894kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Alentejo Prometido. O protesto veio em forma de cante alentejano

Este artigo tem mais de 5 anos

Os Cantadores do Desassossego interromperam o lançamento do livro de Henrique Raposo, que gerou polémica nas redes sociais, para entoar o cante alentejano. Protesto pacífico, com 3 polícias à porta.

i

MIGUEL SOARES/OBSERVADOR

MIGUEL SOARES/OBSERVADOR

O lançamento do livro Alentejo Prometido, de Henrique Raposo, foi interrompido por um grupo de cante alentejano como forma de protesto contra a obra que tem gerado controvérsia e polémica nas redes sociais.

A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), que publica o retrato, havia alterado o dia e o local do lançamento, que aconteceu às 18h30 desta terça-feira e solicitou um pedido de ajuda ao Comando da PSP de Lisboa. À hora marcada, estavam à porta da Bertrand, do Picoas Plaza em Lisboa, três agentes, que não precisaram de intervir na cerimónia. As ameaças à integridade física do autor que chegaram a circular nas redes, não passaram disso mesmo.

A livraria foi pequena para todos aqueles que quiseram marcar presença, incluindo o presidente de curadores da FFMS, Alexandre Soares dos Santos que estava sentado na primeira fila. Depois de um ligeiro atraso de cerca de 15 minutos, a apresentação começou com umas palavras de António Araújo, Diretor de Publicações da Fundação e seguiu-se José Rentes de Carvalho que se deslocou da Holanda, onde vive, de propósito para a ocasião.

“Alentejo Prometido é para quem sabe ler e tem tempo para pensar”, disse o escritor transmontano, aludindo ao alarido criado à volta do livro. Rentes de Carvalho deixava assim implícito que muitos daqueles que destilaram fúria nas redes sociais sobre a obra não a tinham lido.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Dá pena ver tanta democracia na boca e tão pouca no comportamento”, disse o transmontano, que considerou também que “o geral das pessoas, descambou”. Respeitando as regras do protesto pacífico, dentro do padrão democrático a que Rentes de Carvalho aludira minutos antes, o grupo Cantadores do Desassossego interrompeu a sessão com uma interpretação de “Alentejo, Alentejo”. O protesto, em forma de cante, foi entoado por cerca de uma dúzia de homens, que após a breve “atuação” se retirou.

“Acabem com esta palhaçada!”, disse um dos cantadores do grupo de homens, antes de abandonarem a plateia em direção à porta.

O grupo do qual também faziam parte algumas mulheres que não cantavam, veio de Beja (veja como tudo aconteceu no vídeo acima). Na sua página no Facebook, o grupo explicou o gesto como “sossegado, com o desassossego que nos invadiu”.

Sossegado, com o desassossego que nos invadiu, todos estamos descansados, a nossa atitude, simples, sem qualquer tipo de...

Posted by Cantadores do Desassossego on Tuesday, March 8, 2016

A inusitada atuação do grupo parecia, a princípio, fazer parte do alinhamento da apresentação de Alentejo Prometido, mas o semblante carregado de Raposo durante o cante deu a entender que afinal se tratava de uma forma de protesto.

Um protesto contra a opinião do autor, que ao longo de 107 páginas retrata o Alentejo como uma “terra da desconfiança” onde o “suicídio é um fenómeno natural”. Mas as declarações que acenderam o rastilho nas redes sociais foram as que proferiu no programa “Irritações” da SIC Radical onde explicava que a escrita do livro era uma tentativa de se reconciliar com a região, por causa do seu “complexo de desenraizado”.

“Quando decidi há uns anos escrever o livro, pensei que ia encontrar uma luz debaixo do chaparro. Não vi. Quando comecei a escrever o livro já não tinha essa esperança, mas tinha a esperança num daqueles momentos de redenção. Não foi”, contou no programa.

Quem também não achou a escrita de Raposo redentora foram os muitos que comentaram o vídeo da emissão, com insultos que rapidamente alastraram ao Facebook onde se partilharam imagens de pessoas a queimar o livro e se chegou a criar um grupo que o declarava “O inimigo n.º 1 do Algarve e Alentejo”.

“Ele não ataca o Alentejo, só na cabeça de alguns lunáticos”, afirmou Henrique Monteiro, ex-diretor do jornal Expresso, onde o autor é cronista. E considerou mesmo que “o livro é um hino de amor” à região. “A verdade [sobre o Alentejo] não anda muito longe do que tu escreves”, disse para o autor no final da sua intervenção.

“Para se falar de um livro, é preciso lê-lo”, sublinhou Henrique Raposo reforçando o que Rentes de Carvalho havia dito. Sem se pronunciar diretamente sobre a controvérsia nas redes sociais disse apenas que “as coisas têm a sua importância relativa”.

Num tom emotivo, confessou que os “realizadores” da obra que descreve como “um filme de estrada” foram os membros da sua família, em especial, a mãe e o pai. Henrique Raposo não quis falar aos jornalistas sobre o livro, mas usou da palavra para lançar algumas farpas.

“As pessoas dizem-me que tenho uma certa coragem a escrever”, disse o escritor, que considerou também que essa coragem só transparece porque, na sua opinião, vivemos num “tempo de bullshit” onde “não se pode ter uma opinião sincera sobre nada”.

“Literatura não é escrever guias turísticos”, afirmou, deixando a promessa que iria continuar a escrever no estilo “fora da caixa” — assim se descreveu — que o caracteriza.

Mais do que o livro em si, do qual um dos capítulos foi pré-publicado no Observador no passado 13 de fevereiro, o que espoletou a polémica foi a intervenção do autor no programa “Irritações” na SIC Radical de Pedro Boucherie Mendes. O diretor-geral da SIC Radical esteve presente no lançamento e considerou que tinha sido uma “vitória da tolerância”. O humorista Ricardo Araújo Pereira, que também marcou presença, confessou que não tinha lido o livro, mas que estava presente como forma de manifestar apoio “a quem pode escrever coisas ofensivas e não ser ameaçado por isso”, ora veja:

[jwplatform z8euIHPE]

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.