Mario Draghi falou este sábado em Washington, nos Estados Unidos, para dizer que todos os parceiros querem que a Grécia tenha sucesso, mas que este depende do governo grego. Mais: o presidente do Banco Central Europeu disse que é preciso que a Grécia trabalhe mais para um acordo e que esse trabalho “é urgente”.

No decorrer das reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, Mario Draghi sublinhou contudo que “não vale a pena apostar na queda do euro” e que “é prematuro especular sobre uma saída da Grécia da zona euro”. O presidente do Banco Central Europeu avançou mesmo que” se for necessário, os instrumentos do BCE podem ser utilizados na crise grega”.

Draghi garantiu ainda que a liquidez de emergência que os bancos gregos estão a obter junto do BCE [a plataforma Emergency Liquidity Assistance] não está a ser utilizada para comprar dívida pública grega. E que a plataforma “estará disponível enquanto os bancos estiverem solventes”.

Em Washington, Mario Draghi fez questão de dizer que a Europa está agora melhor preparada para lidar com a os problemas que possam ocorrer nos mercados financeiros do que estava no início da crise, referindo que a região ainda estava em “águas desconhecidas”.

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O presidente do BCE disse ainda que a economia da zona euro está mais forte, depois de a instituição ter avançado com o programa de compra de dívida pública (1,14 biliões de euros em ativos para dar estímulos à economia). Contudo, avisou que um longo período de baixas taxas de juro poderá tornar-se num “terreno fértil” de instabilidade nos mercados financeiros.”Devemos estar conscientes dos riscos”, alertou.

Estímulos do BCE estão a levar à retoma

Para Mario Draghi, a retoma norte-americana é a chave para a economia global. Sobre a Europa, diz que o sistema bancário está com “melhor saúde”, que os estímulos do BCE e a descida do preço do petróleo estão a conduzir à retoma e que a política monetária tem “melhorado”. Mas os riscos económicos ainda pendem para o lado negativo, acrescentou.

Ainda em relação ao programa de compra de dívida pública e privada, Draghi disse que o feedback à sua implementação é positivo e que os estímulos à economia vão continuar até que haja um ajustamento do preço sustentado. Sublinhou, contudo, que a taxa de câmbio não é um objetivo da politica monetária do BCE.

Draghi concluiu que, apesar de a taxa de inflação ser negativa, os indicadores de expectativas de inflação estão a subir, o que indica que o presidente do BCE está confiante de que a taxa de inflação está a caminhar para se aproximar objetivo de médio prazo do BCE (perto de 2%).

O presidente do BCE, que se deslocou a Washington para participar das reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, fez estas declarações numa altura em que prosseguem as negociações entre representantes das instituições credoras da Grécia e representantes do governo grego, com o objetivo de alcançar um acordo de princípio que permita ao Eurogrupo pronunciar-se sobre o financiamento ao país, no próximo dia 24, numa reunião em Riga.

Os credores pedem a Atenas que se comprometa com uma lista de reformas, antes de ser desbloqueada a ‘tranche’ de 7,2 mil milhões de euros do empréstimo concedido em 2012 ao país.

O dirigente do BCE pediu reformas “em números” e exigiu que o governo grego, liderado pela formação de esquerda Syriza, esteja atento ao “impacto orçamental” das suas propostas.

Draghi recusou especular sobre uma situação de incumprimento por parte da Grécia, que poderia levar a uma saída da zona euro, mas sublinhou que esta se dotou de instrumentos para o risco de contágio que “seriam utilizados em caso de escalada da crise”.

Draghi reconheceu ainda que a zona euro entraria em “território desconhecido” se a crise grega piorasse.