O Novo Banco fechou o ano de 2023 com um lucro de 743,1 milhões de euros, um aumento de 33% em relação ao ano anterior. Foi decisiva, para este resultado, a quase duplicação da margem financeira, isto é, a diferença entre o que o banco pagou pelos depósitos (e outras formas de financiamento) e, por outro lado, os juros de crédito que cobrou. O banco já está “operacionalmente pronto” para uma cotação do capital em bolsa, mas quer garantir um encerramento do acordo de capital contingente antes disso.

A margem financeira da instituição liderada por Mark Bourke atingiu os 1.142 milhões (quase o dobro  dos 625,5 milhões de 2022), superando as expetativas do próprio banco graças ao “ambiente favorável das taxas de juro e da gestão criteriosa das taxas de juro dos ativos e do custo de financiamento”.

Este efeito permitiu compensar o aumento de 7% dos custos operacionais, para 479,2 milhões, e também o facto de o banco ter feito mais provisões e imparidades: mais 56% para 173,8 milhões de euros. As comissões cobradas no exercício somaram 296,1 milhões de euros, um aumento de 0,9% que foi “condicionado pelo impacto das alterações legislativas” que existiram no comissionamento bancário.

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Cotação em bolsa pode chegar mais cedo que o previsto

O banco detido maioritariamente pelo fundo Lone Star, que se admite poder cotar parte do capital em bolsa este ano, não agendou conferência de imprensa para apresentar aos jornalistas os seus resultados anuais. Mas numa teleconferência com analistas, à hora de almoço desta sexta-feira, o Novo Banco adiantou que está “operacionalmente pronto” para avançar para uma venda de parte do capital em bolsa, que essa operação até pode acontecer mais cedo do que o previsto — entre o final do primeiro e o segundo semestre.

Neste momento, a perceção que o banco tem, com base nas cotações bolsistas dos bancos europeus, é que o mercado não está muito recetivo para uma cotação do Novo Banco (a um valor que a entidade considere vantajoso). Porém, Mark Bourke garantiu, mais cedo do que o previsto, que já está “operacionalmente pronto” para que essa operação possa avançar caso os mercados “abram”.

Para que isso aconteça, porém, Bourke reconheceu que seria importante chegar (antes) a um acordo para o encerramento do acordo que criou o mecanismo de capital contingente, ao abrigo do qual o banco recebeu mais de 3 mil milhões de euros em injeções de capital público nos últimos anos, desde a venda ao fundo Lone Star.

Esse acordo tem uma duração até final de 2025 mas pode ser interrompido por acordo entre as partes (o Lone Star e o Fundo de Resolução), o que faria com que o banco deixasse de estar condicionado no pagamento de dividendos acionistas, o que também ajudaria na recetividade do mercado a uma cotação em bolsa do banco.

O facto de o banco ter passado a contar com um rating de “investimento de qualidade”, atribuído pela Fitch na quinta-feira, é mais um fator que pode acelerar a cotação de parte do capital do Novo Banco na bolsa de Lisboa.

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Na teleconferência com analistas, o Novo Banco acrescenta que está a apontar para que no ano de 2024 possa lucrar mais de 650 milhões, em parte graças à margem financeira cujo efeito positivo ainda não atingiu o seu pico, ou seja, ainda há clientes cujos créditos à habitação ainda não foram revistos às taxas mais altas – esse “pico” da margem financeira deverá acontecer neste primeiro trimestre de 2024 ou no segundo trimestre.

O Novo Banco também foi notícia esta sexta-feira porque foi divulgado que o Supremo Tribunal de Justiça considerou “improcedente” o recurso apresentado pelo Novo Banco, num caso relacionado com custos que o banco quis imputar ao Fundo de Resolução durante o processo de reestruturação da instituição financeira. Na prática, esta decisão, que não é passível de recurso, significa que o Fundo de Resolução – um organismo gerido pelo Banco de Portugal, com fundos públicos – não terá de transferir para o banco os 169 milhões de euros que este lhe exigia desde 2019.

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