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dpa/picture alliance via Getty I

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Drogas, álcool e sexo. A "zombieland" de Frankfurt, onde Portugal vai jogar nos oitavos-de-final

Bahnhofsviertel é o bairro da estação central de Frankfurt, mas também o epicentro do consumo de drogas na região. O Observador visitou o perigoso "Red Light District" alemão, onde jogará Portugal.

Frankfurt é considerada a capital financeira da Europa. É casa do Banco Central Europeu, do Banco Federal da Alemanha e ainda recebe as sedes do Deutsche Bank, do Commerzbank e do DZ Bank, alguns dos maiores bancos alemães. É a cidade mais cara do país e estação obrigatória no setor dos transportes: tem um dos aeroportos mais movimentados do mundo e uma das maiores estações ferroviárias da Europa. Tudo isto faria esperar uma cidade europeia futurista, de vanguarda, de fato e gravata e pasta na mão. Mas baixem-se as expectativas, pois não é para aí que vai o nosso comboio. O nosso, dos portugueses.

A seleção nacional joga em Frankfurt esta segunda-feira e ainda que o estádio seja numa zona bastante isolada da cidade — a seis quilómetros do centro —, é certo que muitos adeptos portugueses chegarão através de comboio. O bairro de Bahnhofsviertel — traduzindo à letra, o “quarteirão da estação de comboios” — vai ser o primeiro cartão de visita da cidade e pode chocar quem estiver à espera de uma zona engravatada a condizer com o BCE. O problema não é de hoje: desde o início da década de 90 que algumas ruas do bairro são apelidadas de “Red Light District”, em referência à conhecida zona de prostituição de Amesterdão, nos Países Baixos. A isso juntou-se o consumo de drogas nos anos 2000, que se agravou durante e depois da pandemia. Yusuf, nome fictício de um funcionário de um hotel que fica numa das ruas mais perigosas e que não quis ser identificado, conta as mudanças: “Estou cá há 25 anos e isto nunca esteve pior. Antigamente era heroína, agora é mais crack. As pessoas sem-abrigo não foram bem acompanhadas durante a Covid e isto rebentou. Parecem loucos nas ruas”.

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O consumo de drogas à luz do dia é habitual num dos mais centrais e importantes bairros de Frankfurt

Corbis via Getty Images

O Elbe Street Hotel é dos poucos que ainda tem a porta automática aberta. Os restantes onde entrámos, para além de terem um silêncio e calma pouco habituais na receção de um hotel de uma grande cidade, tinham sempre as portas fechadas. Só ao toque de campainha as portas se abrem. É o que explica outra funcionária de um hotel de uma das mais conhecidas cadeias internacionais: “Eles não fazem mal a ninguém, mas os hóspedes sentem-se desconfortáveis. Por isso é que temos as portas fechadas, sempre ajuda”, explica. Este segundo hotel fica na avenida que liga o edifício de supervisão do Banco Central Europeu, na praça Willy-Brandt-Platz, à estação central de Frankfurt. A marca desta rua não é tanto o consumo de drogas, mas sim a visível imigração. Quase não há lojas alemãs. Mas onde está então a maioria dos consumidores e pessoas sem-abrigo? “Para isso tem de ir aqui”, aponta num mapa para a Taunusstraße. É para aqui que a autarquia de Frankfurt empurrou a maioria das pessoas viciadas em drogas. Assim que se vira a esquina, percebe-se logo o problema.

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A rua que que liga o edifício de supervisão do Banco Central Europeu, na praça Willy-Brandt-Platz, à estação central de Frankfurt, é maioritariamente dominada por lojas estrangeiras

André Maia/Observador

Em plena luz do dia, é fácil encontrar nesta rua quem consuma sem vergonha ou preconceitos. O som de vidros a partir, com a queda de garrafas vazias, foi uma banda sonora constante no caminho. A rua, essa, é fácil de descrever. É composta quase a 100% por bordéis e casas de jogo, casinos frequentados maioritariamente pelas mesmas pessoas que estão nas ruas. O Observador entrou noutro hotel mesmo na esquina da rua para saber como se mantém um negócio em tal circunstâncias. O silêncio da resposta foi esclarecedor: “Por favor, vou pedir para que saia. Não podemos falar com a comunicação social, já tentaram outras vezes”. Uma nega em sinal de ajuda, que foi replicada minutos depois. Enquanto focávamos a câmara do telemóvel para tirar uma fotografia à Taunusstraße, um jovem alemão que parecia estar, como nós, de passagem, alertou: “Não, fotos não. Se eles te veem vais ter problemas”.

Só aceitámos o convite para a saída depois de passarmos pela rua ao lado, a Niddastraße. É aqui que as pessoas se juntam para consumir de forma mais segura, com salas de “chuto” instaladas pela autarquia. “Foi a forma que a Câmara arranjou para dar um pouco de segurança a quem consome e a quem passa”, explica-nos a mesma funcionária hoteleira. A medida não foi tomada só devido ao Euro 2024, tinha surgido antes. Mas claro que houve mudanças face ao Campeonato da Europa. E para isso muito contribuiu o jornal tablóide inglês “The Sun”, que falava na “maior favela da Alemanha”. Em abril, foi manchete uma alegada “limpeza” policial feita no bairro. A seleção inglesa jogou a segunda partida da fase de grupos em Frankfurt e a UEFA sugeriu a quem tivesse bilhete que ficasse no Bahnhofsviertel. Perante a recomendação, os jornalistas ingleses seguiram para o bairro e deram de caras com uma profunda operação policial. A reportagem deixou a autarquia revoltada. Quem lá trabalha fala em excessos.

A Niddastraße, onde dezenas de pessoas se reúnem para consumir drogas. Era o que fazia quem se vê à esquerda e à direita da estrada

André Maia/Observador

“Eles diziam na reportagem que metade de todos os crimes feitos em Frankfurt acontecem aqui, mas não dizem onde foram buscar esses números. Depois falam em tiroteios. Trabalho aqui há dois anos e não ouvi um tiro. Claro que não ando nas ruas completamente confortável, mas há algum exagero”, explica o dono de um restaurante ao Observador. A reportagem do The Sun mereceu contestação do presidente da autarquia e do presidente da associação comercial de Bahnhofsviertel, que rejeitam que o bairro seja uma “zombieland”, uma “terra de zombies”. É certo que alguns números mencionados na reportagem inglesa carecem de fonte, mas as imagens publicadas coincidem com a realidade vista pelo Observador, mesmo que com algum exagero. “Eles tentaram limpar isto antes do Euro, está um bocadinho melhor”, conta o mesmo dono de um restaurante.

Pessoas em situação de sem-abrigo, bordéis, drogas e álcool em público e muitos casinos de aspeto duvidoso. Eis a rua Taunusstraße

André Maia/Observador

E excetuando curiosos, os adeptos não terão grandes problemas, a não ser que arrisquem. O interior da estação de Frankfurt é extremamente movimentada, limpa e luminosa, batendo certo com a descrição de capital dos transportes alemães. A fanzone do centro da cidade fica à direita da estação central, precisamente no sentido contrário da Taunusstraße e Niddastraße. Onze minutos e 750 metros separam os dois locais e até agora o espaço dedicado ao Euro 2024 não tem sido negligenciado, tendo estado cheio na projeção do Alemanha-Dinamarca deste sábado. Até segunda-feira, muitos portugueses vão chegar a Frankfurt e já sabem onde pôr os pés. Mas mais do que qualquer rua do centro da cidade, o melhor local é sem dúvida o Deutsche Bank Park, a consumir o melhor futebol do mundo.

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