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João Pedro Oliveira e Costa (BPI), Pedro Castro e Almeida (Santander), Paulo Macedo (CGD), Miguel Maya (BCP), Mark Bourke (Novo Banco) e Pedro Leitão (Montepio). ILUSTRAÇÃO: Rodrigo Mendes/OBSERVADOR
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João Pedro Oliveira e Costa (BPI), Pedro Castro e Almeida (Santander), Paulo Macedo (CGD), Miguel Maya (BCP), Mark Bourke (Novo Banco) e Pedro Leitão (Montepio). ILUSTRAÇÃO: Rodrigo Mendes/OBSERVADOR

RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

João Pedro Oliveira e Costa (BPI), Pedro Castro e Almeida (Santander), Paulo Macedo (CGD), Miguel Maya (BCP), Mark Bourke (Novo Banco) e Pedro Leitão (Montepio). ILUSTRAÇÃO: Rodrigo Mendes/OBSERVADOR

RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

Banca duplica lucros com menos 5.600 trabalhadores do que tinha em 2019

Seis maiores bancos dispensaram trabalhadores quando as taxas de juro eram baixas. Com a subida dos juros, a rendibilidade disparou, também graças à redução de pessoal que antes tinha sido feita.

Se os trabalhadores que saíram dos quadros dos principais bancos portugueses, só nesta década, se juntassem e abrissem um novo, essa instituição financeira teria entrada direta para o top 3 dos maiores bancos em número de colaboradores. No final de 2019, os seis maiores bancos a operar em Portugal tinham mais de 34 mil trabalhadores. Desde então, as saídas foram muito mais do que as entradas e, hoje, são cerca de 28.500. E se, nesse ano de 2019, último ano antes da pandemia de Covid-19, os bancos tinham tido pouco mais de 2.000 milhões de euros em lucros, em 2023 tiveram quase 4.500 milhões de resultados. E passaram a estar entre os mais rentáveis e “eficientes” da Europa.

Os seis maiores bancos portugueses fecharam 2023 com lucros de 4.472 milhões de euros, com a Caixa Geral de Depósitos a apresentar nesta sexta-feira um resultado histórico de 1.291 milhões. Já o Santander Portugal tinha, também, anunciado um lucro superior a mil milhões de euros (1.030 milhões), no início de fevereiro. Por seu lado, o Millennium BCP e Novo Banco tiveram lucros de 856 milhões e 743 milhões, respetivamente, ao passo que o BPI lucrou 524 milhões e o Montepio 28 milhões.

Estes mesmos bancos, os seis maiores do sistema bancário português, terminaram o ano com 28.560 colaboradores (apenas contando com a atividade em Portugal), menos 5.603 do que tinham à entrada nos anos 2020. E têm menos cerca de 10 mil quando se recua mais no tempo e se usa como ponto de comparação o ano de 2015, véspera da reestruturação de alguns dos maiores bancos do sistema, como a CGD e o BCP.

Em 2019, os mesmos seis bancos tinham tido, no total, 2.133 milhões de euros em lucros, cerca de 1.500 milhões dos quais na atividade em Portugal. Esta (mais do que) duplicação dos lucros é um resultado direto do aumento das taxas de juro, que em 2019 estavam em níveis negativos e, em 2023, depois de começarem o ano perto dos 2% terminaram em quase 4%. Para os bancos, o aumento das taxas de juro e, em particular, dos indexantes Euribor, significa um impulso imediato na margem financeira – sobretudo em Portugal, onde a maior parte dos créditos à habitação são indexados a taxa variável.

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Por outro lado, a margem financeira também beneficiou do facto de os bancos portugueses terem sido dos mais lentos da zona euro a refletir o aumento das mesmas Euribor aos juros pagos pelos depósitos. Entre outros fatores, os bancos puderam ser menos generosos na remuneração dos depósitos porque os portugueses são, em geral, bons adeptos da poupança sem risco na banca e, por isso, existe muita procura por depósitos mesmo que as taxas sejam menos rentáveis.

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É neste contexto que os bancos portugueses vão buscar entre 75% e 85% do financiamento de que necessitam aos depósitos, ao passo que na zona euro a média ronda os 65%. Ou seja, os bancos europeus obtêm cerca de um terço do financiamento noutras fontes, que tendencialmente lhes saem mais caras, como emissões em mercado. Em contraste, os bancos portugueses encontram a quase totalidade do financiamento de que necessitam numa fonte relativamente mais barata: os clientes, boa parte dos quais pouco sensíveis à taxa de juro que lhes é oferecida.

E, do outro lado do negócio – a concessão de crédito – os bancos portugueses beneficiaram do facto de mais de 80% dos créditos à habitação terem taxa variável, uma proporção mais elevada do que na generalidade dos países europeus (o BCE não disponibiliza dados oficiais, que permitam uma comparação perfeita, mas sobretudo nos países do norte da Europa a maior parte dos créditos à habitação sempre foi contratada com taxa fixa).

Outra variável importante é a das comissões, que os bancos decidiram aumentar como forma de compensar as taxas de juro baixas ou negativas da década passada. Os números mostram, porém, que, no novo enquadramento marcado por taxas de juro elevadas, os bancos não estão a cobrar menos comissões, pelo contrário. A receita com serviços e comissões somou 2.108 milhões de euros em 2019 (nos seis maiores bancos) e em 2023 ascendeu a 2.296 milhões de euros.

Baixos custos ajudam ao “bingo” que bancos portugueses tiveram em 2023

Até recentemente, os bancos relativizavam a multiplicação dos lucros anuais notando que tinham de ser vistos em comparação com o capital acionista que estava empregue nestas instituições. Ao longo da última década, a chamada “rentabilidade dos capitais próprios” (ROE) oscilou entre valores muito baixos (de um dígito) e valores negativos – ao passo que outros setores têm tido rentabilidades superiores a 30% (atividades imobiliárias) e 40% (espetáculos e desporto).

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Porém, este cenário alterou-se a partir de 2021, quando as taxas de juro começaram a dar sinais de subir. De tendencialmente menos rentáveis do que a banca europeia, passaram a estar entre os mais lucrativos. O ROE dos bancos portugueses disparou para uma média entre 14% e 20% em 2023, segundo estimativas da consultora McKinsey partilhadas com o Observador, ao passo que o ponto médio da rentabilidade dos capitais próprios de toda a banca da zona euro ronda os 11%.

Nuno Ferreira, sócio da McKinsey com especial enfoque na área da banca, diz que 2023 foi o ano em que saiu um “bingo” ao setor. Mas este “bingo” não se obteve apenas graças ao crescimento da margem financeira. Para os resultados agora obtidos também foi decisiva a reestruturação que tinha sido feita nos anos anteriores, quando a inovação tecnológica do negócio da banca e a pressão imposta pelas taxas de juro baixas levaram os bancos a reduzir o número de trabalhadores. 

Além de estarem (agora) entre os mais rentáveis, os bancos portugueses também estão entre os mais eficientes da Europa – sendo a eficiência, aqui, medida pelo rácio entre os proveitos e os custos (custos com pessoal, grosso modo). Os cálculos da McKinsey estimam que este rácio (o cost to income) rondava em média os 38,8% no final do primeiro semestre, o que compara com 52,5% da média da zona euro – sendo que quanto mais baixo é o indicador mais eficiente é o banco.

A melhoria da eficiência foi mais rápida em Portugal do que na Europa, já que o cost to income tanto na Europa como em Portugal rondava os 60% em 2019. E neste final de ano a comparação tende a ser ainda mais favorável, já que os bancos portugueses estão a apresentar rácios cost to income melhores do que os apresentados no final do primeiro semestre (e comparáveis a nível europeu).

O Santander Portugal já anunciou que fechou o ano com um rácio de apenas 26,6% e o Millennium BCP de 29,5%. Já a Caixa Geral de Depósitos informou esta sexta-feira que o seu rácio de eficiência melhorou para 25%.

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Revolução tecnológica ou sobrecarga dos trabalhadores?

Na comparação entre o final da década passada e o final de 2023, o Santander Portugal foi o banco que fez a maior redução de pessoal, em termos percentuais: mais de 25%. Porém, questionado pelo Observador na conferência de imprensa de apresentação de resultados, Pedro Castro e Almeida, presidente do Santander, explicou que em 2019 o banco tinha um quadro de pessoal “desadequado”, depois de ter comprado o Banif em 2015 e o Banco Popular em 2017.

O banco tinha 6.188 trabalhadores no final de 2019 e no término de 2023 tinha 4.615 pessoas no quadro. Mas o banqueiro defendeu que a redução de trabalhadores “não está associada a uma otimização de custos per se” mas, sim, a uma “mudança comportamental dos clientes” em “plena revolução tecnológica“. Hoje “não precisamos de uma força de trabalho em peso nos balcões, para fazer transferências, operações, até o crédito, na sua maior parte, é feito em dois cliques”, atirou Pedro Castro e Almeida.

A Caixa Geral de Depósitos, esta sexta-feira, anunciou que saíram mais 270 pessoas do banco no ano passado. Questionado sobre a tendência de longo prazo na banca, de redução de pessoal na banca, Paulo Macedo afirmou que “haver menos pessoas não é um mal em si mesmo, o que é preciso é que terem mais qualificações, mais formação e poderem ser mais bem remuneradas”.

O presidente da Caixa acrescentou que a generalidade dos clientes faz “o dobro” das transações e operações diárias com o banco do que fazia há quatro anos. E isso acontece no contexto de um banco – a Caixa – que em 2019 tinha mais 850 pessoas a trabalhar no banco (7.100).

O Montepio, que nos últimos anos fez uma reestruturação agressiva, também diminuiu em quase 25% o número de efetivos desde 2019 – de 3.962 para 2.983 trabalhadores. A redução de trabalhadores nos outros bancos está na casa dos 10%, mas vários já tinham começado a diminuir o pessoal antes de 2019. E assim, com a subida quase “automática” do produto bancário, a base de custos mais contida funcionou como um trampolim para os lucros dos bancos – uma situação que tem levado os sindicatos a exigirem uma repartição mais justa dos proveitos.

Trabalhadores do Banco Santander Totta manifestam-se contra o processo unilateral de despedimento de 100 a 150 trabalhadores anunciado pelo banco, no Porto, 12 de maio de 2021. ESTELA SILVA/LUSA

Sindicatos denunciam ambiente de trabalho que sobrecarrega os trabalhadores que são cada vez menos na banca.

ESTELA SILVA/LUSA

“Enquanto os trabalhadores enfrentam condições precárias, os lucros extraordinários fluem para as mãos dos acionistas, muitos dos quais são estrangeiros”, consideraram vários sindicatos em comunicado conjunto emitido no mês passado. Mais Sindicato, SBN e SBC, sindicatos ligados à UGT, acrescentaram que nos bancos se vive um ambiente de trabalho que sobrecarrega os trabalhadores que são cada vez menos (devido a reduções do quadro pessoal) e têm de fazer o trabalho exigido e muitas vezes sem receberem horas extraordinárias.

CGD propõe aumentos salariais de 3,25%. Sindicato considera provocação

As sucessivas medidas de apoio decretadas pelo Governo nos últimos anos, para atenuar o peso da subida das Euribor, trouxe uma carga adicional sobre os trabalhadores. Das renegociações de crédito às bonificações da prestação, a miríade de medidas que foram postas em prática significou que largos milhares de clientes recorreram aos seus gestores de conta para saber se eram elegíveis para os vários programas de apoio público e, por outro lado, para tentar renegociar os seus créditos.

Essa carga adicional de trabalho, de análise individual, cliente a cliente, ficou nos ombros dos trabalhadores, o que pôs a nu as consequências que teve a redução de pessoal feita nos últimos anos. Equipas curtas, excesso de trabalho e salários baixos com objetivos exigentes transformaram os trabalhadores, segundo os sindicatos, em “escravos da banca“.

2023 foi “ano excecional que dificilmente se repete” em 2024

Em resposta, a banca tem proposto aumentos salariais que os sindicatos consideram insuficientes. O que não está em cima da mesa, porém, é aumentar o número de trabalhadores, desde logo porque o negócio está a encolher, diz Nuno Ferreira, da McKinsey: “Aquilo que os bancos estão a produzir em crédito à habitação não é suficiente para compensar o crédito que as pessoas estão a pagar” (normalmente ou antecipadamente).

Por outro lado, “o crédito ao consumo é muito pequeno – mesmo que cresça a dois dígitos é um volume pequeno – e o crédito a empresas é uma oportunidade que os bancos querem captar e há alguns bons momentos, mas depende muito da economia e as empresas têm outras alternativas de financiamento”, afirma o especialista da McKinsey. Os depósitos vão tornar-se cada vez mais caros para a banca e, do lado do crédito, “as taxas de juro não devem subir mais”, prevendo-se até que caiam ao longo de 2024 – o que irá penalizar os resultados dos bancos à mesma velocidade que, nos últimos anos, os ajudou.

Outro fator a considerar é que os bancos têm concedido crédito a spreads mais baixos, fruto da concorrência no setor, o que limita a sua rentabilidade futura. E vão, também, começar a sentir mais o impacto da inflação: subidas de salários, rendas e outros custos, já estão a penalizar a atividade. E deverá haver, ainda, uma deterioração do chamado “custo do risco”, isto é, embora Nuno Ferreira não antecipe uma “enxurrada” de crédito malparado, é provável que haja algum aumento do crédito malparado, que obrigará a mais provisões (que subtraem diretamente ao resultado de exploração).

“Todos estes fatores somados, e como há um volume menor, não é expectável que os lucros vão por aí abaixo mas é pouco expectável que subam e tenho as minhas dúvidas que se possam manter”, diz Nuno Ferreira. “Com o volume de negócio a cair, é fácil perceber o que vai acontecer: 2023 foi um caso excecional que a banca dificilmente repete em 2024“.

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