimos meses está a afastar muitos investidores da exploração mais cara como o petróleo [e gás] de xisto, os poços offshore a grande profundidade, e os petróleos pesados”, afirmou em maio um responsável saudita da OPEP. Esta declaração é o mais próximo que será possível ter de uma admissão de que a estratégia da OPEP é deliberada e visa preservar a quota de mercado em detrimento do rendimento.

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Ficou claro nesta declaração que a Arábia Saudita considera que a estratégia de manter os preços baixos – produzindo cada vez mais numa altura em que a procura está a desacelerar – está a ser um sucesso. Pelo menos para a Arábia Saudita, a maior exportadora petrolífera do mundo, já que outros membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) estão insatisfeitos com a redução do preço e, claro, com a redução das receitas petrolíferas. 

Esses países insatisfeitos, como a Venezuela e o Irão, precisam de um petróleo mais caro para equilibrar os seus orçamentos. E não têm, como tem a Arábia Saudita, reservas financeiras que lhes permitam dar-se ao luxo de, durante algum tempo, levar a cabo uma prática semelhante ao dumping para levar à falência quem, sobretudo nos EUA, apostou todas as suas fichas num crescimento súbito da exploração de fontes energéticas através da fraturação hidráulica (fracking) de reservatórios de xisto que contêm petróleo e gás natural.

Estudos apontam para que este setor necessite, nesta fase, de preços do petróleo entre 70 dólares e 90 dólares, no mínimo, para que sejam uma alternativa ao petróleo convencional e, assim, para que estes projetos sejam viáveis. O petróleo norte-americano tem vindo a ser negociado abaixo dos 50 dólares por barril nos últimos meses.

Quanto à Arábia Saudita, esta deverá ter um défice orçamental de quase 20% este ano, mas isso não perturba o país porque este tem reservas financeiras capazes de aguentar mais algum tempo. A julgar pelos resultados sobre a produção norte-americana, nos próximos anos se a procura aumentar, a Arábia Saudita poderá retirar um pouco o pé do acelerador na produção e, aí, recuperar o rendimento perdido nestes anos tendo preservado quota de mercado e traumatizado os bancos de investimento que financiaram os projetos norte-americanos.