A venda de empresas que faziam parte do universo Espírito Santo movimentou já mais de mil milhões de euros em cinco operações que foram concretizadas apenas em seis meses. Espírito Santo Saúde, ES Viagens, Tranquilidade, Banco Espírito Santo Investimento (BESI) e alguns hotéis Tivoli, foram os ativos a mudar de mãos, desde o colapso do grupo e do banco em meados do ano passado.

Todos os negócios foram comprados por investidores estrangeiros, com os chineses a serem os grandes protagonistas, ao nível do valor das aquisições. Depois da Fosun, via Fidelidade, adquirir a Espírito Santo Saúde, numa operação que valorizou os 51% detidos pelo Grupo Espírito Santo (GES) em 260 milhões de euros, a sociedade financeira Haitong fechou a compra do Banco Espírito Santo Investimento (BESI) por 379 milhões de euros. O capital chinês é assim responsável por mais de metade do valor pago nas aquisições. Os outros compradores são americanos: o fundo Apollo comprou a Tranquilidade por 215 milhões de euros, suíços: a Springwater comprou a dona da Top Atlântico por um montante não divulgado, tailandeses.

A venda dos dois hotéis Tivoli no Brasil ao Minor Hotel Group foi confirmada esta semana pelo grupo hoteleiro da Tailândia. O negócio envolveu ainda a aquisição de quatro terrenos em Portugal onde estão instaladas unidades da marca: três no Algarve e um em Lisboa. A transação envolveu 168,2 milhões de euros, mas não abrangeu todas as unidades da marca que era do GES, elevando o valor total das alienações a cerca de 1022 milhões de euros. Mas quem recebeu o encaixe?

Receita dividida pelo Novo Banco e credores do GES

O produto das alienações está a ser dividido pelos credores da Rioforte e da Espírito Santo Financial Group (ESFG), que estão sob gestão do tribunal do Luxemburgo depois declaradas insolventes, e pelo Novo Banco. A instituição liderada por Stock da Cunha encaixou a receita da venda do banco de investimento, BESI, à frente do qual se mantém José Maria Ricciardi, um dos poucos membros da família que ainda tem funções de administração.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Novo Banco ficou ainda com o encaixe da alienação da Tranquilidade, que em termos líquidos terá sido muito reduzido já que os compradores tiveram de injetar cerca de 150 milhões de euros para repor a solidez financeira da seguradora. Esta transação é ainda alvo de processos judiciais, que levaram à sua suspensão, entretanto ultrapassada. Em causa está a validade legal do penhor sobre a Tranquilidade entregue ao BES, como garantia para o reembolso do papel comercial aplicado pelos clientes em dívida de empresas do GES. A seguradora pertencia à ESFG.

Para os credores do GES, terá ido os produtos da venda da participação de 51% da Rioforte na Espírito Santo Saúde (agora rebatizada Luz Saúde) e da alienação das unidades Tivoli, operações decididas já gestor de insolvência indicado pelo tribunal do Luxemburgo.

Vendas faziam parte do plano de reestruturação do GES

Várias destas transações estavam já em marcha quando os ativos eram titularidade do Grupo Espírito Santo (GES) e inseriam-se na estratégia de reestruturação do grupo que passou a estar concentrado na holding Rioforte. O plano da família Espírito Santo apostava na venda de ativos e na entrada de novos investidores, via aumento de capital. O contágio da crise do GES ao Banco Espírito Santo, que foi alvo de resolução nos primeiros dias de agosto, foi o golpe final nos planos do grupo, que para além de perder o banco, viu o tribunal do Luxemburgo recusar os pedidos de gestão controlada das suas holdings.

A entrada em insolvência das holdings da família Espírito Santo e a resolução do BES, que dividiu a instituição num banco mau e no Novo Banco acabaram por condicionar o desenvolvimento de algumas destas operações. Entretanto, outro dos ativos mais emblemáticos do GES, a Herdade da Comporta, já está também no mercado.

Segundo informação do Negócios, a alienação do fundo de investimento imobiliário fechado Herdade da Comporta está a ser promovido pelo BESI. Este fundo tem ativos avaliados em mas de 200 milhões de euros, incluindo imóveis já construídos e em construção. Apesar do fundo ser detido em 56% pela Rioforte, o Negócios adianta que o património foi dado como garantia à Caixa Geral de Depósitos por um empréstimo da ordem dos 100 milhões de euros.

E o Novo Banco?

Mas para meados do ano ficará a venda do principal ativo do universo Espírito Santo. O Novo Banco já está no mercado, tendo sido recebidas 17 manifestações de interesse. Mas só 15 investidores passaram na fase de qualificação. Será deste grupo que vão sair as ofertas vinculativas para o sucessor do BES. Entre os interessados estão o BPI, o Santander, o BBVA, Popular, e outra vez a Fosun e a Apollo.

Apesar do número da manifestações de interesse ter surpreendido pela positiva, poucos acreditam que surge uma proposta que permita cobrir o investimento feito na recapitalização do antigo BES: 4900 milhões de euros, dos quais 3900 milhões foram emprestados pelo Estado.