Foram nove horas de avanços, recuos e uma reviravolta em Gaza. Quando a meio do dia surgiam notícias de que as negociações para uma troca de prisioneiros entre Telavive e o Hamas estavam numa “fase avançada” e que as conversações tinham como objetivo final o cessar-fogo, nada fazia prever que, passado poucas horas, Israel estaria a anunciar a expansão de operações e a aumentar a dimensão das incursões em Gaza. Até agora, a confirmação da tão proclamada incursão total não aconteceu e permanecem dúvidas sobre se está ou não a em curso.
Neste texto recordamos os momentos mais relevantes das últimas horas do conflito entre Israel e o Hamas (as horas indicadas são as horas de Portugal continental, menos duas do que o fuso horário local).
14h19
Israel e Hamas estarão em conversações, mediadas pelo Qatar, com vista a um cessar-fogo e a um acordo que envolverá troca de reféns. A notícia é dada pela Al-Jazeera, que cita fontes próximas das negociações que garantem que o processo se encontrava numa “fase avançada”. A esta hora, as negociações ainda prosseguem, mas são vistas como um possível ponto de viragem num conflito que dura há 20 dias.
16h30
A CNN avança com a mesma narrativa: Telavive e Hamas estão a fazer “progressos significativos” numa negociação que deverá levar à libertação de reféns. Apesar dos “avanços” e da “esperança” de que as conversações cheguem a bom porto, a fonte citada pela cadeia de televisão dá conta de que ainda há “questões por resolver”. A esta hora não há qualquer indicação que aponte para um travão ou ponto final nas negociações.
16h50
As sirenes soam na Faixa de Gaza. Há nuvens de fumo e bolas de fogo visíveis no céu. Estão em curso violentos bombardeamentos na zona norte do território palestiniano reportados por vários meios de comunicação no local. Ao mesmo tempo que há vários ataques aéreos lançados por Israel, Linda Thomas-Greenfield, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, fala na Assembleia-Geral para sublinhar que “não há justificação para o terror” do Hamas, mas que “as vidas dos palestinianos têm que ser protegidas”. Linda Thomas-Greenfield assegura que os EUA deixaram claro, tanto em conversas públicas como privadas, que Israel tem o direito de “defender o seu povo contra o grupo terrorista”, ainda que tenha de o fazer “ao abrigo das regras de guerra”.
17h49
Não há redes de comunicação na Faixa de Gaza devido aos bombardeamentos israelitas. O Hamas revela que Israel “cortou as comunicações e a maior parte da Internet” em todo território. E também a organização humanitária não governamental Crescente Vermelho revela que perdeu o contacto com as equipas em Gaza e está “profundamente preocupada com a capacidade de as equipas continuarem a prestar serviços de emergência”. Sem comunicações, os palestinianos não têm a possibilidade de contactar o número de emergência.
18h07
A “fase avançada” das negociações que foi noticiada há poucas horas volta a ser tema, agora com mais um recuo. O Times of Israel noticia que Israel está crente de que o Hamas tem estado a prolongar as negociações sobre reféns para atrasar a incursão terrestre em Gaza. É citada uma fonte israelita que explica que, apesar das fugas de informação nos últimos dias, não existe qualquer avanço iminente — esta informação surge já depois de Daniel Hagari, porta-voz das Forças de Defesa de Israel, ter recusado a existência de negociações indiretas com o Hamas e sugerido que não seja dada atenção a “rumores”.
18h22
As Forças de Defesa de Israel anunciam que estão a expandir as operações em Gaza e a trabalhar em todas as dimensões, nomeadamente num ataque que atinge alvos subterrâneos de forma “muito significativa”. O porta-voz do exército Daniel Hagari anuncia, em conferência de imprensa, que as forças israelitas estão “a expandir as operações terrestres” esta sexta-feira e que as Forças de Defesa de Israel estão a “operar em todas as dimensões”, apelando aos civis que fujam para sul. É o momento do dia em que se antecipa que a invasão total a Gaza vai acontecer.
18h30
Nas últimas horas, vários jornalistas reportam o ambiente que se vive na fronteira entre Israel e Gaza. Nic Robertson, da CNN, revela que está a haver uma série de explosões neste local e fala numa atividade militar “incomum, intensa e sustentada”. Em causa estão “disparos de tanques” confirmados por repórteres no local, mas também “muita artilharia” a dirigir-se a Gaza.
18h32
Já muito se disse sobre as alegadas negociações entre Telavive e Hamas e é a vez dos EUA que, através de duas fontes citadas pela CNN, insistem que as conversações devem continuar. A pressão é para que as negociações continuem, com uma fonte a sublinhar que, nesta fase, não há nenhum cenário que permita pôr fim a uma tentativa de acordo quando há reféns envolvidos.
19h24
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pronuncia-se sobre a situação em Gaza e pede a todas as partes que “assumam as suas responsabilidades”. “Este é um momento da verdade. A História irá julgar-nos a todos”, disse, acrescentando que o sistema de ajuda humanitária em Gaza está à beira de um “colapso total de consequências inimagináveis”.
19h45
O coordenador de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirma que os Estados Unidos são a favor de uma pausa humanitária, para que possa entrar na Faixa de Gaza ajuda humanitária, incluindo combustível.
19h53
O governo norte-americano pressiona Israel para que abandone a ideia de uma invasão terrestre à Faixa de Gaza e a substitua por uma “campanha militar cirúrgica”. A informação é confirmada ao Washington Post por cinco fontes próximas do executivo de Joe Biden e a proposta de Washington é que sejam combinados ataques aéreos com raides das operações especiais a alvos específicos do Hamas.
20h04
Na sequência de todas as informações das últimas horas, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, afirma na rede social X (antigo Twitter) que “Israel acabou de lançar uma guerra terrestre em Gaza”. É o primeiro (e único) chefe de Estado a assumir a guerra, sendo um dos vizinhos de Israel. Acrescenta também: “O resultado será uma catástrofe humanitária de proporções épicas.”
20h10
A Casa Branca não confirma se Israel avisou ou não o governo norte-americano a propósito da expansão das operações terrestres em Gaza. É o coordenador de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, quem o assegura: “Não vou entrar em detalhes sobre as conversações que temos com os nossos homólogos israelitas e o fluxo de informação entre nós.”
20h31
Um conselheiro do primeiro-ministro israelita confirma que há operações militares em Gaza “a decorrer” e garante que o objetivo é “destruir” o Hamas. Mark Regev, em entrevista à Fox News, explica que está a haver um “aumento de pressão” sob o grupo terrorista Hamas e que “as operações militares estão a decorrer”. Trata-se, realça, de uma “vingança” contra o “desprezível grupo terrorista”. “O Hamas vai sentir a nossa fúria esta noite.”
20h54
A reação do Hamas surge no Telegram através de um membro da liderança do grupo islâmico palestiniano que anuncia que está “pronto” para uma invasão terrestre das Forças Armadas de Israel, segundo o The Telegraph. “Se Netanyahu decidir entrar em Gaza esta noite, a resistência está pronta”, afirma Ezzat al-Rishaq, que deixa um recado: “Os restos mortais dos seus soldados serão engolidos pela terra de Gaza.”
21h08
120 votos a favor. É este o número que sai da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), esta sexta-feira, e que dá a vitória à resolução que apela a uma “trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada” em Gaza e à rescisão da ordem de Israel para deslocação da população para o sul.
21h22
Hamas confirma que está a enfrentar uma incursão terrestre de tropas israelitas no norte da Faixa de Gaza, nomeadamente em Beit Hanoun e em Bureij. Segundo um porta-voz do grupo islâmico, estão em causa “combates violentes no terreno”.
23h33
O correspondente da Al-Jazeera em Gaza, Safwat Kahlout, diz que os ataques de artilharia de Israel se voltaram a intensificar nos últimos minutos. “Estou no terraço do meu prédio e consigo ver os disparos de artilharia israelita a rebentarem ao longo da fronteira”, afirma. “Recebemos uma mensagem das brigadas Al-Qasam a dizer que há combates a decorrer em três locais diferentes.”
23h37
O porta-voz do Hamas Osama Hamdan afirma à Al Jazeera que, neste momento, não há quaisquer negociações a decorrer sobre a possibilidade de libertar reféns. “Houve conversações e esforços políticos para atingir esse fim”, reconhece, mas neste momento “não há negociações”, tendo em conta o atual ataque a decorrer em Gaza, afirmou.