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Alguns arguidos foram dispensados pela juíza de comparecer às sessões de julgamento que decorre no Monsanto
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Alguns arguidos foram dispensados pela juíza de comparecer às sessões de julgamento que decorre no Monsanto

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Alguns arguidos foram dispensados pela juíza de comparecer às sessões de julgamento que decorre no Monsanto

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Assaltos, sequestros, agressões e tráfico. Os outros crimes dos arguidos de Alcochete que pesaram nas condenações

Tribunal condenou 41 dos 44 arguidos do processo, mas só nove vão cumprir pena efetiva de prisão porque tinham já cadastro criminal. Na lista há assaltos, sequestros, agressões e tráfico.

Tinha acabado de ganhar 1.050 euros no poker, no Casino Estoril, e preparava-se para beber um copo num bar ali perto quando alguém o puxou pelo braço e ordenou-lhe que entrasse numa carrinha. Ivo. R., à data com 22 anos, tornara-se jogador profissional e preferia até jogar online, mas, naquela noite de maio de 2015, tinha decidido ir ao casino. Alex, que o abordou, era já seu conhecido e até estivera momentos antes com ele na sala de jogo. Constava que, em tempos, teria extorquido 900 euros do prémio de outro jogador, que não terá apresentado queixa por medo. Também por medo, Ivo não resistiu e entrou na carrinha, como contaria mais tarde à polícia.

Ao volante estava Getúlio Fernandes, um homem alto e encorpado que conhecia do casino e da porta de um bar/discoteca onde trabalhava como segurança e que ele frequentava. Getúlio — de 41 anos, um dos nove arguidos condenado a prisão efetiva pela invasão à academia de Alcochete — acelerou e fterá sido quem entabulou conversa, enquanto, ao seu lado, Alex mantinha-se em silêncio. “Veio com uma conversa estranha”, relatou, então, Ivo à polícia. Queria saber por que andavam a dizer mal dele. Ivo, que não sabia do que ele falava nem para onde o levavam, ainda conseguiu esconder nas meias o dinheiro que ganhara.

Segundo o auto da polícia, que relata o que se terá passado a seguir, Getúlio conduziu o jogador de poker a um local ermo junto à entrada do Golf do Estoril. Desligou o carro, apagou as luzes e ordenou-lhe que saísse. Ainda terá tirado um objeto do interior do carro e mandado Ivo para as traseiras da viatura, para depois o agredir. Foi por esta altura que terá exibido uma arma e dito que alguém teria que pagar pelo que ele estava a passar. E com a arma terá revistado a vítima, de cima a baixo, até encontrar o dinheiro.

“Ninguém pode saber que te tirei o dinheiro! Nem o Alex”, terá ordenado Getúlio, para depois anunciar-lhe que, a partir daquele momento, todos os domingos o jogador estaria obrigado a entregar-lhe 200 euros. “Sei onde tu moras, se não pagares quem vai pagar é a tua mulher”, terá ameaçado. Getúlio terá entrado na carrinha e abandonado a vítima no local. Ivo ficou “completamente aterrorizado”, como viria a descrever já na esquadra da polícia. E acabou por mudar todas as suas rotinas por medo.

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Este é apenas um de dezenas de episódios registados pela Unidade Metropolitana de Informações Desportivas da PSP, a quem a GNR de Setúbal pediu informações e colaboração logo no dia do ataque à academia do Sporting, em Alcochete, quando cerca de meia centena de adeptos irromperam nas instalações e agrediram alguns jogadores e equipa técnica. Sequestro, assaltos, tráfico de droga e agressões são apenas alguns dos crimes que constam na longa lista de processos que a polícia contabilizou relativamente a 29 dos arguidos. No entanto, muitos destes casos continuam pendentes e alguns acabaram arquivados, pelo que nem todos constam no cadastro de cada um deles. Aliás, segundo o acórdão que condenou Getúlio a uma pena efetiva pela invasão à Academia de Alcochete, no seu cadastro constam três processos: um no Tribunal de Torres Novas em que foi condenado a dez anos de cadeia por roubo, outro no Tribunal de Loures por agressão e outro no Tribunal de Cascais por posse de ama proibida. Este processo com o jogador de Poker não consta no cadastro de Getúlio, que chegou a entrar na PSP, mas que acabou suspenso ainda na Escola Prática de Polícia.

O cadastro foi um dos critérios usados pelo coletivo de juízas para aplicar a sentença do processo que investigou o ataque à Academia, conhecida esta quinta-feira. Entre os condenados, há até quem tenha registo de uma série de processos na base de dados da polícia e mantenha o registo criminal imaculado — e que, por isso, tenha beneficiado de uma pena de prisão suspensa.

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MÁRIO CRUZ/LUSA

Segundo os documentos que constam no processo, e a que o Observador teve acesso, as primeiras informações da PSP — que monitoriza os eventos desportivos e os seus adeptos — foram pedidas logo no dia do ataque em que foram apanhados 17 suspeitos em flagrante delito, em maio de 2018. Esta unidade policial foi também fundamental na identificação das imagens recolhidas pelo sistema de videovigilância, cruzando com a base de dados dos adeptos já referenciados, o que permitiu identificar nove outros suspeitos. Os restantes 18 foram constituídos arguidos à medida que as autoridades iam investigando as ligações dos adeptos e das provas que iam surgindo, como as conversas tidas via WhatsApp.

Getúlio foi um dos suspeitos detidos na segunda fase, depois de reconhecido pela PSP nas imagens recolhidas pelo sistema de videovigilância da Academia. A polícia tinha ainda dois registos de situações que o envolveram e que não chegaram a culminar num processo crime: uma burla no Casino Estoril enquanto jogava e um caso de ameaças em São João da Talha, registado em 2013, em que Getúlio terá ido ter com o filho de um homem que lhe estragara o carro, exigindo que lhe pagasse os estragos. A vítima disse à polícia que o suspeito o ameaçou. Getúlio, em sua defesa, garantiu que só ali foi para resolver tudo amigavelmente.

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O arguido do dente de ouro —  uma característica já identificada por uma testemunha

Grande parte dos suspeitos do ataque à academia agiu de cara tapada, dificultando o seu reconhecimento. Durante a investigação, a GNR conseguiu identificar alguns deles cruzando as imagens do sistema de videovigilância com a roupa que usavam, enquanto alguns suspeitos detidos fora de flagrante teriam em casa a roupa alegadamente usada no crime. E essas provas foram fundamentais em julgamento. Há, no entanto, características que algumas testemunhas lembraram em tribunal e que foram tidas em conta pelo coletivo de juízas, como é o caso de um dente de ouro.

É essa a memória que o jogador João Palhinha tem gravada na cabeça e que partilhou em tribunal, por videoconferência. Segundo ele, “um indivíduo com dente de ouro deu uma chapada no Montero”. Cabe agora ao tribunal concluir se esse suspeito era ou não o arguido que a GNR identificou e constituiu arguido e que tem também um dente de ouro. 

Leandro A., 35 anos, integra o núcleo da Juve Leo Barreiro. Segundo as informações policiais, já foi identificado em, pelo menos, quatro processos. Num deles terá sido reconhecido precisamente pelo dente de ouro. Foi a 22 de maio de 2016, quando ele e três outros suspeitos tentavam assaltar uma vítima junto ao terminal rodo ferro fluvial do Barreiro e foram surpreendidos por um polícia à civil. Esse polícia estava de folga e circulava no seu carro pessoal quando assistiu à cena, parou o carro e identificou-se. Mas os quatro viraram-se contra ele e terão partido para a agressão. Só quando começaram a chegar mais pessoas é que os agressores pararam de bater ao polícia e fugiram. Um deles foi intercetado numa rua próxima, os outros três acabaram por ser identificados mais tarde. Leandro L., disse à data o polícia, trazia um fato de treino escuro com um símbolo do Sporting e destacava-se por uma característica muito própria: um dente de ouro. O arguido foi também detido noutros casos, um por condução sem carta, outro pelo crime de incêndio numa garagem de uma vizinha com quem se terá incompatibilizado e ameaçado de morte. Há também um processo crime em seu nome por suspeita de furto de um par de óculos.

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No levantamento de processos-crime que a polícia fez em relação aos arguidos há mais quem se tenha incompatibilizado com vizinhos e partido para a agressão. Com dez inquéritos abertos em seu nome — embora do seu registo criminal constem agora apenas quatro — Bruno Monteiro., 31 anos, foi condenado por, há seis anos, ter ameaçado uma vizinha com uma faca, à porta do prédio onde viviam. 

Disse-lhe que “a cortava aos bocadinhos e que a dava aos porcos”, como viria a vítima a referir às autoridades. Não era a primeira vez que os dois se incompatibilizavam, mas, desta, a vizinha acabaria por seguir com o caso para tribunal. O arguido não compareceu em julgamento para apresentar a sua versão dos factos. Acabou condenado a uma pena de nove meses de cadeia e ao pagamento de uma indemnização à vítima. Meses depois, era identificado por suspeitas de uma tentativa de homicídio e de uma agressão. Também neste caso foi condenado a uma pena suspensa de quatro anos e nove meses, porque o outro processo ainda não tinha transitado em julgado — logo, não foi tido em conta neste caso.

Bruno Monteiro, que é outro dos nove arguidos condenados a pena efetiva de prisão pelo tribunal de Monsanto, também já foi suspeito dos crimes de furto, roubo e contra a liberdade pessoal. Um dos furtos ocorreu anos antes destes crimes, em 2004, quando ele e outro suspeitos entraram no El Corte Inglês, em Lisboa, e furtaram computadores que estavam em exposição. Nessa altura o agora arguido não tinha antecedentes criminais e alegou estar desempregado, mostrando-se arrependido. O juiz decidiu substituir-lhe a pena de prisão por uma multa, em maio de 2008.

Os 44 arguidos do caso de Alcochete estão a ser julgados no tribunal de Monsanto

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Os outros condenados a penas efetivas

Entre os arguidos com ficha criminal está também Pavlo Antonchuck, conhecido por “Ucraniano” e igualmente condenado a pena efetiva no processo que foi julgado em Monsanto. Pavlo tem 24 anos, está em Portugal desde os seis e conta com vários processos no registo criminal, por tráfico de droga, agressões, violação do domicílio, furto em supermercado e burla para obtenção de alimentos. Em 2015 foi condenado por um roubo em coautoria junto à sede da Juve Leo.

Alguns crimes ocorreram junto à sede da Juve Leo

MÁRIO CRUZ/LUSA

Em 2017, o ano em que foi condenado pela segunda vez, mas por tráfico de droga, foi também acusado de dois crimes de agressão, um deles grave. Ele e um grupo de adeptos do Sporting estavam no centro comercial Alvalaxia quando se desentenderam com o funcionário de um bar/restaurante. Pavlo terá dado um murro ao empregado, outros dois suspeitos saltaram um balcão, quando um militar da GNR à civil se identificou. “És polícia também levas”, terá dito um deles. O militar foi agredido com violência e os agressores só pararam e fugiram quando perceberam que a PSP estava a chegar. O militar esteve quase nove meses sem trabalhar, Pavlo foi acusado pelo Ministério Público de ser um dos agressores.

No acórdão assinado pelo coletivo de juízas presidido por Sílvia Pires faz-se, no entanto, há referência a quatro processos que constam no cadastro: um por ofensa à integridade física, um por roubo qualificado, outro por detenção de arma proibida e um quarto por consumo de droga.

Além destes arguidos, também Tiago Neves foi condenado a uma pena de prisão efetiva. No cadastro conta com um processo que terminou em 2012 com uma pena de multa pelo crime de burla simples, quatro anos depois enfrentaria o fim de um segundo processo: com uma pena de dois anos suspensa por crime de resistência e coação sobre funcionário, um crime de dano qualificado no âmbito de espetáculo desportivo e um crime de participação em rixa na deslocação para ou de espetáculo desportivo.

Quando participou na invasão à academia de Alcochete, Tiago vivia com a mãe em Loulé e trabalhava como barman. Ía a Lisboa para ver a namorada sempre que estava de folga. Mas quando ficou em prisão domiciliária permaneceu em casa dos tios, ele professor e ela médica. Já em fevereiro, Tiago voltou para a Universidade do Algarve, para terminar o curso.

Domingos Monteiro foi também condenado a uma pena efetiva de prisão. Segundo o acórdão do processo, tem dois processos no cadastro: um por detenção de arma proibida, pelo qual foi condenado a uma multa e outro por roubo e agressão, que correu no Tribunal de Londres e que lhe valeu ser deportado para Portugal.

São nove os crimes que constam no cadastro de Élton Camará, que passou praticamente todo o período do julgamento em prisão preventiva. Todos os crimes estão relacionados com roubo, tráfico de droga e condução ilegal. Já Nuno Torres, que ficou conhecido no processo pelo condutor do, tem no cadastro sete crimes. O arguido que disse sempre que se limitou a dar boleia a alguns arguidos e que nada fez, acabou condenado a uma pena efetiva de prisão. A maior parte dos crimes que tinha sido condenado foram de condução ilegal, mas num dos processos qe consta no seu registo criminal foi condenado por sete crimes de ameaça e num outro por posse de arma ilegal.

O ex-jardineiro da embaixada do Paquistão que está no banco dos réus e que levou pena suspensa

Quando a 18 de novembro, o primeiro dia do julgamento do caso de Alcochete, Hugo Ribeiro., de 43 anos, mais conhecido por “Badolas”, foi chamado à juíza para se identificar, a magistrada perguntou-lhe se ainda trabalhava na embaixada. O arguido respondeu que não.

Hugo trabalhava como jardineiro na embaixada do Paquistão quando foi detido por suspeitas de ter invadido a academia de Alcochete para agredir jogadores e equipa técnica pelo mau desempenho do Sporting naquela temporada. Mas a sua ficha na polícia tinha já algumas marcas. A primeira remonta a 2011, ainda ele não trabalhava na embaixada, quando a polícia o mandou parar, em Camarate, por conduzir sem cinto de segurança. Segundo o processo-crime que foi então aberto, o suspeito terá reagido de forma agressiva, insultando os agentes da PSP e dizendo que ganhava “8 mil euros”, pelo que iria pô-los em tribunal.

Três meses depois, segundo um outro processo-crime, teve uma reação ainda mais violenta. Quando se dirigiu à esquadra da Mina para pagar uma conta de água e o funcionário lhe disse que já passava da hora e que não podia atendê-lo, Hugo agrediu-o. O vigilante ainda tentou agarrá-lo, mas Hugo acabou por fugir. Acabaria detido pela polícia que, entretanto, apareceu.

No registo da polícia só volta a aparecer outro processo crime em seu nome em 2016. Neste caso, Hugo também estava de carro e parou num McDrive. Segundo a queixa registada pela polícia, o suspeito terá insultado as funcionárias que o atenderam, chamando “gorda” a uma delas. Como elas lhe responderam, ele terá saído do carro e tentado entrar pela janela do atendimento para agredi-las. Só não o terá feito porque outro funcionário impediu. Ainda nesse ano, Hugo foi também apanhado a sair com uma pizza e um sumo de um supermercado sem pagar.

Na ficha da polícia, antes de ser detido e constituído arguido no caso de Alcochete, o já funcionário da embaixada acabaria por ser alvo de outro processo, desta vez por um crime contra a honra. Segundo as funcionárias do registo civil, o arguido tirou uma senha de atendimento prioritário. Quando lhe disseram que não tinha direito a fazê-lo, Hugo exaltou-se e insultou as mulheres.

Nenhum destes crimes consta no seu cadastro, por isso Hugo viu a pena a que foi condenado ser suspensa.

As rixas entre adeptos e a morte de Ficini

Entre os 41 arguidos condenados, uma minoria não tem ficha criminal, muito menos cadastro. Outros foram apenas apanhados em situações em jogos de futebol, como invasões em estádios, danos na via pública ou mesmo agressões. Mas há quem tenha pendentes outros casos mais graves: Miguel Ferrão, Valter Semedo e Alano Silva (que não está entre os 44 arguidos em julgamento porque se encontra em fuga e o processo contra ele foi separado) são também arguidos no caso do adepto italiano Marco Ficini, morto por atropelamento junto ao estádio da Luz, e cujo julgamento está a decorrer (embora suspenso por causa da pandemia. Valter Semedo e Miguel Ferrão, ambos de 25 anos, foram julgados pelos crimes de participação em rixa e dano com violência, mas o Ministério Público pediu a sua absolvição. Falta agora a sentença.

O caso conta com 22 arguidos, dez deles adeptos do Benfica com ligações aos No Name Boys e 12 da claque do Sporting, Juventude Leonina. Luís Pina, do Benfica, responde pelo crime do homicídio de Marco Ficini e de outros quatro homicídios, na forma tentada, enquanto os restantes arguidos foram acusados dos crimes de participação em rixa, dano com violência e omissão de auxílio.

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Valter Semedo, ainda de acordo com os registos da polícia, já enfrentou também outros processos por agressão: um deles a um elemento da própria Juve Leo, por alegadas divergências sobre a página de internet “Rapazia 1906”; e outro relativo ao processo da tomada de poder à força da Juve Leo — aquele que contou com uma troca de tiros entre dezenas de elementos dos Hells Angels e da organização de extrema-direita Portuguese Hammerskins. Segundo a polícia, foi alvo também de outro processo por suspeitas de ter feito rebentar um engenho pirotécnico dentro de uma escola. Também na escola chegou a ser identificado pela alegada agressão a um professor. Valter Semedo é, segundo os registos policiais que constam no processo de Alcochete, um dos elementos do “staff” de Nuno Mendes, o líder da Juve Leo.

Já Miguel Ferrão, que começa também a ser julgado quarta-feira no caso do adepto italiano, tem no registo criminal um outro processo por participação em rixa. Segundo a polícia, costuma integrar o movimento Casual, dos adeptos que normalmente tentam não mostrar símbolos do clube, vestem-se de negro e andam à margem dos restantes adeptos para não serem monitorizados pela polícia.

Os dois foram, por isso, condenados a uma pena suspensa de prisão.

Os detalhes da acusação contra Pereira Cristóvão

Líder da Juve Leo foi absolvido, mas também tem crime de sequestro no cadastro

Nesta lista, Nuno Mendes é uma exceção. Também com 41 anos, viu o tribunal concluir que não teve qualquer responsabilidade no ataque à Academia de Alcochete, assim como Bruno de Carvalho e Bruno Jacinto. Os três foram absolvidos.

Mas, tal como os anteriores, não tem o registo criminal imaculado.

No certificado pedido durante a investigação, Musta ou Mustafá, como é também conhecido, tem inscrita uma condenação por três crimes de roubo e um de sequestro, praticados em 1995. O Tribunal de Almada condenou-o, já em 1996, a quatro anos e seis meses de cadeia. Nuno Mendes sairia em liberdade condicional três anos depois, mas em três meses era novamente detido por roubo e posse ilegal de arma. Neste segundo processo, lê-se no registo criminal, foi condenado a nove anos e seis meses de cadeia. Ainda antes de terminar a pena e já em liberdade, acabou por ser novamente detido pelo crime de incêndio, explosões e outras condutas especialmente perigosas — o que o levou a outra condenação a uma pena suspensa de quatro anos, em maio de 2012, e à proibição de entrar em recintos desportivos durante quase um ano.

Mustafá foi eleito líder da Juve Leo depois de deixar de estar em prisão preventiva por crimes de sequestro

RUI MINDERICO/LUSA

Em 2015, Mustafá voltaria a ser detido, desta vez pela sua ligação a Paulo Pereira Cristóvão, o antigo inspetor da PJ que chegou à vice-presidência do Sporting. Ambos acabaram por ficar em prisão preventiva, suspeitos de crimes de associação criminosa, roubo, sequestro, posse de arma proibida, abuso de poder, violação de domicílio por funcionário e falsificação de documento.

Nesta altura, e com a Juve Leo sem liderança, ainda houve elementos dos Hells Angels, da Portugal Hammerskins (de Mário Machado) e dos Casual a tentarem tomar o poder da claque à força, como se lê nas informações policiais que constam no processo. Um ano depois, sem olhar a fichas criminais, os adeptos que integram a Juve Leo acabariam por eleger Mustafá, já em liberdade, como o seu líder. O último responsável pela Juve Leo tinha sido Fernando Barata (“Mendes”) — também a ser julgado pela invasão à academia, embora ausente devido a doença grave, e com um cadastro que se resume a condução sob efeito do álcool, agressões, crime de participação em rixa e desobediência.

Fernando Mendes tem no cadastro 17 crimes já resolvidos, desde detenção de arma proibida, a condução com álcool ou episódios de agressões em eventos desportivos.

Fernando Mendes tem também cadastro por participação em rixa

CARLOS SANTOS/LUSA

Foi à frente da Juve Leo que Mustafá enfrentou o julgamento ao lado de Pereira Cristóvão, ainda em 2016. O julgamento acabaria por ser anulado e repetido em Cascais, com a sentença a ser conhecida este dezembro de 2019: Mustafá foi condenado a seis anos e quatro meses de cadeia, já Pereira Cristóvão enfrenta uma pena de sete anos e meio de prisão.

Mustafá é um dos arguidos que não foi visto na academia naquele dia do ataque, mas que, aos olhos do Ministério Público, era dos autores morais do crime, à semelhança do então presidente do Sporting, Bruno de Carvalho. A acusação revelava que ambos falavam regularmente ao telefone e que o terão feito nos dias antes do ataque. No entanto, já em alegações finais, a procuradora do julgamento considerou não haver qualquer prova contra ele. Na sentença lida esta quarta-feira pelo coletivo de juízes presidido por Sílvia Pires, Musta foi também absolvido do crime de tráfico de droga, por causa da cocaína encontrada pela polícia na sede da Juve Leo — motivo pelo qual passou quase um ano em prisão preventiva. Para agora ser absolvido.

Entre os 44 arguidos de Alcochete alguns já estiveram também juntos outros processos, como um em que terão arremessado pedras contra adeptos do Sporting de Braga, num jogo com o Sporting para o Liga Nos (2017/2018), ou na Madeira, em confrontos com os adeptos do Marítimo.

“Fernando, ajuda, estes gajos estão a bater nos jogadores, ajuda-me”. O relato que Jorge Jesus fez à GNR

O julgamento do caso de Alcochete terminou esta quinta-feira no Tribunal do Monsanto com a absolvição do ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, do líder da claque Juve Leo, Nuno Mendes, e do oficial de ligação dos adeptos ao clube, Bruno Jacinto.  Já quanto aos restantes 41 arguidos, foram todos condenados por introdução em propriedade privada, mas em graus de culpa diferentes: quatro, que entraram e saíram, terão de pagar uma multa, 17 enfrentam também penas por ofensas à integridade física qualificada e 11 por ofensas à integridade física agravadas, pelo que foram condenados a penas entre os quatro e os cinco anos.

No entanto, só nove vão cumprir efetivamente pena de prisão: Pavlo Antonchuk, Tiago Neves, Domingos Monteiro, Bruno Monteiro, Leandro Almeida, Fernando Mendes, Elton Camará, Nuno Torres e Getúlio Fernandes. Os restantes, como não têm cadastro, vão ver as suas penas serem suspensas por igual período, mas alguns com obrigação de fazerem trabalho comunitário e de não entrarem em estádios de futebol.

Juízas do caso Alcochete reduzem acusação de 143 para 19 páginas e alteram factos imputados a Bruno de Carvalho

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