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Depois de ter seguido os desenvolvimentos sobre o furacão Lorenzo na Proteção Civil, em Carnaxide, de manhã, António Costa voltou à sua própria campanha com um esticão pelo norte do país. Foi a Coimbra para uma arruada e seguiu para uma visita à obra da nova ala pediátrica do hospital São João, no Porto. É a versão do candidato na estrada a apresentar obra (polémica) lançada pelo primeiro-ministro de quem ainda traz o casaco vestido. Esteve acompanhado pela ministra da Saúde, candidata por Coimbra, e na baixa da cidade distribuíram rosas, contornaram críticas e seguiram para a obra, cujos estaleiros foram montados apenas esta terça-feira.
Em declarações aos jornalistas, o candidato António Costa falou mesmo por várias vezes do seu Executivo: “Felizmente não chegamos ao fim deste Governo sem que o que esteve parado tanto tempo esteja em ação”. E, durante a visita à obra que ainda não tem mais do que taipais e um plano com o projeto das novas instalações, ainda frisou que este foi “um problema resolvido pelo Governo. É isso que compete aos governos”. Quando a comitiva chegou, os trabalhadores da obra estavam a montar os taipais do estaleiro, como registou o Observador.
Quando questionado pela conveniência da instalação do estaleiro de obra no dia imediatamente anterior à sua visita, o socialista respondeu que “teria sido muito mais conveniente já ter sido possível inaugurar, mas infelizmente não tinha projeto feito, foi necessário fazer e rever o projeto, negociar com empreiteiros, encontrar uma solução financeira e, felizmente a obra está a andar”. Logo de seguida referiu mesmo que já no dia anterior tinha feito uma visita ao IP3, em Viseu, “uma obra reclamada há muitos anos e agora finalmente a andar”.
A empreitada da obra da ala pediátrica do hospital de São João, no Porto, foi antecipada e, assim, já pôde ser visitada pelo candidato em campanha. Esta manhã, a agenda de Costa — libertada para que o socialista pudesse acompanhar a situação do furação dos Açores — foi novamente preenchida com iniciativas de campanha por Coimbra, Porto e, à noite, Viseu. São 300 km de voltas, tudo para que o candidato pudesse visitar uma obra em que o Governo foi amplamente criticado pela oposição, depois de em abril de 2018 a associação de pais das crianças internadas no São João terem denunciado as más condições do Hospital, com crianças internadas em contentores e a fazerem tratamentos nos corredores, por causa de obras que vinham sendo interrompidas desde 2015 — e estavam prometidas há dez anos.
O contrato de construção envolve um investimento de 27 milhões de euros, foi assinado em agosto passado precisamente por Marta Temido, a ministra da Saúde que o acompanhou na ação de campanha antes dessa, como cabeça de lista pelo distrito de Coimbra. Na Rua Sofia, na baixa, a candidata seguiu sempre ao lado do líder socialista, distribuindo rosas vermelhas e sempre a zelar pela saúde de quem as recebia: “Cuidado com os espinhos”. Nesta caravana tem havido alguns, que chegam de fora. A acusação de Tancos foi um deles mas agora também começam a picar as sondagens, que mostram o PSD a aproximar-se.
Ao Parlamento o que é do Parlamento. E o “claro reforço” que é fasquia para domingo
Ao primeiro tema Costa já respondeu até com recurso ao furacão dos Açores, que seria “o único tema fora da campanha” a interessar-lhe, os outros eram de outras esferas: a comissão permanente era tema para o Parlamento — e voltou a afirmar nesta arruada que esta é “uma matéria lateral”, que não crê que “essa seja uma prioridade dos portugueses e seguramente não está nas minhas; a “geringonça” ter voltado a funcionar nesta votação nem sequer é tema porque “a geringonça funcionou sempre desde o primeiro dia”; Tancos era tema para a Justiça, os ministros de Rio eram tema para o social-democrata. E as sondagens, disse Costa a meio da arruada em Coimbra, são tema para quem quiser, para ele é que não. Recusa-se a valorizá-las e diz apenas esperar “que o PS tenha um resultado que dê um claro reforço e que permita dar força para mais quatro anos de estabilidade política”.
É a única fasquia que coloca: “Claro reforço”. O resultado que teve em 2015 (32,3%, 86 deputados) foi o segundo mais baixo do partido desde o pós-pântano de António Guterres, o pior foi aquele em que José Sócrates esteve em campanha com a troika a entrar no país (2011).
À chegada a Coimbra, o socialista tinha à espera uma pequena manifestação (não eram muito mais de uma dezena) de motoristas dos serviços municipalizados dos transportes urbanos da cidade, que a JS tratou de esconder atrás de uma barreira que os jotas fizeram. Reclamavam a mudança e categoria nas carreiras (a mudança de carreira para a categoria 1 foi feita noutra era socialista, a de Sócrates), para que conseguisse um salário mais elevado numa profissão que consideram de “desgaste rápido”.
Não conseguiram falar com o líder socialista, dizem que não os deixaram chegar lá. A visita à baixa de Coimbra já tinha estado prevista (foi marcada, desmarcada e voltada a marcar), mas acabou por ser adiada devido à agenda de Costa como primeiro-ministro. Foi marcada à última hora e não teve uma participação muito efusiva.
Na arruada entrou na Papelaria Cristal, onde o proprietário José Reis, garante que Costa é visita habitual, “mesmo quando não está em campanha”. O socialista esteve muito tempo sentando num pequeno banco junto a um rapaz com paralisia cerebral, da Associação de Paralisia da Cidade de Coimbra” que lhe fez um pequeno jogo com um “elixir do faz de conta” que, segundo dizia, “libertava a curiosidade”.
Pela rua, o socialista ouviu sobretudo queixas na área da saúde. Tinha ao seu lado a figura certa para ir tomando nota, coisa que Marta Temido fez quando Luísa Vivas se queixou da doença crónica que tem, fibromialgia, e do escasso apoio do Estado em tudo o que sejam tratamentos complementares. Quando se encontrou com os dois candidatos à porta de uma loja, Luísa pediu-lhe que não se esquecessem destes doentes e fica à espera para ver o que ambos disseram ter registado.
Além da cabeça de lista, Costa teve sempre a acompanhá-lo líder da distrital Pedro Coimbra e, claro, o autarca socialista (e também da Associação Nacional de Municípios) Manuel Machado. Logo no início do percurso, entre apertões, uma senhora tentava chegar ao epicentro da arruada e choca de frente com Machado: “Quero dar um beijinho, mas não é a si, é a ele”.