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Enquanto os três operadores principais se queixam sobre a dimensão do mercado, o leilão do 5G abriu a porta a mais uma empresa de telecomunicações -- a Digi
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Enquanto os três operadores principais se queixam sobre a dimensão do mercado, o leilão do 5G abriu a porta a mais uma empresa de telecomunicações -- a Digi

Getty Images/iStockphoto

Enquanto os três operadores principais se queixam sobre a dimensão do mercado, o leilão do 5G abriu a porta a mais uma empresa de telecomunicações -- a Digi

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Digi vem aí, só não se sabe quando. O mercado de telecom já mexe com a perspetiva dos preços “competitivos” vistos em Espanha?

Os três maiores operadores optam pelo silêncio quando o tema é a chegada da Digi a Portugal. Mas já se veem movimentações. Os contactos com clientes estão a ser reforçados e há novas ofertas.

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A entrada de mais um concorrente no setor das telecomunicações em Portugal ficou cimentada com o leilão do 5G. De forma discreta, a romena Digi tem estado a preparar a chegada ao país mas, para já, não divulga a data para o lançamento dos serviços, ainda que o jornal Eco tenha avançado, em maio do ano passado, que tal poderia acontecer no início deste ano. A Digi vai ter serviços ligados à rede móvel e à fibra ótica.

Na antecipação desta entrada, o mercado de telecomunicações já começa a movimentar-se, quer com outros novos operadores – como é o caso do operador regional Ligat, que disponibiliza serviços de internet sem fidelização –, quer com ofertas das empresas há muitos anos no mercado — foi o que fez a Vodafone, com o lançamento da oferta designada Amigo, focada nos acessos de internet e na rede móvel.

Não se conhecendo a estratégia da Digi para Portugal olha-se para o que fez em Espanha, onde se lançou com preços mais baixos e conquistou uma fatia do mercado. Segundo dados da empresa, tem 1,1 milhões de assinantes de serviços fixos e 3,8 milhões de assinantes de serviços móveis no país vizinho.

Os três principais operadores — Meo, Nos e Vodafone — optam por não tecer comentários sobre a nova rival. Porém, a Deco, associação de defesa do consumidor, relata que, ao “normal” movimento de contacto de clientes nesta época do ano, já é percetível “um aumento” de contactos, possivelmente a tentar antecipar a chegada da Digi. “Deve haver alguma preocupação no sentido de garantir que os clientes — que terminaram a fidelização ou que estão prestes a terminá-la — são refidelizados antes que a Digi entre no mercado”, admite Luís Pisco, jurista da Deco. Habituado a acompanhar o mercado das telecomunicações em Portugal, acredita que a chegada da Digi pode “abanar as águas e tornar o mercado português mais competitivo”. 

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Deco relata contactos a clientes para negociar contratos… e reforçar vínculos

Há vários relatos de clientes dos três grandes operadores que estão a ser contactados para renegociar condições, renovando o tempo de fidelização. Ao Observador nenhuma das empresas quis comentar esta abordagem. A Deco, no entanto, reconhecendo que esta é uma prática que se tornou “normal” nesta época do ano admite que neste momento pode estar a haver um reforço destas ações comerciais.

Meo, NOS e Vodafone Portugal aumentam preços de serviços em 4,3% em fevereiro

Luís Pisco nota que se tornou habitual “os operadores contactarem os clientes a dizer que vão ter um aumento [nos preços]”, mas sugerem a subscrição de determinado serviço ou a atualização ao contrato para “manter o preço ou ter um qualquer benefício que os vai fidelizar outra vez, por mais um período de 24 meses”, contextualiza. Os três principais operadores anunciaram aumentos de preços de 4,3%, que vão vigorar a partir de fevereiro.

O jurista da Deco admite que, “eventualmente este ano”, se possa estar “também a assistir, já a prever a entrada da Digi no mercado, a um aumento deste tipo de práticas por parte dos operadores, no sentido de tentarem apanhar uma franja de clientes que estão a terminar a fidelização ou que já não têm fidelização”. Luís Pisco defende que o tempo de fidelização deveria ser reduzido em Portugal, argumentando que restringe a mobilidade dos clientes entre empresas – algo que tem sido defendido pela Anacom, que sugeriu ao Governo uma redução do período máximo de fidelização de 24 para 6 meses. Luís Pisco fala mesmo numa “prisão” com a fidelização, devido aos “valores quase proibitivos a pagar quando se pretende mudar de comercializador”.

Anacom propõe ao Governo redução do prazo de fidelização para 6 meses. É “urgente” adotar medidas para proteger consumidores, diz regulador

Com este cenário e com a possibilidade de a “Digi abanar as águas e tornar o mercado português mais competitivo”, principalmente se trouxer valores semelhantes aos de Espanha, o jurista da Deco admite a hipótese de “os três operadores estarem naturalmente apreensivos”. Lembra o “comportamento agressivo em Espanha” — fazendo questão de explicar que a agressividade é “no bom sentido” –, devido aos “preços muito mais convidativos e às ofertas que vão mais ao encontro dos consumidores”.

O Presidente do Conselho de Administração da Autoridade Nacional de Comunicações  (ANACOM), João Cadete de Matos, durante a conferencia de imprensa sobre os aumentos de preços dos serviços de comunicações eletrónicas anunciados para este ano, Lisboa, 01 fevereiro 2023. ANDRÉ KOSTERS/LUSA

O então líder da Anacom, João Cadete de Matos, chegou a sugerir ao Governo a redução do período máximo de fidelização nas telecomunicações

André Kosters/LUSA

Ainda assim, Luís Pisco considera que os três operadores estão numa posição “confortável”, com “ofertas que são muito similares e altamente lucrativas para os próprios”. Aliada à questão da fidelização, fica garantido “algum conforto e eventualmente tempo para lidar com o novo operador”. Acredita também que Meo, Nos e Vodafone vão esperar para ver como é que a Digi vai abordar o mercado. “Posso estar enganado, mas penso que a postura geral dos três operadores não irá mudar antes de se ver de facto o que a Digi está a fazer.”

A Nowo, outro player no mercado das telecomunicações frequentemente considerado pela Anacom como tendo as ofertas mais acessíveis, está num processo de aquisição por parte da Vodafone desde setembro de 2022. Na semana passada, foi noticiado que a Autoridade da Concorrência (AdC) rejeitou a proposta apresentada pela Vodafone para que o negócio avançasse, que envolvia um acordo com a Digi. A Vodafone Portugal disse que estava a analisar a decisão da AdC e até ao momento não foi possível perceber o que vai decidir.

As movimentações recentes no mercado das telecom: a regional Ligat e o Amigo da Vodafone

À medida que o perfil do consumidor foi sofrendo alterações, serviços como a televisão ou o telefone fixo foram perdendo terreno para o streaming e para a voz móvel. Porém, nas ofertas dos três operadores, estes serviços estão muitas vezes incluídos nos pacotes de telecomunicações, mesmo que não sejam utilizados.

Com diferentes perfis de consumidores, foram surgindo ao longo dos últimos meses novas opções. Em março de 2022 surgiu um operador regional, a Ligat, com uma oferta focada na internet fixa e televisão, sem fidelização. Luís Filipe Tavares, CEO da Ligat, explica ao Observador que “havia necessidades que não estavam a ser atendidas no mercado”, nomeadamente nas “zonas limítrofes” das grandes cidades. A empresa começou por lançar o serviço na Venda do Pinheiro, Malveira, Mafra, Ericeira, chegando mais tarde às Caldas da Rainha, Bombarral, Montijo, Alcochete e agora a Leiria.

No site, são apresentadas opções como um serviço de internet por fibra ótica a partir de 15 euros por mês, ou um serviço de televisão por 5,99 euros ao mês. Ao contrário dos grandes operadores, o serviço de televisão tem um número de canais mais limitado e acessível através de uma aplicação que pode ser instalada na smart TV ou acessível no computador, semelhante a um serviço de streaming.

Luís Filipe Tavares, que passou pela Sonaecom e pela Cabovisão, explica que a Ligat tem “investidores europeus, que estavam à procura de investir em Portugal”. Não identifica os investidores, mas explica que “são pessoas ligadas ao setor das telecom, que conhecem muito bem o setor”. Uma pesquisa no Portal da Justiça indica que a Ligat tem como acionista a Canopus Invers, de Sevilha.

A Ligat também não revela quantos clientes já tem, apontando o CEO para “milhares de clientes” a “crescer a um ritmo interessante”. A ausência de fidelização é descrita “como um ponto de honra”, mas também “de muita responsabilidade”, diz o CEO. “Quando nos portamos mal ou há falhas estamos à mercê dos nossos clientes. Se um cliente não está satisfeito, vai-se embora.” O CEO diz que a empresa estuda a expansão, mas garante que não quer abandonar o conceito de regionalidade. “Achamos que é a fórmula certa.” Luís Filipe Tavares fala em “preocupação zero”  com a chegada da Digi a Portugal, remetendo para os preços praticados pelo operador romeno em Espanha, mais elevados do que os da Ligat.

A chegada do Amigo ao mercado é mais recente. Em novembro, a Vodafone lançou esta marca focada apenas em serviços de fibra ótica e rede móvel, que inclui fidelização só para a fibra ótica, uma oferta de âmbito nacional. Fonte oficial da Vodafone Portugal explica que “o Amigo é uma marca da Vodafone com uma identidade e posicionamento próprios, que endereçam um segmento distinto: clientes que procuram um serviço simplificado e flexível, à medida das suas necessidades, a um preço competitivo e com total controlo de custos”.

No site, são apresentados três planos: um de rede móvel, a partir de 10 euros por mês e sem fidelização, fibra ótica a partir de 27 euros por mês (velocidade de 100 Mbps e com 24 meses de fidelização) ou a combinação de internet fixa de 200 Mbps e telemóvel com 6 GB de dados por 35 euros por mês, também com 24 meses de fidelização.

Segundo a Vodafone Portugal, esta marca “centra a sua experiência de adesão e de apoio ao cliente, em jornadas digitais, respondendo à crescente procura pelo canal digital por parte dos clientes”. A empresa não explicitou, no entanto, como está a ser a resposta do mercado a este novo serviço.

Em Espanha, a Vodafone já tem uma marca de fibra e rede móvel com preços mais baixos há vários anos, a Lowi. Em outubro foi anunciada a venda da operação espanhola da Vodafone à Zegona, por cinco mil milhões de euros. Embora sejam mantidas as duas marcas, a Vodafone e a Lowi, a empresa já destacou a “força” da marca low-cost, que chegou mesmo a ser descrita como um ponto relevante da estratégia da empresa no país, de acordo com o Cinco Dias. 

Vodafone vende operação em Espanha em negócio avaliado em 5 mil milhões de euros

Digi já se organiza, mas mantém silêncio sobre operação em Portugal

O que anda a Digi a fazer é, para já, uma questão que fica sem resposta. Por agora, fonte oficial da empresa em Portugal diz que “ainda não tem nada a dizer” sobre se já há uma data concreta para o arranque da operação por cá.

Portugal vai ser o quinto mercado do operador que surgiu na Roménia, em 1992, e que opera também na Hungria, Espanha e Itália. Sabe-se que vai disponibilizar rede móvel e também fibra ótica. De resto, as únicas previsões sobre preços são feitas tendo em conta a oferta no mercado espanhol, onde a combinação de fibra e rede móvel tem mensalidades a arrancar nos 20 euros (com fibra ótica de 500 Mbps na própria rede da empresa, com limitações de cobertura, é certo, e com 15 GB e chamada ilimitadas no telemóvel). É também possível contratar isoladamente o serviço de internet fixa ou de rede móvel.

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A Digi está na Roménia, Hungria, Itália e Espanha

Bloomberg via Getty Images

Mesmo sem abrir o jogo sobre o que tem planeado, já existe um site português da Digi, onde é dito que “a Digi está a chegar a Portugal”, convidando os visitantes a subscrever uma newsletter para estarem a par do serviço. É também dito que a empresa está em Portugal “para ficar” e até a contratar. São pedidos, por exemplo, supervisores de rede fixa para o Algarve ou técnicos de telecomunicações para o Algarve, Lisboa, Leiria ou Porto, por exemplo.

Há já mais de um ano, em setembro de 2022, foi anunciado que a empresa romena estabeleceu com a espanhola Cellnex uma “parceria estratégica de longo prazo” para o desenvolvimento da rede 5G em Portugal. Esta é uma das primeiras movimentações públicas da Digi no mercado português.

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A entrada da Digi é feita à boleia do leilão das frequências do 5G, que terminou em outubro de 2021, após mais de 200 dias de licitações. O regulamento do leilão estabelece um prazo máximo de três anos a contar da atribuição dos direitos de frequência para que seja iniciada a oferta dos serviços. Por essa regra, a empresa romena terá de iniciar as operações até 30 de novembro de 2023, já que será nessa data que passam três anos desde a atribuição dos direitos de utilização de frequências.

Termina leilão do 5G. Encaixe de quase 567 milhões

Operadores praticamente sem comentários sobre chegada de concorrência

Sem comentários a estas movimentações por parte dos operadores históricos —  Vodafone e Nos não fizeram declarações –, só a Meo enviou uma declaração escrita sem, no entanto, se referir ao alegado reforço de contactos com clientes. O operador refere que “tem definida uma sólida estratégia no que à marca, ao posicionamento, ao portefólio e, sobretudo, à qualidade do serviço, dizem respeito”. A empresa liderada por Ana Figueiredo diz também estar certa de que a oferta que tem “responde às necessidades de clientes residenciais e empresariais”, num “contexto de mercado e de setor que são sempre altamente competitivos”. É ainda dito que a “Meo continuará a seguir a sua estratégia, assente na inovação e na qualidade de serviço”.

Noutras ocasiões, os líderes dos três maiores operadores já teceram vários comentários sobre a vinda da Digi. A operadora romena foi uma das empresas que adquiriu faixas do espectro do 5G, assegurando a entrada no mercado móvel.

Aos olhos de João Cadete de Matos, então presidente da Anacom, o regulador das comunicações em Portugal, um crítico das posições dos três principais operadores, o leilão foi visto como um “passo histórico” para aumentar a concorrência no mercado nacional e baixar preços. Ao longo dos anos de mandato criticou várias vezes os operadores e o que considerou ser a ausência de concorrência entre as três maiores empresas.

Em jeito de despedida, presidente da Anacom não poupa operadores: “Desistiram de concorrer”

Até nas últimas intervenções na qualidade de líder do regulador das comunicações, antes de passar o testemunho a Sandra Maximiano, Cadete de Matos falou sobre a expectativa de uma baixa de preços nas telecomunicações este ano devido ao aumento da concorrência. Em novembro, no Encontro Nacional de PME do Setor das Telecomunicações, da Acist – Associação Empresarial de Comunicações de Portugal, frisou que “os preços vão baixar em Portugal” com a chegada de mais uma empresa. “Temos razões para saber que os preços vão baixar, como aconteceu em Espanha, Itália, França com o aumento da concorrência, com a existência de concorrência efetiva”. No mês seguinte, em entrevista à Lusa insistiu no tema e disse estar “absolutamente convencido” de que os operadores “vão ter que reduzir preços” caso não queiram perder clientes.

Presidente da Anacom acredita que operadoras vão reduzir preços para não perder clientes

Em mais um exemplo de choque de ideias entre regulador e regulados, os três maiores operadores criticaram a abertura de portas a rivais devido ao leilão. “O mercado não tem capacidade para tantos operadores”, disse, por exemplo, Miguel Almeida, da Nos, em março de 2022, argumentando que o “caminho adotado pelo regulador”, de aumentar a concorrência, punha em “causa a qualidade de serviços e o desenvolvimento tecnológico”.

Mais de um ano depois, em maio de 2023, no debate sobre o setor das comunicações feito no congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), a Digi voltou a ser mencionada. Os líderes da Nos e da Meo descreveram a chegada da operadora e a promessa de preços baixos como uma “ilusão de benefício para o consumidor”.

“Penso que [a Digi vai] competir pelo preço e, obviamente, para nos desafiar. É uma grande incógnita o posicionamento estratégico deste novo operador. (…) Não sabemos os objetivos, o que o traz ao mercado, qual o seu posicionamento. Já entraram vários e iremos competir pela melhor qualidade de serviço”, disse Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal, citada pelo Jornal de Negócios. No mesmo debate, onde também estavam Miguel Almeida, da Nos, e Luís Lopes, da Vodafone, foi o CEO da Nos quem teceu os comentários mais críticos, dizendo que a empresa romena ia entrar no mercado para “destruir, fazer confusão e sair”. E, embora o líder da Nos tenha admitido uma baixa de preços “no curto prazo” devido à chegada da concorrente, voltou a reiterar que “não há espaço no mercado para mais operadores”.

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