Artigo em atualização ao longo dia

Não há fome que não dê em fartura. O dito é velho e a falta de arruadas na campanha da CDU transforma-se, na reta final, em duas por dia. A pouco mais de 24 horas do final da campanha, Jerónimo saiu à rua no Barreiro — na despedida de Setúbal — no mesmo dia em que a CDU desce o Chiado.

Depois de uma calorosa receção na quarta-feira na Baixa da Banheira, no Barreiro houve mais gente ainda, embora com menos abraços e beijinhos. Com a estrada cortada pela polícia, o desfile fez-se sem grandes interrupções ou acenos de mão a partir das varandas. À mesa de um café alguém diz que “a esquerda está maluca”, o sotaque alentejano não engana e o homem, na casa dos 70 anos, diz que “nunca viu nada assim”. Não é claramente do Barreiro, por onde a CDU faz arruadas em todas as campanhas.

A meio do desfile, uma paragem estratégica e tradicional: moscatel e um bolinho para “adoçar”. O casal “todos os anos” (quando há campanha) faz questão de presentear o secretário-geral do PCP e restante comitiva com a oferta.  “Aqui é obrigatório, tem que ser sempre”, dizem. São ambos comunistas, olham com otimismo para a eleição do próximo domingo. As últimas sondagens antecipam a hipótese de o PS poder formar governo apenas com o apoio de um dos partidos à esquerda, mas Jerónimo de Sousa diz que “contas apressadas geralmente dão maus resultados”. “Andamos a fazer sondagens todos os dias, um contacto direto com as pessoas e o sentimento que tenho, e o que os meus camaradas também me transmitem, nesta campanha de âmbito nacional é uma grande confiança, uma aceitação muito grande”, justificou o secretário-geral do PCP.

As intervenções do final da arruada foram frente ao mercado 1.º de maio, na rua principal do centro do Barreiro, onde também figura uma estátua de Alfredo da Silva, o histórico industrial da CUF que continua a causar algum frisson em elementos da comitiva comunista.

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Sobre se esta seria a última campanha enquanto secretário-geral do partido, Jerónimo de Sousa arredou o tema da campanha eleitoral: “A questão não está colocada, nem por mim nem pelos meus camaradas, agora é andar para a frente”, rematou. Jerónimo tem vincado várias vezes que esta é uma “batalha difícil e importante”, mas completa dizendo que “ao longo de quase 100 anos de partido nunca houve uma batalha fácil”. A opção por deixar para os últimos dias de campanha é estratégica e quer chegar aos  mais resistentes e indecisos. “Este esforço final é muito dirigido a esses eleitores que ainda hesitam, ainda não perceberam a importância para as suas vidas destas eleições e do seu próprio resultado”, notou o secretário-geral.

No Chiado, Jerónimo motivado: “Eles não sabem que aquilo que nos dá força é esta participação”

A arruada do Chiado começou com um momento confrangedor. Uma mulher ajoelhou-se frente a Jerónimo de Sousa e enquanto o secretário-geral, manifestamente embaraçado, tentava levantá-la, a mulher ainda conseguiu beijar-lhe aos mãos. O objetivo? Agradecer a devolução do corte que tinha sofrido na pensão. A intenção até podia ser boa, mas a concretização ficou aquém. Acompanhado por uma comitiva de candidatos pelo círculo de Lisboa e também pelo eurodeputado João Ferreira — que há poucos meses fez o mesmo percurso na campanha das europeias —, Jerónimo de Sousa lá ultrapassou o incidente e foi sorrindo aos muitos turistas que se surpreendiam com a ação.

Numa tarde de sol e ainda à hora em que a maior parte dos portugueses trabalha — a arruada começou cerca das 17h30 — restavam os apoiantes da CDU, que caminhavam atrás de Jerónimo de Sousa, organizados e adornados com balões, bandeiras e tarjas, e alguns (poucos) portugueses para apoiar a caravana comunista.

Mantendo a tradicional descida num formato mais fechado, contactando pouco com as pessoas que paravam e olhavam dos passeios, a comitiva fez algumas paragens para organizar as tropas — sem que nada acontecesse nesses momentos — até chegar ao final da rua do Carmo. E os comunistas foram suficientes para encher a rua e deixar Jerónimo animado para responder aos mais críticos. “Se dizem que estamos cansados, vou ali e já venho”, disse no início da intervenção para depois completar: “aquilo que nos dá força é esta motivação”.

O secretário-geral recordou o “voto honrado” de todos os que optaram pela CDU em 2015 e a “batalha importantíssima” que ainda há pela frente. Jerónimo diz que não o preocupa “que o PS capitalize” o resultado do trabalho nos últimos anos porque o trabalho significou “reposição de rendimentos, passes sociais e feriados” — por exemplo—, mas o que importa mesmo à coligação é, recordou, “estar do lado dos trabalhadores e reformados”.

À esquerda do palco alguém pedia: d. Lúcia, ligue lá para o meu marido para saber onde é que ele está! Vi-o ali para o meio há pouco, agora não sei. A família participou em bloco na arruada desta tarde “como sempre”, são habitués das ações do partido. Enquanto o secretário-geral ia falando da necessidade de valorizar os rendimentos dos portugueses, os apoiantes aplaudiam, deixando os apupos mais afinados para as consequências do governo PSD/CDS.

A campanha pode estar a entrar nas últimas 24 horas, mas ainda há muito trabalho pela frente e “amanhã também é dia”. Dia para conseguir convencer quem diz que “nunca votou na CDU” porque tem “receio”, porque a CDU precisa de sair reforçada das eleições. Serão 24 horas finais para “conquistar mais votos, esclarecer, informar e mobilizar”.