O Banco BPI aumentou os lucros anuais em 42%, para 524 milhões, mas os resultados quase duplicaram, para 444 milhões de euros, na atividade em Portugal. A informação foi comunicada pelo banco, que é detido pelos espanhóis do Caixabank, em comunicado difundido através da CMVM esta segunda-feira. Apesar da subida das prestações, o banco salienta que ao longo de todo o ano de 2023 não houve qualquer incumprimento em contrato de crédito que tenha levado à perda da casa por parte de qualquer família.

Graças à subida das taxas de juro, a “margem financeira cresceu 72% para 943 milhões de euros, refletindo a subida das taxas de juro de mercado e o crescimento do volume de crédito”, afirma o banco, que também apresentou os lucros anuais em conferência de imprensa com João Pedro Oliveira e Costa, o presidente da comissão executiva.

“O BPI concluiu o exercício de 2023 com uma evolução muito positiva”, afirmou o banqueiro. “O banco registou um resultado de grande qualidade, com mais atividade comercial e ganhos de eficiência significativos”, acrescentou João Pedro Oliveira e Costa.

O banco melhorou para 39% o rácio de cost to income, isto é, o cálculo entre custos operacionais e proveitos que até 2020 rondava os 60%. João Pedro Oliveira e Costa considerou que esta melhoria neste importante rácio poderá não ser “sustentável” porque se prevê um “alisamento nos proveitos” nos próximos anos. E, por outro lado, “vamos continuar a investir nas pessoas”, afirmou o banqueiro, na conferência de imprensa.

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BPI executou “zero” casas com contrato de crédito em 2023

O BPI fez 3.800 renegociações de crédito em 2023, tem 5.100 clientes que recebem bonificação de juros (paga pelo Estado) e cerca de 400 fixaram a prestação, ao abrigo das medidas governamentais apresentadas nos últimos meses. Sobre outras renegociações, apenas comerciais, o banco não revela números. Mas o BPI destaca que nos últimos três anos houve 16 casas recuperadas pelo banco, executando garantias por falta de pagamento, porém em 2023 houve “zero” recuperações (num banco que tem 218 mil contratos de crédito à habitação).

Num contexto de subida rápida nas taxas de juro, João Pedro Oliveira e Costa diz que a primeira razão por que não houve execuções foi “o enorme esforço das pessoas em conseguir equilibrar os seus orçamentos“. Além disso, este resultado “tem a ver com medidas que o banco tomou muito antes de haver qualquer medida imposta pelo Estado, para que as pessoas pudessem preservar a sua casa de família”.

A carteira total de crédito a clientes aumentou 3% em termos anuais, para 30,1 mil milhões de euros. A carteira de crédito à habitação aumentou 3% em termos homólogos, para 14,6 mil milhões, apesar de a contratação de habitação ter diminuído 10% face ao ano anterior, “como consequência da menor procura de mercado“. “Ainda assim, a produção em 2023 iguala o volume registado em 2021” e, acrescenta o banco, “a taxa fixa representa 46% dos novos contratos de crédito habitação em 2023 e a taxa mista 17%”, diz o banco.

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Destacando os impostos – os regulares e os “adicionais de solidariedade” – que o banco paga, João Pedro Oliveira e Costa criticou (sem referir o nome em concreto) a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que falou nos bancos como “parasitas”. “Vamos lá subir o nível”, afirmou o presidente da comissão executiva do BPI, recusando que os bancos “mereçam castigo” por ter resultados positivos.

“Os bancos têm feito um trabalho num país que tem progredido de forma positiva e temos feito o nosso papel”, afirmou, acrescentando que “é injusto haver uma ideia de que os bancos não têm tido um contributo muito positivo para a sociedade, para as famílias e as empresas”. “Eu ter 218 mil contratos de crédito à habitação e não ter recuperado nenhuma casa mostra sensibilidade“, disse João Pedro Oliveira e Costa, acrescentando que “ter lucros não é um aspeto negativo, desde que se pague os devidos impostos e se seja transparente sobre o contributo para a sociedade”.

Na linha do que alertou Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, há outros setores com rentabilidades muito maiores – não só agora mas nos anos anteriores, o que não é o caso da banca. “Temos vários setores que apresentam de forma recorrente resultados bastante positivos e ainda bem”, afirma João Pedro Oliveira e Costa.

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O setor bancário tem indicado que os resultados de 2023 foram excecionalmente positivos e que não serão repetíveis nos próximos anos. “No nosso cenário de taxas de juro, vai haver uma redução de taxas de juro nos próximos anos e por isso terá um impacto claramente nos resultados dos bancos e irá impactar a margem financeira”, disse João Pedro Oliveira e Costa, reconhecendo que “não há espaço para crescimento das comissões” e a “margem financeira tende a diminuir, pelo que espero que haja um ajuste”.

O gestor comentou, ainda, questionado pelo Observador, a evolução dos preços das casas e mostrou acreditar que os preços não vão cair em Portugal. “Faltam-nos dezenas de milhares de casas, tivemos um crescimento da população nos últimos anos”, afirmou o gestor, garantindo não ter “qualquer dúvida de que a pressão da procura é de tal forma que se continua a ver pressão [positiva] nos preços“.

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