O Santander Portugal fechou o ano de 2023 com lucros (recorrentes) de 894,5 milhões de euros, um aumento de cerca de 57% face ao ano anterior, beneficiando tal como o restante setor de um aumento da margem financeira – basicamente, a diferença entre aquilo que o banco paga pelos depósitos (e outras fontes de financiamento) e aquilo que cobra em juros nos créditos que concedeu. No ano anterior, o banco tinha anunciado lucros de 568 milhões.

“São resultados sólidos, com uma boa rentabilidade do capital, o banco tem uma excelente qualidade de crédito e rácios de capital de 16,9%”, disse Pedro Castro e Almeida, presidente da comissão executiva do banco, em conferência de imprensa em Lisboa. A margem financeira do banco aumentou 91% para 1.491 milhões de euros.

Castro e Almeida salientou, porém, que o banco pagou 431 milhões de euros em IRC, “o que deve ser cerca de 5% da receita de IRC do país e devemos ser a empresa privada que mais impostos paga em Portugal”. Juntando ao IRC outros itens de impostos e contribuições nacionais e internacionais, o banco pagou no ano passado 583 milhões de euros, acrescentou o banqueiro.

Não nos estamos a queixar, o que queremos é que todas as empresas e todos os setores também possam contribuir para o Orçamento do Estado (como os bancos)”, atira Pedro Castro e Almeida.

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Os 894,5 milhões de euros dizem respeito aos resultados recorrentes, que excluem o impacto de mais-valias sobretudo devido a uma operação dentro do grupo. Os resultados líquidos consolidados aumentam 70% para 1.030 milhões de euros. A diferença está numa operação que foi a alienação da Santander Totta Seguros a uma holding que o grupo Santander decidiu criar para os seguros na Europa – é uma operação dentro do próprio grupo, pelo que embora tenha produzido mais-valias contabilísticas, não é incluído pelo banco nas contas recorrentes.

O banqueiro acrescentou que “estes resultados e da banca geral na Europa decorrem da atividade recorrente e da subida das taxas de juro. Foi o aumento mais rápido e mais acentuado das taxas de juro nos últimos 40 anos”. Pedro Castro e Almeida acrescentou que “praticamente não temos crédito malparado” graças à situação de “pleno emprego em toda a Europa”, que é uma característica muito particular da atual situação económica.

“Se ficamos contentes por crescer 1,5% isso é pouco ambicioso”

2023 foi um ano fora do comum mas olho para os próximos três anos e vejo um triénio mais desafiante“, diz o presidente do Santander Portugal, acrescentando que “os volumes de crédito preveem-se mais reduzidos, a economia praticamente não cresce há ano e meio [na Europa] e vamos ter uma compressão de margens bastante grande”.

Pedro Castro e Almeida acrescentou que em 2023 foram renegociados 55 mil créditos à habitação, maioritariamente levando a reduções das prestações pagas pelos clientes numa altura de compressão do rendimento disponível para a maioria das pessoas. Neste número estão englobadas as situações como renegociações comerciais e alterações ao abrigo dos sucessivos decretos governamentais (7.500 nesta área). Há, também, 17 mil contratos a receber bonificação da prestação feita por transferências do Estado.

“As soluções que os bancos apresentaram aos seus clientes superaram as medidas do Governo”, afirmou Pedro Castro e Almeida, que pediu mais “ambição” nas medidas políticas que fomentem o crescimento. “Se ficamos contentes por crescer 1,5% e a Europa crescer só 1% isso é pouco ambicioso“, afirmou o banqueiro.

Castro e Almeida também foi questionado, pelos jornalistas, sobre se está interessado em comprar o Novo Banco, que também apresentou resultados anuais esta sexta-feira. O líder do Santander afiançou que, tendo em conta a dimensão do Santander em Portugal e a capacidade de crescer de forma orgânica, “essa não é uma operação que esteja no horizonte” embora o banco tenha sempre de “estar atento”. Além disso, disse não saber em que condições é que podia comprar o Novo Banco: “Se nos derem o banco nós aceitamos…”