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Depois do dinheiro, a comida?

Supermercados e restaurantes começam a ter dificuldades com os fornecedores. Uns exigem dinheiro vivo, outros adiantado para meses. Entretanto alguns produtos já escasseiam.

‘Sim’ ou ‘Não’, ou em grego, ‘Nai’ ou ‘Oxi’. O referendo do próximo domingo domina todas as conversas, as filas para as caixas de levantamento automático e as praças de Atenas cheias de manifestantes, dominam as notícias. Uns a favor, outros contra e ainda há quem seja contra ambos. Mas outro problema pode estar a emergir: e se faltar comida e outros bens essenciais?

À medida que o tempo passa e sem novidades quanto a um acordo, surgem notícias de algumas prateleiras de supermercados vazias na capital da Grécia e episódios esporádicos de distúrbios.

Mas por detrás de toda a política e do impacto dos controlos de capitais nas carteiras dos trabalhadores gregos, está a surgir um novo problema. Alguns bens essenciais já começam a escassear, outros poderão estar para breve.

Em conversa com o Observador, um empresário de uma grande cadeia de distribuição, que pediu anonimato devido à volatilidade da situação política, explicou que nos supermercados do grupo já começam a surgir problemas em alguns produtos.

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“Estamos a ter problemas com os fornecedores, especialmente os externos. Muitos dizem-nos que só aceitam pagamentos em dinheiro vivo, especialmente os mais pequenos e locais. Os fornecedores externos estão a fazer bullying. Estão a exigir-nos que paguemos adiantado por vários meses, algo que nunca fazemos. Para já, conseguimos evitar. Temos sempre dois ou três fornecedores diferentes”, explicou um dos empresários.

O responsável explica que os maiores problemas devem-se à maioria dos produtos serem importados. As empresas fora da Grécia estão nervosas e estão reduzir a sua exposição ou a exigir salvaguardas antes.

“Começamos a notar problemas no fornecimento de produtos como arroz, lentilhas e especialmente comida para bebés. A maior parte dos produtos que temos nos supermercados são importados. Em breve vamos ter certamente problemas com outros, como a carne e até mesmo o azeite”, explicou ainda.

Georgious, dono de um restaurante no centro de Atenas, confirmou ao Observador casos semelhantes, embora numa escala mais pequena. Alguns fornecedores de comida – especialmente carne e legumes – estão a exigir os pagamentos em dinheiro vivo. Alguns ainda conseguem ser convencidos, mas há quem não queira arriscar. Com a situação dos bancos, há quem tenha receio de não ver o seu dinheiro de volta.

“Eu percebo porque fazem isso, mas se não venderem também não vão conseguir dinheiro. Temos de continuar todos”, diz Georgious.

Planos de contingência recuperados

O problema não é de agora. Em 2012, antes da restruturação da dívida grega, o grupo já tinha planos de contingência. Ainda assim, algumas lojas foram incendiadas durante confrontos na rua entre manifestantes e polícia. Algumas tiveram de ser encerradas temporariamente.

A situação agora é mais grave, diz o empresário. Com os controlos de capitais impostos, a primeira medida, já tomada e aplicada, é começar a pagar aos trabalhadores em dinheiro vivo, ainda que parcialmente.

“Não podemos pagar tudo, mas uma parte conseguimos através das receitas dos negócios de fora. Temos dinheiro fora do banco já a pensar em problemas com os bancos. Todos os meses deixamos algum de lado. Durante alguns meses devemos conseguir continuar a pagar em dinheiro uma parte dos ordenados”, explica.

Mas o grupo tem outros planos. De acordo com o responsável, há vários cenários pensados (“vão do cenário mau, ao péssimo. Em todos os cenários esperamos problemas no fornecimento de alguns produtos”). Nestes cenários incluem-se o encerramento temporário de supermercados e o reforço de segurança em algumas lojas, podendo eventualmente chegar a lay-off ou despedimentos. “Não queremos que chegue a isso, mas muito tempo nesta situação não nos dará grandes hipóteses”, diz.

Um outro empresário, de uma empresa do setor tecnológico, explica que não tem problemas deste tipo porque os produtos que vendem dependem essencialmente de mão-de-obra (software). Com uma grande presença no estrangeiro, a empresa emprega centenas de trabalhadores em Atenas.

Para esses, a empresa já tem pensados planos de contingência que devem avançar já na próxima semana. Não podendo pagar ordenados em dinheiro vivo, a empresa está a pensar em apoiar os trabalhadores com dinheiro em caso de necessidade (adiantamentos, alguns em dinheiro vivo consoante as necessidades), medicamentos, transportes e até comida. Caridade? “Não. Nós só funcionamos à base da nossa mão-de-obra, que são essencialmente jovens, sem poupanças, numa altura em que é difícil para os pais apoiarem. Se não os ajudarmos, a empresa não produz e não vende. Ficamos todos mal”, explica.

A empresa de software ganha grande parte das suas receitas fora do país, e por isso não antecipa problemas de maior com a crise interna no que diz respeito à procura pelos seus produtos, mas teme pelos seus trabalhadores.

Controlos de capitais trazem mais constrangimentos

As filas nos multibancos são a parte mais visível dos problemas dos controlos de capitais. Pensionistas a tentar levantar a sua pensão, muitos gregos a tentar conseguir os seus 60 euros diários, desesperam nas filas de quase todas as caixas de levantamento automático (ATM), conhecidas vulgarmente em Portugal por caixas multibanco (que é uma marca portuguesa). Mas os problemas não se esgotam aqui.

No caso das empresas, os pagamentos avultados aos fornecedores externos têm de ser aprovados por um comité especial, que demora pelo menos um dia a decidir sobre o assunto. Durante esse tempo, ambas as empresas revelam um problema em comum: os trabalhadores que saem da Grécia em serviço têm problemas com pagamentos.

Os gregos esperam para conseguir levantar os seus 60 euros diários

LOUISA GOULIAMAKI/AFP/Getty Images

Os cartões gregos não podem ser usados para fazer pagamentos fora e, por essa razão, alguns trabalhadores já se viram em situações complicadas. As soluções? “Falámos com o Banco da Grécia mas continuamos a ter problemas. Para já, passámos a usar cartões de contas que temos em bancos no Reino Unido”, diz o empresário da empresa de software.

Já o retalhista, usa trabalhadores estrangeiros como ajuda: ”Quando um trabalhador nosso vai fazer uma visita com um cliente, ou ter uma reunião fora, um dos nossos colaboradores no estrangeiro vai ter com ele e dá-lhe dinheiro. No final, ele manda-nos o valor e fazemos uma transferência para a sua conta. Houve alguns trabalhadores que avançaram com o seu próprio dinheiro, mas com os controlos fica difícil. Para já, vamos resolvendo desta forma”.

Numa coisa estão todos de acordo. A situação não pode continuar muito mais tempo. Seja qual for o resultado do referendo, as coisas ainda vão piorar antes de melhorar, mesmo com o melhor dos cenários em cima da mesa.

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