Por esta altura, um olhar treinado já fará crer que algo muito importante está para ser anunciado assim que Donald Trump se abeira do pódio do Rose Garden. É ali, naquele jardim do lado de fora da sala oval da Casa Branca, que o Presidente dos EUA tem encontrado a sua zona de conforto para fazer alguns dos anúncios mais importantes desde que a Covid-19 entrou pelo país, tornando-o naquele que tem mais casos e também mortes nesta pandemia.
Foi ali, com a sala oval pelas costas e em cima de um relvado cuidado, que Donald Trump anunciou medidas como a declaração do estado de emergência a 13 de março ou o Defense Production Act, a lei que permite ao Presidente controlar parte da indústria para garantir a produção de bens urgentes, como é agora o caso dos ventiladores ou das máscaras.
Esta terça-feira, 14 de abril, não foi exceção. Desta vez, Donald Trump foi ao Rose Garden para largar a bomba com que já vinha a acenar nos últimos tempos: suspender o financiamento norte-americano para a Organização Mundial da Saúde (OMS), sob acusações daquele organismo da Organização das Nações Unidas (ONU) estar a ser instrumentalizada pela China.
China-centric.
Foi essa a expressão que Donald Trump utilizou em inglês para, no fundo, defender que a OMS tem agido em prol da China nesta crise pandémica e sem ter em vista o interesse do resto do mundo.
“Toda a gente sabe o que se passa lá”, atirou Donald Trump.
E, de seguida, passou a enumerar aquilo que tem referido como exemplos de uma má gestão da pandemia da Covid-19 pela OMS. Falou, por exemplo, da “oposição desastrosa” da OMS ao encerramento do tráfego aéreo, expressado precisamente depois de os EUA terem parado os voos da e para a China — acrescentando que “muitos países disseram ‘ah, vamos ouvir o que diz a OMS’ e agora têm problemas como nunca antes”. Referiu, também, que a OMS “fracassou em obter informação de forma adequada, para depois analisá-la e partilhá-la de forma atempada e transparente”. E acusou ainda a OMS de “papaguear e apoiar publicamente” em janeiro que, tal como as autoridades chinesas diziam, o contágio do novo coronavírus não era feito através do contacto entre humanos.
“Eu disse ao Presidente Xi, eu disse: ‘A OMS está centrada na China’. Ou seja, seja lá no que for, a China tem razão. Não pode ser assim. Não pode ser. Não está certo.”
Ao perder o maior contribuidor, OMS admite revisão de erros na “devida altura”
A decisão pesa de forma inegável na OMS, que tinha até agora nos EUA o seu maior financiador. A OMS foi fundada em 1948 e desde então tem funcionado com o financiamento praticamente exclusivo dos países reconhecidos pela ONU, aos quais se têm juntado mais recentemente fundações privadas. Porém, é aos países que cabe a maior parte do financiamento — e os EUA têm sido, por norma, o maior contribuidor.
Há duas maneiras de os países contribuírem para a OMS. A primeira é através de uma sistema obrigatório de quotas, que são calculadas consoante a riqueza e a população de cada país. A segunda surge através do financiamento voluntário de programas — cujos focos e objetivos são acordados entre o país que faz o donativo e a OMS. Em 2019, a OMS estimava as contribuições dos EUA em 240 milhões de dólares (quase 220 milhões de euros) como pagamento da tal “quota” obrigatória e ainda 656 milhões de dólares (600,5 milhões de euros) em financiamento voluntário. Ou seja, um total que quase chega aos 900 milhões de euros e que representa praticamente 15% do orçamento da OMS.
Esta quarta-feira, na sua conferência de imprensa diária, o diretor-geral da OMS, o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesu, destacou que os EUA “têm sido um generoso amigo de longa data”. “E esperamos que assim continuem a sê-lo”, acrescentou, dizendo ainda que lamentava a decisão de Donald Trump.
A esta reação juntaram-se outras de vários países e organizações internacionais, que criticaram a medida de Donald Trump. O alto representante para a Política Exterior da UE, Josep Borrell, disse que “não há nenhuma razão que justifique esta decisão” e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha referiu que “atirar culpas não nos vai ajudar”. No Reino Unido, um porta-voz do primeiro-ministro, Boris Johnson, reiterou: “Não temos nenhum plano de cortar a nossa contribuição”. E a partir de Pequim, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Zhao Jijan expressou as “sérias preocupações” da China sobre aquela medida.
A partir da ONU, a reação foi mais diplomática. Embora tenha dito que “agora não é o momento”, o secretário-geral, António Guterres, reconheceu ainda que “assim que passemos a página desta pandemia, haverá tempo de olhar para trás” e, entre outras coisas, entender “como reagiram todas as pessoas implicadas”.
Esse tom, de abertura de algum espaço para autocrítica no futuro, foi adotado pelo próprio Tedros Adhanom Ghebreyesu: “Na devida altura, a prestação da Organização Mundial de Saúde no combate a esta pandemia será avaliado pelos seus Estados-membros”. E admitiu: “Sem dúvida que vão ser identificadas áreas onde há que melhorar e haverá lições para todos aprendermos. Mas, por agora, o meu foco é parar este vírus e salvar vidas”.
Porém, para Donald Trump e muitas vozes nos EUA, a “devida altura” para analisar esta prestação já chegou. À hora a que Tedros Adhanom Ghebreyesu falava a partir de Genebra, na Suíça, o número de diagnosticados com Covid-19 em todo o mundo já passava dos 2 milhões e as mortes já rondavam os 130 mil em todo o mundo. Em termos absolutos, nenhum outro país tem números tão altos como os EUA: mais de 620 mil casos e mais de 28 mil mortes — um número que está constantemente a ser atualizado.
E, a par com esses números, tem subido o coro de críticas contra a atuação da OMS junto do país onde a pandemia teve origem: a China.
“A China cometeu pecados imperdoáveis de ação, mentindo sobre o surto, punindo os médicos e afastando os jornalistas que disseram a verdade; e ao mesmo tempo a OMS cometeu pecados de inação, perante a sua falta de independência e coragem num momento de enorme importância”, resumiu o editor da National Review, Rich Lowry, num texto para o Politico.
A lista de ocasiões em que, durante esta crise, a OMS está a ser acusada de alinhar com a China é extensa e remonta à fase inicial desta pandemia, que as autoridades chinesas identificaram entre novembro e dezembro mas que só em janeiro assumiram.
É no primeiro mês de 2020 que começam a surgir os primeiros sinais de uma alegada conivência entre a OMS e a China. “Especialmente ao início, era chocante quando ouvia vezes sem conta o diretor-geral da OMS a dizer aos media frases que eram praticamente citações diretas dos comunicados do governo da China”, disse à revista The Atlantic o cientista Xiao Qiang, da Universidade de Berkeley, na Califórnia.
A 14 de janeiro, a OMS publicou um tweet onde dizia que “investigações preliminares produzidas pelas autoridades chinesas” não tinha determinado nenhumas “provas claras de que haja transmissão entre humanos do novo coronavírus”. Esta conclusão, soube-se pouco tempo depois, é totalmente errada. Porém, como assinalou a The Atlantic, ela foi divulgada nas redes sociais da OMS com um grau de certeza que nem as próprias autoridades chinesas assumiram.
Preliminary investigations conducted by the Chinese authorities have found no clear evidence of human-to-human transmission of the novel #coronavirus (2019-nCoV) identified in #Wuhan, #China????????. pic.twitter.com/Fnl5P877VG
— World Health Organization (WHO) (@WHO) January 14, 2020
A 15 de janeiro, o boletim da Comissão de Saúde de Wuhan dizia que não tinham sido encontradas provas de transmissão entre humanos. Porém, referindo que o risco de transmissão era “baixo”, fazia já à altura uma salvaguarda: “A possibilidade de transmissão limitada entre humanos não pode ser excluída”.
Cinco dias mais tarde, a 20 de janeiro, a China confirmou pela primeira vez aquilo de que já se suspeitava e que alguns médicos de Wuhan foram punidos por terem alertado: afinal, o novo coronavírus podia ser transmitido entre seres humanos. A 23 de janeiro, as autoridades chinesas decretaram o início do confinamento na totalidade da região de Hubei (onde Wuhan é a maior cidade) e também na maioria do país — levando a cabo um confinamento que deixou entre portas cerca de 930 milhões de pessoas.
Em menos de um mês, a narrativa chinesa implodira: afinal, o vírus era altamente transmissível e obrigava por isso mesmo a uma transformação completa do país, que ficou praticamente todo em quarentena. A capacidade de ir do dito ao feito foi amplamente elogiada pelo diretor-geral da OMS. Depois de um encontro com Xi Jinping a 28 de janeiro, em Pequim, elogiou a ação das autoridades daquele país.
“Se não tivesse sido o esforço do governo chinês, e o progresso que eles fizeram para proteger o seu próprio povo e os povos de todo o mundo, teríamos nesta altura muitos mais casos fora da China”, disse. Por essa altura, a China tinha praticamente 10 mil casos confirmados. Fora da China, os números eram estes: 7 nos EUA, 5 na Alemanha, 2 em Itália e nenhum em Espanha ou no Reino Unido. Ou seja, verdadeiramente baixos — mas não por muito tempo, como se sabe.
A 31 de janeiro, já a maior parte da população da China estava dentro de portas, Donald Trump decidiu unilateralmente impedir a chegada de voos da China em solo norte-americano. A decisão foi apoiada pelo diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla inglesa), Anthony Fauci. De acordo com o homem que tem partilhado o pódio das conferências de imprensa com Donald Trump durante esta crise, essa decisão tornou-se necessária porque havia “muitos fatores desconhecidos” em torno do novo coronavírus.
Essa decisão, porém, viria a ser criticada pelo diretor-geral da OMS. “Apelamos a todos os países para que implementem decisões que sejam baseadas na ciência e que sejam consistentes”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus. Estes pedidos não foram, porém, reiterados quando em março a própria China passou a impedir que aterrassem no seu país voos de lugares como Itália ou Irão quando ambos já tinham o vírus dentro das suas fronteiras.
À altura, no início de fevereiro ainda havia algum espaço para humor. A meio da sua intervenção, o diretor-geral da OMS sentiu uma irritação na garganta e por fim tossiu. Logo a seguir, bebeu um pouco de água e gracejou: “Não se preocupem, não é corona”. A sala irrompeu em gargalhadas.
China e Tedros: homem escolhido, frutos colhidos
Tedros Adhanom Ghebreyesus, 55 anos, nasceu na Etiópia. Microbiologista de formação, destacou-se no estudo da malária no seu próprio país, até que foi nomeado para ser ministro da Saúde. Ocupou esse cargo entre 2005 e 2012, ano em que transitou para o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Ali ficou até 2016, ano em que decidiu juntar as duas vocações — as políticas de saúde e a diplomacia — e candidatar-se ao cargo de diretor-geral da OMS.
Conseguiu, tornando-se no primeiro africano e não-médico a dirigir aquela organização. A 23 maio de 2017, ao derrotar um candidato britânico e outra adversária do Paquistão, foi eleito com o apoio de 133 dos 185 países elegíveis para votar naquela eleição. O voto para determinar aquele mandato de cinco anos foi, como de costume, secreto. Porém, não foi segredo para ninguém que o homem que se apresentou a votos apenas com o seu primeiro nome, Tedros, contava com um apoio muito importante: a China.
Não era um apoio de somenos, como se veio a confirmar mais tarde. Desde 2014 até 2020, a China aumentou as suas contribuições para a OMS em 52%, rondando agora os 86 milhões de dólares (perto de 79 milhões de euros). Embora seja um número 10 vezes menor do que aquele que os EUA previam para este ano, este, ao contrário do que compete a Washington, tem muito por onde crescer: além da quota obrigatória, indexada à riqueza do país, a China também tem aumentado as suas contribuições voluntárias. Esta é uma aposta concertada da China, que neste momento conta já com uma alta influência entre 4 das 15 agências das Nações Unidas à medida que os EUA de Donald Trump aposta no isolacionismo.
Uma dessas agências é a OMS, onde os frutos têm sido quase imediatos. A 24 de maio de 2017, um dia depois de Tedros Adhanom Ghebreyesus ter sido eleito, já o jornal China Daily (órgão de comunicação social anglófono que pertence ao Estado chinês) destacava o encontro entre o etíope e a então ministra da Saúde da China, Li Bin. Sem oferecer qualquer citação, o artigo garantia então que o recém-eleito diretor-geral da OMS “reiterou a adesão da organização ao princípio de Uma China”, em alusão ao princípio de que Taiwan é, de acordo com a pretensão de Pequim, parte da China.
Esta postura viria a ter repercussões já em 2020, durante a crise do novo coronavírus, com o governo de Taiwan a queixar-se de ter sido esquecido pela OMS. Numa entrevista à televisão RTHK, o representante da OMS na China, Bruce Aylward, foi confrontado com uma pergunta sobre a possibilidade de a organização aceitar a candidatura de Taiwan enquanto país-membro. Primeiro, Bruce Aylward permaneceu 10 segundos em silêncio. Depois, disse: “Não consegui ouvir a pergunta”. Perante a insistência da jornalista, respondeu: “Não, não é preciso, vamos avançar para outra”. E após nova insistência, a chamada caiu. Retomada a ligação, nova pergunta sobre Taiwan, a resposta de Bruce Aylward foi sintomática da posição da OMS: “Já falámos sobre a China”. E colocou fim à entrevista logo a seguir.
https://www.youtube.com/watch?v=fASh2_RzMuE
Mas nem todas as polémicas em torno de Tedros Adhanom Ghebreyesus dizem respeito à China. Também na reta inicial do seu caminho na OMS, fez duas nomeações no seio daquela organização que levantaram várias preocupações à altura.
Uma foi a nomeação de Teresa Kasaeva, uma funcionária do Ministério da Saúde da Rússia, para liderar a divisão de combate à tuberculose na OMS — uma decisão que foi tomada um mês depois de uma reunião entre Tedros Adhanom Ghebreyesus e Vladimir Putin e que seguiu para a frente apesar das más prestações da Rússia no que toca àquela doença.
A outra, que foi recebida com ainda maior revolta — tanta que, no final de contas, acabou por ser retirada —, surgiu quando propôs o ditador do Zimbabué Robert Mugabe para embaixador da boa vontade da OMS. Não terá sido alheia a esta decisão o facto de Robert Mugabe liderar a União Africana quando aquele bloco de 55 países decidiu apoiar a candidatura de Tedros Adhanom Ghebreyesus à liderança da OMS.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, que ao entrar para o cargo se destacou pelo seu estilo descontraído, deixando de lado a rigidez de alguns dos seus antecessores, não será um político sem mácula no que toca ao seu percurso na Etiópia.
Durante a campanha para diretor-geral da OMS, foi acusado de ter escondido três surtos de cólera na Etiópia: em 2006, 2009 e 2011. À altura um regime ditatorial com centenas de presos políticos, a Etiópia era já o país em toda a África que recebia mais empréstimos da China per capita. À altura, Tedros Adhanom Ghebreyesus defendia que o seu país era uma “democracia nascente” e negou as acusações de ter escondido quaisquer surtos de cólera — e acusou a equipa de campanha do seu adversário britânico, da qual partiram aquelas acusações, de ter “a típica mentalidade colonial virada para ganhar a qualquer custo e a desacreditar o candidato do país em desenvolvimento”.
“A OMS não tem um exército, por isso não pode obrigar ninguém a a nada”
Numa altura em que Donald Trump deixa a OMS desamparada, e quando as críticas em torno do alegado favorecimento de Tedros Adhanom Ghebreyesus à China se avolumam, há ainda assim vozes que referem que aquele organismo está de pés e mãos atadas.
“A OMS não tem um exército, por isso não pode obrigar ninguém a nada”, diz ao Observador Charles Clift, consultor de saúde pública associado ao think-tank Chatham House e que trabalha esporadicamente para a OMS. “Eu podia até recomendar muitas coisas à OMS, mas a verdade é que não estamos a falar de um país, estamos a falar de um organismo que tem de contar com a cooperação dos países. E, se um país é relutante, a OMS faz o quê? Tem de usar diplomacia, não tem outra hipótese.”
Para Charles Clift, esta tem sido a abordagem da OMS perante a China — e que, defende este especialista em contraciclo com as críticas que têm surgido nos últimos meses, tem dado frutos também durante esta pandemia.
“A OMS tirou benefícios de tudo isto, claro”, garante. “Pode ter havido um tom lisonjeio talvez pouco adequado, mas isso permitiu à OMS aceder a Wuhan, perceber como é que eles implementaram o confinamento, como fizeram os testes e o rastreio de contactos de infetados. Tudo isto foram benefícios. Tanto que o resto do mundo está a implementar essas mesmas medidas.”
Charles Clift reconhece, ainda assim, que a postura da China não tem sido 100% transparente durante este processo. Porém, sublinha, a OMS pouco pode fazer quanto a isso. “O que a China escondeu, está escondido. Nunca saberemos”, sublinha. “É com o resto que temos de trabalhar.”
É precisamente para esse “resto” que apontam os especialistas em saúde global Matthew M. Kavanagh e Lawren Gostin num ensaio publicado pelo Washington Post.
Em primeiro lugar, reconhecem que “é justo debater se a China conseguiu um bom equilíbrio nas comunicações iniciais sobre a Covid-19 na China”. Ainda assim, sublinham que foi graças à proximidade forjada entre a OMS e Pequim que foi possível cientistas de todo o mundo, inclusive dos EUA, terem acesso a dados científicos do novo coronavírus.
“Os cientistas dos EUA só conseguiram dados epidemiológicos nos primeiros tempos [da Covid-19] fornecidos pela China porque a OMS conseguiu esse acesso”, escrevem aqueles dois especialistas.
No mesmo texto, os autores remeteram ainda para um tweet de Donald Trump a 24 de janeiro, quando bastavam os dedos de uma mão para contar o número de casos em todos os EUA. Ali, Donald Trump ainda não adotara o tom crítico de hoje, agradecendo pessoalmente a Xi Jinping e enaltecendo a “transparência” do seu país.
China has been working very hard to contain the Coronavirus. The United States greatly appreciates their efforts and transparency. It will all work out well. In particular, on behalf of the American People, I want to thank President Xi!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 24, 2020
“A China tem trabalhado muito arduamente para conter o coronavírus. Os EUA apreciam enormemente os seus esforços e transparência. Vai ficar tudo bem. Em especial, e em nome do povo americano, quero agradecer ao Presidente Xi!”, escreveu Donald Trump.
Os problemas no “quintal” de Trump
Em paralelo que muitos apontam as instância em que a OMS pode ter sido conivente com o regime chinês durante todo este processo, há também vários fatores que apontam para uma resposta insuficiente e tardia de Donald Trump a esta crise.
Donald Trump refere com frequência a proibição de aterragem de voos chegados da China nos EUA a 31 de janeiro como prova de que a sua administração agiu de forma atempada à pandemia. Porém, há outros indicadores que demonstram que Donald Trump adiou a tomada de medidas que poderiam ter prevenido o crescimento da Covid-19 nos EUA.
Segundo a Bloomberg, Donald Trump foi avisado pelos serviços de informação norte-americanos, incluindo pela CIA, que os números de casos e mortos pela Covid-19 reportados pela China não eram fidedignos — e o The New York Times acrescentou que essa informação foi-lhe dada em fevereiro. E, também de acordo com o The New York Times, Da equipa de especialistas da Casa Branca para doenças infecciosas alertou na terceira semana de fevereiro o Presidente para a necessidade de adotar medidas de distância social — levando à quarentena da maioria da população —, sugestão essa que viria a ser rejeitada até que, a 16 de março, foi aprovada.
Além disso, apesar de Donald Trump ter tomado a decisão de banir os voos da China no final de janeiro, foi só a 12 de março que proibiu os voos da maior parte dos países da Europa — isto numa altura em que a Itália, à altura maior foco no continente, já estava em quarentena a nível nacional. E só a 13 de março declarou o estado de emergência altura em que os casos já eram mais de 2 mil em todo país e as mortes 48 — valores que num só mês cresceriam em 1200% nos diagnósticos de Covid-19 e em 59039% nas óbitos por aquela doença.
“A OMS não pode ser culpada, com credibilidade, pela resposta lenta dos EUA”, sublinham Lawrence Gostin e Matthew Kavanagh no Washington Post. E ao Observador Charles Clift acrescenta: “A pessoas que criticam a OMS deviam olhar para o seu próprio quintal. Trump só está a fazer isto porque tem uma disputa em curso contra a China e também porque tem umas eleições para ganhar em novembro”. E, recusando dizer nomes de países, mas sugerindo que os adivinhemos, acrescenta ainda: “O que causou a maioria dos mortos por Covid-19 não foram os erros cometidos pela OMS, foram os erros cometidos pelos países”.