A deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua disse na noite desta sexta-feira que a Comissão Política do partido pediu “mais esclarecimentos” a Ricardo Robles sobre o caso que envolve a compra de um prédio em Alfama por parte do vereador bloquista na Câmara Municipal de Lisboa. O órgão de gestão do partido vai “pronunciar-se” quando for “necessário e oportuno”, adiantou a responsável, num comentário político esta noite na SIC Notícias, frente a frente com o vice-presidente do CDS Adolfo Mesquita Nunes.

Foi a primeira vez que um dirigente do Bloco de Esquerda se pronunciou publicamente sobre o caso que está a marcar a atualidade. O comentário foi feito depois de, durante esta sexta-feira, Robles se ter defendido sozinho de acusações de especulação imobiliária que surgiram na sequência de uma notícia do Jornal Económico, que dá conta de que o bloquista colocou à venda por 5,7 milhões de euros um prédio que comprou à Segurança Social em 2014 por 347 mil euros.

“Ricardo Robles fez bem, deu a cara e explicou os pormenores”, afirmou Mariana Mortágua. “É verdade que Ricardo Robles adquiriu um imóvel com a irmã e apoio dos pais, mas não é verdade que tenha sido à espera que os preços subissem. [A compra] não foi especulativa”, disse a dirigente bloquista, sublinhando que Robles “não aplicou a lei dos despejos” e “garantiu o direito à habitação” do casal que ocupava uma fração do prédio que adquiriu.

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Repetindo as explicações familiares que Robles já havia exposto durante o dia, Mariana Mortágua lembrou que o vereador bloquista comprou a casa para a sua irmã habitar quando regressasse a Portugal, mas que a irmã acabou por casar no estrangeiro e abandonar a ideia de voltar ao país. Foi esse o motivo que levou Robles a aceitar colocar a casa à venda.

Já sobre o facto de o valor pelo o qual a casa foi colocada à venda ser 16 vezes superior àquele pelo qual foi comprada, Mariana Mortágua sublinhou que “qualquer pessoa que tenha uma casa em Lisboa vai vendê-la por um preço superior ao de há quatro anos”, insistindo que “a compra do imóvel não foi feita para especulação”. E a prova disso, assinalou Mortágua, é que Robles “não vai vender” a sua parte, quando o prédio for passado para propriedade horizontal.

O centrista Adolfo Mesquita Nunes respondeu dizendo que Ricardo Robles “está a ser vítima do discurso da superioridade moral dele e do Bloco de Esquerda”, lembrando que “todos os senhorios de Lisboa têm circunstâncias familiares e isso nunca impediu” o Bloco de Esquerda de os qualificar como especuladores. Robles “só teve de explicar a sua vida familiar porque o Bloco de Esquerda durante anos teve aquele discurso”.

Francisco Louçã diz que preço pedido por Robles foi “excessivo”

Também num espaço de comentário na SIC Notícias, Francisco Louçã foi o segundo notável do Bloco de Esquerda a pronunciar-se sobre o tema, para dizer que os dirigentes dos partidos — “de qualquer partido, mas os do Bloco de Esquerda em particular neste assunto” — se têm de “habituar” a ser “sempre escrutinadíssimos na sua vida pessoal”. “Ninguém se deve irritar com isso. Devem habituar-se que é assim que é e é assim que vai ser”, afirmou.

“O Ricardo Robles ficou numa situação difícil, porque comprou um prédio que reconstruiu e esse prédio valorizou-se”, disse Louçã, lembrando que também a sua casa, por se encontrar em Lisboa, valorizou nos últimos anos. “Todas as agências colocam as casas à venda tendo em conta a pressão do mercado”, assinalou Louçã, acrescentando que Robles garantiu os direitos de habitação às pessoas que viviam naquele prédio. Porém, considerou que o preço pedido pelos irmãos quando colocaram o prédio à venda foi “excessivo”.

Louçã afirmou ainda que “Ricardo Robles teve a sorte da sua vida porque o PSD pediu a sua demissão”, uma vez que “não há nenhuma explicação para este pedido de demissão”, e classificou o caso como “uma forma de entretenimento de fim de julho”.

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