Isabel II esteve 70 anos no trono e contam-se pelos dedos das mãos as vezes em que falhou a abertura do parlamento ou foi vista com auxílios de mobilidade, e lembremo-nos ainda que nem o coronavírus ou a debilidade física dos seus últimos dias de vida a afastaram das suas funções. Pois a antiga monarca habituou mal os seus súbditos e os atuais protagonistas estão a mostrar-nos que são pessoas reais, tanto da realeza como da realidade. No início de 2024 a casa real britânica viu-se enredada numa série de diagnósticos médicos com limitações imediatas para alguns dos principais membros da família real. Soaram os alarmes de preocupação, mas A Firma não para e coube à rainha Camila e à princesa Ana liderarem as aparições públicas como duas veteranas com um carisma muito próprio.
O atribulado início de 2024 da família real
Num breve resumo, a 17 de janeiro o Palácio de Kensington publicava nas redes sociais um comunicado que dava conta que a princesa de Gales tinha sido submetida a uma cirurgia abdominal na véspera. Informava ainda que Kate iria permanecer internada no hospital até 14 dias e depois continuaria a sua recuperação em casa, só regressando aos seus compromissos depois da Páscoa. Ou seja, a princesa de Gales estaria afastada da vida pública durante quase três meses. Cerca de uma hora e meia depois do anúncio de Kensington, foi a vez de Buckingham informar que o Rei iria ser submetido a um tratamento para o aumento da próstata na semana seguinte e assim foi. Carlos III chegou ao London Clinic acompanhado pela rainha Camila no dia 26 de manhã e fez uma visita à sua nora Kate, que estava internada no mesmo hospital privado, antes de dar entrada para o seu tratamento. Viriam ambos a ter alta hospitalar no dia 29 de janeiro, regressando às suas respetivas casas para recuperarem.
Contudo, alguns dias mais tarde, do Palácio de Buckingham viria uma notícia ainda mais inesperada: o Rei tem cancro. Enquanto esteve no hospital para o tratamento da próstata, “testes de diagnóstico subsequentes identificaram uma forma de cancro”, informou o Palácio no dia em que Carlos III iniciou “um programa de tratamentos regulares, durante os quais vai adiar os seus deveres públicos, por aconselhamento médico”, embora continue a dos assuntos de estado e da papelada habitual, segundo se podia ler no comunicado divulgado a 5 de fevereiro.
E agora, como se reorganiza a família real?
Foi o Rei que decidiu partilhar o seu diagnóstico, de forma a “prevenir especulações” e na esperança de que a informação possa ajudar “todos aqueles que são afetados pelo cancro em todo o mundo”. No entanto, antes de o comunicado chegar às redes sociais da casa real, Carlos III informou a família, os filhos William e Harry, bem como os seus irmãos Ana, André e Eduardo. O primeiro-ministro Rishi Sunak também foi uma das primeiras pessoas a saber do diagnóstico do Rei. Não deve ter sido fácil para os conselheiros da casa real lidar com este terramoto, observar as possíveis soluções e traçar uma estratégia para os próximos meses porque as preenchidas agendas reais não param.
O príncipe William fez da família a sua prioridade durante a recuperação de Kate e o Rei ter-lhe-á dado a sua “bênção” para que assim continue, segundo escreveu o Telegraph. Fonte de Buckingham terá confirmado ao jornal britânico que o príncipe poderá assumir “algumas funções” em nome do Rei, mas serão “alguns compromissos selecionados, em vez de uma parcela inteira”. A princesa Ana mantém-se como uma fiel e discreta guardiã da coroa. Aliás, nas fotografias oficiais da coroação de Carlos III lá está a irmã mais nova ao lado do Rei. Também lá está o irmão mais novo e a cunhada. O príncipe Eduardo e a mulher continuam a assumir um papel cada vez mais importante. O filho mais novo da Rainha herdou o título de duque de Edimburgo do pai e Sophie, que já era uma das pessoas de confiança de Isabel II (diz-se até que a sogra a considerava como uma filha), mantém-se uma mais valia da casa real que também tem lugar no quarteto de mulheres que ajuda Carlos III a manter a monarquia viva.
O príncipe Harry está a viver em Los Angeles com a sua família, e o que o separa da família real no Reino Unido será bem mais do que apenas o oceano. Contudo, no dia seguinte à doença do seu pai se ter tornado notícia, o príncipe aterrou em Londres para visitar o Rei e regressou rapidamente aos Estados Unidos. André também está fora de quaisquer planos uma vez que, desde o escândalo que o relacionava com o milionário norte-americano Jeffrey Epstein e o processo judicial por agressão sexual que lhe foi colocado por Virgia Giuffre, está afastado da atividade da família real e a Rainha retirou-lhe as condecorações militares e as patronagens.
O que já se sabe e ainda não se sabe sobre o diagnóstico de cancro de Carlos III
Muito antes de saber quão atribulado seria o início de 2024, em novembro de 2022, logo depois de se tornar Rei, Carlos resolveu fazer alterações ao seu conselho de Estado e pediu ao parlamento que fossem acrescentados dois nomes: a princesa Ana e o príncipe Eduardo. No mês seguinte os deputados trataram de aprovar uma nova lei que o permitisse. Cabe aos seus membros assumir os deveres oficiais do soberano temporariamente, caso este esteja doente ou fora do país.
O conselho de Estado é composto pelo cônjuge do soberano e pelas quatro pessoas que se seguem na linha de sucessão e tenham mais de 21 anos (ao herdeiro basta ter 18), ou seja, a rainha Camila, os príncipes William e Harry, o príncipe André e a filha mais velha deste, a princesa Beatrice, segundo se pode ler no site da família real e com as novas alterações passou a contar também com a princesa Ana e o príncipe Eduardo. Quando é necessária a intervenção dos conselheiros eles devem atuar em pares, como quando em 2022 o então príncipe Carlos e o príncipe William substituíram a Isabel II na abertura do parlamento. Na prática, apenas os membros ativos da família real vão ser chamados para atuar enquanto Conselheiros de Estado, o que deixa de fora Harry, André e Beatrice.
Regressando à tal fotografia de família da coroação de Carlos e de Camila, algo que é bastante visível no grupo de 10 pessoas que acompanham os novos reis é que apenas os príncipes de Gales são da geração seguinte e neste momento ambos estão total ou parcialmente afastados dos seus deveres. Por isso, numa altura em que são necessários reforços para atender a todas as necessidades e compromissos da agenda real, é sobre os mais velhos que recai a responsabilidade. Em especial sobre as duas mulheres ao lado do Rei, a veterana princesa Ana e a rainha Camila.
Camila, a rainha consorte, será também a “nova avó da nação”?
Quem colocou a pergunta foi a revista britânica Tatler no início deste mês de fevereiro e talvez o título se aplique. Carlos e Camila completam 19 anos de casamento no próximo mês de abril, o percurso de aceitação de eterna paixão do herdeiro do trono pelo público britânico começou muito antes, e a resiliência de Camila até impressionou Isabel II. A história de amor atribulada com mais de 50 anos ainda não é vista desta forma por toda a gente, a atual rainha consorte chegou a ser odiada pelo público mas parece ter conseguido a aprovação dos seus súbditos.
Antes de casar com o príncipe Carlos, Camila nunca tinha trabalhado, mas desde então tornou-se presidente e patrona de cerca de 100 entidades, abraçou uma série de causas às quais se dedica, da violência doméstica e sexual, aos animais, saúde, artes e letras. Encontrou a sua vocação e é um dos membros mais trabalhadores da família real. Aos 76 anos, Camila tem mantido a estabilidade do Rei, uma preenchida agenda e a expectativa de quem a observa com a graciosidade e humildade que a vida lhe ensinou. Porque a sua equipa pode tratar das relações públicas, mas é ela quem conquista as pessoas quando dá a cara.
Camilla. Os 75 anos da vilã da coroa que conquistou o povo e agora é rainha
Fontes próximas da família real destacaram à Vanity Fair o “extraordinário”nível de empenho de Camila nos seus deveres, assim como que “tem sido bastante notável”, escreve a editora de realeza, Katie Nicholl. Camila esteve sempre presente ao lado do marido sem nunca descurar os seus compromissos. Acompanhou o Rei quando este deu entrada no hospital e quando teve alta e regressou a casa, visitou-o e partilhou o seu estado com o público.
“A compreensão do papel dela e a diferença que isso faz para o Rei tem sido absolutamente extraordinária”, disse a princesa Ana sobre a cunhada num documentário sobre os bastidores da coroação de Carlos III e Camila. “Este papel não é algo para o qual ela teria sido natural, mas ela fá-lo muito bem. E ela dá aquela mudança de velocidade e tom que é igualmente importante”, acrescenta a irmã do Rei, citada na revista Town & Country, lembrando que conhece Camila há muito tempo.
Princesa Ana: “a pessoa da realeza mais trabalhadora” em 2023
Kate, a princesa de Gales, conquistou há muito o cognome de “joia da coroa”. O estilo, a simpatia e o empenho tornaram-na uma das estrelas mais brilhantes na constelação da família real, contudo o seu recente estado de saúde, sobre o qual se tem mantido um incrível secretismo, vai mantê-la longe das objetivas da imprensa, pelo menos três meses. A última vez que foi vista em público foi no serviço religioso do dia de Natal com a restante família real e, segundo indicações do palácio, provavelmente, só a voltaremos a ver depois da Páscoa. Mas numa altura em que Kate, William e o Rei estão afastados dos compromissos públicos, basta olharmos para o Instagram da casa real para percebermos que é o carisma feminino que mantém a instituição em movimento.
Ainda 2023 se encaminhava para o fim quando a princesa Ana foi coroada pelo Telegraph como “a pessoa da realeza mais trabalhadora” daquele ano. O jornal cruzou eventos públicos com compromissos oficiais e informações dadas pela Casa Real, através da Court Circular, o registo oficial de eventos reais, e chegou a um ranking que coloca a princesa Ana no topo com um total de 457 compromissos, seguida pelo Rei com 425 compromissos. O terceiro lugar fica bem longe e é ocupado pelo duque de Edimburgo, o príncipe Eduardo, com 297 compromissos. A rainha Camila, com 233 compromissos reais, ocupa o quarto lugar e é seguida pela duquesa de Edimburgo, Sophie, com 219. Importa registar que tanto o Rei como a irmã aumentaram o seu volume de trabalho durante o ano 2023, porque herdaram alguns deveres da Rainha Isabel II.
No entanto, este estatuto não é uma novidade para a princesa Ana que ano após ano vê o seu título de membro mais trabalhador da família revalidado. Em 2023, a irmã do Rei podia chegar a ter 12 ou 14 compromissos numa só semana. Ana tem 73 anos e uma vida inteira de experiência nos deveres reais e serviço público por todo o Reino Unido. Embora esteja constantemente a cair na linha de sucessão ao trono, sabe que o seu papel é outro. Foi a única mulher a caminhar atrás do caixão da mãe no cortejo do funeral de Isabel II e segundo a autora e biógrafa da família real Ingrid Seward disse ao Telegraph, antes de Carlos casar com Camila, a Rainha acreditava que seria Ana a estar ao lado do irmão quando este fosse Rei, “como uma espécie de rainha incógnita” e com um importante papel. “Eles têm um enorme respeito mútuo”, revela a autora. Ana é uma veterana e uma profissional e no dia em que Carlos III regressou da sua casa de campo a Londres para começar os seus tratamentos, Ana marcou presença no Castelo de Windsor para atribuir uma série de condecorações.
Logo no início de 2024 foi com o marido, Sir Tim Laurence, numa visita de estado de três dias ao Sri Lanka. Não só deu que falar porque a vimos sair do avião a carregar as suas próprias malas, mas também porque usou o seus óculos escuros Adidas, que são uma assinatura de estilo. A princesa Ana não joga no mesmo campeonato de estilo que a sobrinha política Kate Middleton, mas é uma espécie de ícone independente com regras próprias. Por isso, para os fãs de moda e do estilo das royals, só há vantagens em ver a princesa Ana com cada vez mais protagonismo. Pelos padrões sociais atuais podíamos dizer que é defensora da sustentabilidade na moda, mas na verdade Ana simplesmente não liga a tendências e prefere reutilizar pelo máximo de tempo possível. Por exemplo, no passado dia 22 de fevereiro visitou uma fábrica e usou um casaco cor e laranja que já tinha usado num festival equestre em março de 2012. Mas já no início de fevereiro, durante uma visita a Nottingham, tinha usado um casaco roxo que terá herdado do guarda-roupa da mãe, uma vez que a Rainha Isabel II usou o casaco em público em 2006 e em 2010.
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O homem que as unia antes de Carlos
Antes de serem a equipa de elite de Carlos III, as vidas de Ana e Camila cruzaram-se há muitos anos e há até um outro homem que as une. Na década de 1970 a princesa Ana teve uma relação amorosa com Andrew Parker Bowles que viria a casar-se com Camila e esta, por sua vez, conheceu o príncipe Carlos que se apaixonou por ela. A princesa Ana e Andrew Parker Bowles conheceram-se em 1970 e foi a paixão pelos cavalos que os uniu, conta a Vanity Fair. Ele pertencia à equipa de polo do príncipe de Gales e ela chegou a competir como cavaleira nos Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal. O romance entre ambos terá sido breve, mas ficou registado na série The Crown. Viriam a casar-se no mesmo ano, em 1973, Andrew com Camila, mas divorciaram-se em 1995, e Ana casou com o capitão Mark Phillips, mas o casamento acabou em 1992, o famoso annus horribilis de Isabel II. Andrew nunca cortou relações nem com Ana, nem com Camila. Na verdade, o Sr. Parker Bowles manteve-se sempre por perto da família real, uma vez que é padrinho da filha da princesa Ana, Zara Phillips, foi convidado no casamento de Carlos e Camila, em 2005, e até na coroação destes, em maio de 2022.