O enviado especial dos EUA para a coligação militar contra o Estado Islâmico, Brett McGurk, anunciou a sua demissão este sábado depois de Donald Trump ter anunciado a retirada dos 2 mil militares norte-americanos da Síria, onde ajudavam a combater aquele grupo terrorista.

A decisão foi anunciada pelo próprio num email enviado à sua equipa e, entretanto, divulgado por vários media dos EUA. Nele, fica claro que a sua demissão surge na sequência da retirada de tropas dos EUA da Síria, que desde 2015 apoiam militarmente os curdos do YPG no combate ao Estado Islâmico.

“A decisão recente do Presidente foi um choque e um total revés das políticas que nos foram articuladas”, lê-se nesse email. “Os parceiros de coligação ficaram confusos e os nossos parceiros de combate desnorteados.”

“Esta semana trabalhei para gerir os estragos mas, tal como muitos de vocês ouviram nas minhas reuniões e chamadas, cheguei à conclusão de que não podia pôr em prática estas novas instruções e manter a minha integridade”, acrescentou Brett McGurk.

Brett McGurk foi nomeado enviado especial do Presidente para a Coligação Contra o Estado Islâmico em outubro de 2015, ainda pelo Presidente Barack Obama. Donald Trump manteve-o no cargo, apesar de na sua campanha ter criticado recorrentemente a estratégia de combate do Estado Islâmico por parte da anterior administração — tendo chegado a dizer que sabia “muito mais sobre o Estado Islâmico do que os generais”.

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Esta é a segunda demissão de peso na administração norte-americana, depois de o secretário da Defesa, Jim Mattis, ter anunciado a sua saída pouco depois de ser noticiada a retirada dos EUA da Síria. Numa carta enviada ao Presidente Donald Trump, que também foi tornada pública, Jim Mattis falou da necessidade de ser “claro tanto quanto a atores malignos e competidores estratégicos” e da importância de manter a “solidariedade das nossas alianças”.

E, no parágrafo seguinte, deixou claro que não está de acordo com Donald Trump na sua visão para estes temas. “Uma vez que tem o direito de ter um secretário da Defesa cujas opiniões estão mais alinhadas com as suas nestes e noutros assuntos, acredito que o melhor a fazer é demitir-me”, escreveu Jim Mattis, anunciando que o seu último dia no cargo será 28 de fevereiro.

EUA deixam “vácuo securitário” na Síria

A saída das 2 mil tropas dos EUA da Síria podem dar lugar a uma nova realidade geoestratégica na guerra que assola aquele país desde 2011. De acordo com o Institute For The Study of War, um centro de estudos norte-americano para a guerra, “a Rússia e o Irão estão preparados para ganhare com a retirada dos EUA da Síria”, referindo que aqueles dois países vão “sem dúvida alguma tentar preencher o vácuo securitário deixado pelos EUA no Este da Síria”.

Além daqueles dois países, há também a posição da Turquia, que no início de 2018 assumiu uma forte e ambiciosa ofensiva sobre a região Noroeste da Síria — coibindo-se de alargar até ao Nordeste da Síria por ali estarem os EUA, aliados da Turquia na NATO, e as tropas dos curdos do YPG. A Turquia de Recep Tayyip Erdoğan coloca o Estado Islâmico e o YPG — que associa ao grupo terrorista PKK — ao mesmo nível, como se pôde voltar a perceber nas declarações de reação ao anúncio de Donald Trump.

“Nos próximos meses, vamos adotar um estilo operacional direcionado para a eliminação do elementos do PKK-YPG e resíduos do Estado Islâmico”, disse Recep Tayyip Erdoğan na sexta-feira.